1.10.09

O golpe e o pijama


É golpe. No início, eu não tinha dúvidas por instinto, depois veio a condenação da comunidade internacional. Mas até aí morreu Neves, a comunidade internacional demora demais nos discursos.

Porém se ainda alimentava alguma dúvida lá no meio da minha cachola destrambelhada , o artigo do Professor de direito constitucional Pedro Estevam Serrano esclareceu tudo e me cercou de certezas. Foi golpe, é golpe, será para sempre golpe e entrará para a História da América Latina como golpe de Estado, aquilo que aconteceu em Honduras. Da leitura desse artigo, publicado na Folha de São Paulo de ontem, a gente fica por dentro da carta constitucional hondurenha, onde não existe nenhuma linha que justifique, que dê uma base jurídica para essa trapalhada golpista de retirar um presidente da cama e mandá-lo de pijamas para fora do país. Na mesma Folha, Elio Gaspari aprova a atitude de Lula de aceitar Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa.
Não vamos entrar aqui na análise do presidente deposto, no fato dele usar o território “brasileiro” em solo hondurenho para fazer política com aquele chapelão folclórico. Nem das suas intenções de tentar mudar a lei que não permite reeleição em seu país - a Constituição lá deles não diz que deve-se tomar o poder na base da força em nenhuma hipótese e nem abre a possibilidade de um processo legal para a deposição do presidente no caso dele tentar fazer um plebiscito, ou coisa que o valha. Não vamos falar também da ambiguidade do governo dos EUA em relação ao caso e sua preguiça em tentar resolvê-lo. Se os EUA tivessem a intenção de dar um fim ao imbroglio , decerto ele nem teria existido - Chomsky em entevista para o site G1 mata a cobra e mostra o pau.

O que me deixa intrigado é o fato de quase todas as notícias e análises que procuram botar o fato em perspectiva utilizam a imagem do “presidente de pijamas“ ou (seria em pijamas?- não seria só pijama?).
Tudo leva a crer que um homem de pijama é um ser que está em grande desvantagem. Lembra a imagem ” trajes menores” que evoca uma certa fragilidade do ser humano. Talvez se estivesse só de cuecas a situação ficaria muito pior, se tornaria cômica. Pois, creio que devem existir presidentes que dormem de cuecas. Mas de pijama, de qualquer forma é uma situação que mostra uma certa pressa das forças depositoras nesse episódio lamentável. Uma urgência desmedida - não deixaram o homem nem botar um terno, ou um casaquinho e umas calças compridas. Deve ter saído da cama e procurado suas chinelas, ou será que foi só de meias, ou descalço? Seria cômico também se estivesse de bermudas pois aí se estabeleceria uma confusão dos diabos nas agências internacionais de notícias, pois existe um país chamado Bermudas e muita gente iria pensar que o golpe tinha sido lá e não em Honduras.
De qualquer forma, uma autoridade ser tocada pra fora de pijama é algo contraditório, se por um lado humilha o sujeito de pijama, ao mesmo tempo dá um tom sombrio de coisa feita na “calada da noite” , que mostra o caráter sujo da operação.

Mas agora a meleca está feita, o Tegucigolpe foi dado, o homem já está recomposto com roupas de vaqueiro, dormindo vestido na nossa Embaixada. Não cabe ao nosso presidente resolver esse problema. A encrenca é da América, da OEA, da ONU.
Mas se Lula quisesse resolver a querela, seria o caso de propor um jogo amistoso entre a Seleção brasileira e a hondurenha. Não fizeram um espetáculo semelhante no Haiti? Se a Seleção de Honduras perder, o Zelaya volta ao poder e promete ficar quietinho dentro do seu pijama, dormindo tranquilo na sua casa, até passar as próximas eleições. Se o selecionado canarinho perder, o Zelaya volta no mesmo avião para o Brasil e depois vai para a Venezuela onde poderia montar seu governo no exílio. (Nos anos 60 Paris comportou vários governos no exílio).
Tem gente que vai achar que não é uma solução justa, mas sabe como é que é: futebol é uma caixinha de surpresas, no entanto é uma instituição civilizada( veja ensaio de Norbert Elias e Eric Dunning), mesmo com zagueiros violentos, é muito melhor que certas “políticas” que se praticam no nosso continente.

2 comentários:

ze disse...

diante do terceiro mandato na Colômbia, Honduras está dando um bom exemplo reprimindo o segundo (lembrar da CTF) - dá para entender Goriletti (aqui ele entenda que é elogio). O sono e o sonho aparecem nos pijamas e no chapéu que cobre o sol. Tz a onda seja o corpo de sonhos mesmo. Uma herança de siestas, sestas, após os almoços.

LIBERATI disse...

Muita siesta, muita formiga trabalhando enquanto o señor presidente duerme la santa siesta. Grande chapéu esse do Zelaya. Tudo nesse caso é golpe. O do Zelata meio malandro, o do Micheletti um desacato às tradições democráticas da AL, he he
grande abraço