2.11.09

Requiescant in pace(*)


Num dia de finados de alguns anos atrás, fiz uma pesquisa sobre a morte e vi que precisava mais de uma vida para reunir todas as coisas interessantes que disseram sobre esse tema Resolvi então republicar aqui parte do que apurei, já que não tinha nada de novo para botar no blogue, pois ainda não me recuperei de uma longa viagem que explicarei futuramente.

Ramón Gómez de la Serna disse uma coisa interessante:“Ninguém sabe o que é morrer,nem os mortos”.Mas,observei que apesar disso muitos querem deixar uma mensagem para distrair os visitantes dos cemitérios.Então acabei desenterrando alguns epitáfios. (**).

Diz um adágio popular que“o epitáfio é o último cartão de visitas de um homem”. Apesar de existir também aquele antigo ditado francês ,“ser embusteiro como um epitáfio”,esse costume foi se enraizando na nossa cultura mortuária e nem sempre elogia o cadáver,ao contrário,muitas vezes ironiza os viventes e o próprio defunto.É o caso do Bispo de Langres,Louis Barbier,que no seu testamento ofereceu cem escudos para quem fizesse um epitáfio bacana.Ganhou o seguinte texto:“Aqui jaz um grande personagem/Que foi de muito ilustre linhagem/Que possuiu mil virtudes/Que jamais enganou/Que sempre foi prudente/Não vou dizer mais nada/Seria mentir muito por cem escudos”.
Alexandre o Grande recebeu um,que fez juz à sua fama:“Uma tumba agora é o bastante para quem o mundo não era suficiente”.Molière,parece que escreveu seu próprio epitáfio:“Aqui jaz o rei dos atores.Agora se faz de morto e na verdade,o faz muito bem”.No seu túmulo,Passerat adverte:“Amigos, não encham minha tumba com maus versos”.O do filósofo Diógnes é muito sarcástico:“Ao morrer joguem-me aos lobos,já estou acostumado”.
O epitáfio do poeta Antonio Espina é uma pérola de embriaguez:“Aqui jaz de boca para cima aquele que caiu de bruços muitas vezes na vida”.

Também existem epitáfios inventados,um feito pelo escritor Max Aub para a tumba de D.Juan é de morrer de rir:“Matou quem ele quis”.Falando em humoristas, Grouxo-Marx mandou escrever no seu ‘apart-mortel’:“Desculpe-me por não me levantar, madame”.
Orson Welles mesmo depois de passar desta para melhor, manteve sua genialidade.No seu túmulo está gravado:“Não é que eu tenha sido superior.Os demais é que eram inferiores”.Miguel de Unamuno,por sua vez,fez também sua última gracinha:“Só peço a Deus que tenha piedade da alma deste ateu”.Na tumba do compositor Bach está escrita uma mensagem de duplo sentido:“Daqui não me ocorre nenhuma fuga”. O escritor H.L. Mencken sugeriu um texto final que tem todo o seu humor:“Se depois que eu partir deste vale,você se lembrar de mim e pensar em agradar meu fantasma,perdoe algum pecador e pisque seu olho para uma garota feia”.


Existem os epitáfios profissionais. Por exemplo,o de Benjamin Franklin,impressor é muito criativo,diz o seguinte:“ O meu corpo,como um velho livro,sem enfeites aqui jaz.Alimento para os vermes.Porém, acredito que aparecerei,em breve,numa nova edição,corrigida e melhorada pelo Autor”.Na tumba do transformista Fregoli, em Viareggio esta escrito:“Aqui ele realizou sua última transformação”.No de um apreciador do ócio:“Aqui Fray Diego repousa.Jamais fez outra coisa”.Outros celebram a guerra conjugal.Em Guadalajara,existe o verdadeiro epitáfio da viúva alegre:“A meu marido,falecido depois de um ano de matrimônio.Sua esposa com profundo agradecimento”.Em contrapartida,em outro cemitério encontra-se a vingança de um esposo insatisfeito:“aqui jaz minha mulher,fria como sempre”.Não podemos esquecer dos tipo‘procon’:“Voltarei para me vingar dos bancos”.Em Minnesota encontra-se outro que é genial:“Falecido pela vontade de Deus e mediante a ajuda de um médico imbecil”.Dizem que num cemitério do Rio de Janeiro existe um, que brinca com o caráter bélico de seu morador:“Aqui jaz o General Ferreira. Transeunte, passe tranquilo.Está morto!”.Mas,nada se compara à sinceridade da inscrição que se encontra num cemitério da Catalunha: “Levantem-se vagabundos,a terra é para quem trabalha”.O de Allan Poe, sem brincadeira, supera todos,é a citação do famoso poema “O Corvo”.Realmente é definitivo:“Nunca mais”.


(*)”Descansem em paz”.Palavras do Ofício dos Mortos,encontradas no portal de muitos cemitérios - retirado de ”Não perca o seu latim de Paulo Rónai(Editora Nova Fronteira)(**)Fiquei sabendo que nas suas orígens,o epitáfio se constituia num privilégio da nobreza.FONTES: “Diccionario Ilustrado de la Muerte” de Robert Sabatier (Gustavo Gilli- Barcelona)www:geocities.com/soHo/studios/72581/epitafio.html-8k , http://platea.pntic.mec.es/~jescuder/epitafio.htm,
Epitaph Index(A-Z).

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