13.1.10
Dica do Gerdal: Sururu na Roda, até o carnaval, vai rosetar por sambas e marchas de Haroldo Lobo, toda quarta, no CCC
Ao lado de Braguinha, Lamartine Babo e João Roberto Kelly, o guarda municipal Haroldo Lobo, nascido na Gávea em 1910, figura como um dos quatro grandes do repertório de marchas carnavalescas, para o qual concorreu com o maior número de gravações e de sucessos - das mais de 600 músicas que lançou, quase 500 foram para o carnaval, de 1934 a 1965, ano de sua morte. Contando o mais das vezes com o apoio valioso de Milton de Oliveira, parceiro e caititu, Haroldo foi o cidadão-folia por excelência, sempre à frente do carnaval de rua e de salão do Jardim Botânico, onde morava, extraindo de uma anedota ou de um fato do cotidiano, por exemplo, a seiva com que nutria suas composições de sucesso. Nesse bairro, servia-se do Carioca, clube do qual foi presidente, como um termômetro de aceitação de seus sambas e marchas. Músicas ali lançadas informalmente com um ano de antecedência em relação ao seu registro em disco e que, no carnaval seguinte, animavam os brincantes de toda a cidade e de todo o país. Assim, por exemplo, seus amigos e os sócios do clube conheceram, em primeiro grito, "Serpentina", em 1949, que, um ano depois, se incorporaria ao nosso patrimônio cultural, cantada a plenos pulmões nos dias de Momo. Também liderou por muitos anos, desde o início da década de 40, o Bloco da Bicharada, cujos integrantes, majoritariamente ligados ao Carioca, com fantasias de animais à base de arame e papel, percorriam o bairro em desfiles memoráveis que divulgavam não só a produção de Haroldo como a de outros compositores.
Se "Índio Quer Apito", gravada pelo baiano Walter Levita, "Verão no Havaí", por Francisco Alves e Dalva de Oliveira, "A Coroa do Rei", por Dircinha Batista, e "Pescador", pelo conjunto Quatro Ases e um Curinga, são marchas que faziam de Haroldo Lobo um peixe dentro d`água no carnaval, evoluindo com invejável desenvoltura, seus sambas para o período não ficavam atrás. Simplesmente exemplares são "Juro", gravado por J. B. de Carvalho, "E o 56 Não Veio", por Deo, "Pra Seu Governo", por Gilberto Milfont, "Emília", por Vassourinha, e "Rosalina", joia redescoberta por Toquinho, conhecida primeiramente na voz de Jorge Veiga. Por meio do Caricaturista do Samba, Haroldo colheria, fora do carnaval, os frutos do sucesso de "Recado Que a Maria Mandou" e "A Mulher Que Eu Gosto", ambos os sambas em parceria com Wilson Batista, e "Amanhã Tem Baile", em disco de Vassourunha, e "Porteiro, Suba e Veja", em registro de Patrício Teixeira, mostrando, portanto, que o seu talento criativo cortejava ainda a cadência mais lenta e menos vibrante dos "hits" de "meio de ano", como se dizia.
Também as noites de Santo Antônio, São João e São Pedro não eram noites comuns para Haroldo Lobo, mas de céus inspiradores de canções. Em cada estrela dessas noites um sucesso a iluminar e animar as festas juninas e, em particular, a movimentação dos pares nas quadrilhas, com "A Sanfona do Mané", "Lá Vem a Rita", "O Sanfoneiro Só Tocava Isso", "Dia dos Namorados", "O Baile Começa às Nove" etc. À dessemelhança de outros expoentes de sua geração, como Ari Barroso e Lamartine Babo, este também um grande compositor junino, Haroldo sempre esteve à sombra de sua obra. Embora expansivo com os amigos, era um homem de trato habitualmente reservado e arredio a entrevistas. Talvez por isso seja, para muitos, aquele ilustre desconhecido de músicas tão manjadas e curtidas, tanto ao som de metais em brasa momesca quanto ao som de sanfonas invernais. Um pelé da inspiração buriladamente simples, de largo apelo popular, que viveu tão discretamente como morreu, num 20 de julho, em seu apartamento na Rua Faro, no Jardim Botânico, vítima de sorrateiro enfarte, na calada da madrugada, há quase 45 anos.
Em "Eu Quero É Rosetar" ("flyer" acima), ele é homenageado numa série de shows desenvolvida com esmero por Carlos Monte e conduzida no palco pelo excelente conjunto Sururu na Roda, liderado pela internacional Nilze Carvalho. São shows que ocorrem em janeiro e fevereiro - até o carnaval -, toda quarta, no Centro Cultural Carioca, às 21h. Arranjos a cargo do próprio Sururu, do violonista Pedrinho da Glória e de outro rapaz talentoso, o pianista e acordeonista Marcelo Caldi. Hoje é dia!
Obs.: rosetar - 1) machucar (cavalgadura) com a roseta da espora; esporear; 2) divertir-se muito, brincar, folgar, pagodear; 3) divertir-se libidinosamente. Fonte: "Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa".
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