3.1.10

Homenagem do Gerdal: Rildo Hora - o exercício da virtude no realejo, no violão, na criação, no arranjo e na produção de discos


Rebento, como o "menino passarinho" Luiz Vieira, de mesmo chão forrozeiro, o da Princesa do Agreste, Rildo Hora (foto abaixo), após uma semana de viagem de navio com os pais, chegou à antiga capital federal, ainda menino, em 1946, e criou-se, a partir daí, no subúrbio de Madureira, onde iniciou a sua proximidade com o mundo do samba, especialmente com bambas da Portela e do Império Serrano, escolas da localidade. Com apenas sete anos de idade, venceu concurso promovido, na Rádio Mauá, pela Hering, em programa do gaitista carioca Manoel Xisto - bem conhecido como Fred Williams, autor do clássico choro "Uma Farra na Churrascaria" -, o qual o convidou a participar regularmente da atração que comandava. No entanto, por cinco anos, participaria de outro programa, "Festival de Gaitas", na Rádio Nacional, e, a partir daí, o também violonista Rildo Hora - que, com as suas cordas bem dedilhadas, viajou com a meiga Elizeth por todo o país em meados da década de 60 -  vem traçando um percurso de inequívoco sucesso, espraiado em beleza e capacidade, tanto em discos solo como em discos compartilhados com músicos de refinada expressão, como o acordeonista Sivuca, a pianista Maria Teresa Madeira e o guitarrista Romero Lubambo.     


      "Procuro respeitar a soberania do samba", já afirmou Rildo - prestigiado produtor no gênero, de discos de Martinho da Vila, Beth Carvalho, Fundo de Quintal, Dudu Nobre e Zeca Pagodinho - em entrevista na qual revelou sua fidelidade à tradição nos excelentes arranjos que faz, pincelados aqui e ali por curtas inserções instrumentais meio inusitadas que, não raro, conferem algum quê jazzístico à gravação. Casado com a artista plástica Lusinete Alcântara (de quem se ouve um bonito tema,"Hora`s Blue", no elepê "Samba "Made in Brazil" - Rildo Hora e o Clube dos 7", do selo Beverly, de 1964), Rildo Hora, apreciador do improviso na canção, costuma dizer que o seu é de um "jazz de Caruaru", de toque brasileiro, pois, em sua formação musical, teve como mestre um rematado nacionalista, o maestro César Guerra-Peixe", que para ele compôs a "Suíte Quatro Coisas". Pai de ágil e talentoso tecladista, Misael da Hora, Rildo prepara, para breve, disco com a cantora Patrícia Hora, o que será para ele uma oportunidade de voltar a mostrar-se como compositor, um lado da sua criatividade esmaecido, nos últimos anos, pela intensa atuação como produtor. Se, lá atrás, no tempo, teve outro produtor fonográfico, Clóvis Mello, um ator, Gracindo Jr., um radialista, Humberto Reis, e um jornalista, Sérgio Cabral (com quem divide a autoria do samba "Os Meninos da Mangueira", sucesso de 1976 na voz de Ataulfo Alves Jr.), como parceiros, nesse disco com a filha terá chance de tirar da gaveta composições ainda inéditas com outros letristas, como Humberto Teixeira, Luiz Carlos da Vila e Fausto Nilo. Em 20 de abril passado, esse virtuoso tocador de realejo, como a gaita é chamada no Nordeste, completou 70 anos. Um sopro e tanto de vida na MPB.

      Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
 

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