7.2.10

A paralisia da guerra e seu distante fim


Quando vi o filme, ele não estava nem nos cinemas, foi lançado aqui no Brasil em forma de DVD. Repousava na locadora do bairro, no meio de um monte de porcarias, me esperando imapacientemente. Na árdua tarefa de garimpar alguma coisa para ver no final de semana, me deparei com aquele título (em português off-course) , gasto e apelativo : "Guerra ao Terror"(The hurt locker). Pensei : - Mais um filme chinfrim sobre essa guerra infame.Gastei dois adjetivos e peguei a embalagem para ler os créditos - confesso que só levei para casa porque no elenco aparecia o nome de Ralph Fiennes . Explico, não sou fã desse ator, mas tinha visto um par de filmes em que ele atuava, e não eram propriamente"lixos" culturais como é a grande parta da produção hollywoodiana - é claro que seu nome funciona como uma grife que confere status a alguns produtos da indústria cultural. Foi mesmo na contramão que me vi levando esse produto duvidoso naquele saquinho preto junto com um filme francês antigo. É que ando como maluco atrás dos filmes comentados por François Truffaut no livro (que comprei num sebo) "Os Filmes de Minha Vida" - que reúne uma seleta dos artigos que ele escreveu entre 1954 e 1975. Nada como uma boa viagem ao passado para refrescar a cuca e ver o cinema que se faz hoje com outros olhos, mas isso é assunto para uma tese. Portanto, foi dentro desse paradoxo subjetivo, que comecei a assistir "Gerra ao Terror". O filme tem (desculpe a piada) pavio curto - não demorou muito tempo para ser capturado pela tensão, e sensação de asfixia que essa fita transmite. Um de seus méritos (pois é, decobri depois que ele tinha muitos méritos) é ter uma direção que trabalha a câmera de um modo que te joga dentro da ação, que não é feita do movimento de grandes combates, de cenas espetaculares, da corrida de gato e rato, mas , por incrível que pareça, extrai sua força da paralisia, do pântano em que se transformou aquela guerra equivocada,- em contraposição a pequenos movimentos, que se não forem feitos com precisão, provocarão curtos-circuitos que vão explodir tudo.
Nessa altura do campeonato, todo mundo deve estar por dentro do roteiro: Um grupo de soldados está com os dias contados para deixar o Iraque - mais particularmente um grupo que tem por função limpar os furúnculos da guerra, ou melhor, identificar e desarmar artefatos complicados que detonam explosivos - desde minas até homens-bombas. A perspectiva de sair daquele atoleiro em poucos dias se vê complicada por um aumento na escalada dos atentados - o que leva o pessoal à beira da insanidade.
O filme é adrenalida pura junto com a nitroglicerina ficcional. Quase que está além do bem e do mal, pois a obra procura não julgar, foge do maniqueísmo, embora esbarre com um ou outro lance de preconceito em relação ao inimigo. É evidente que não pode haver neutralidade, quando se vê o filme com os olhos do invasor. Não tem jeito, os insurgentes sempre serão vistos como os "terroristas" . Mas o filme não pesa a mão nesse aspecto. É claro que não se questiona o discurso do Estado que instaurou conceitos tais como esse de "terror", de "eixo do mal" etc.- do qual essa guerra resultou - uma mistura de mentiras e decisões da administração Bush que contrariram posições da ONU e lançaram os EUA numa aventura à la John Wayne. O problema daqueles caras do filme é achar a bomba, desativar a bomba. Uma boa metáfora para a era Obama. Apesar de não ser um filme de reflexão, no geral, ele procura encarar a circunstância e o evento da guerra como uma tragédia - uma infelicidade que atinge a todos e que parece não ter fim. Mas há um prazer mórbido nisso quando se vê mais de perto a figura do herói, que é questionada- de forma a pensá-lo no contexto da loucura que a tudo preside num cenário totalmente estranho, cheio de arestas, onde cada cidadão "nativo", pode representar o seu fim. Existe até uma certa visão que mostra o herói como um viciado em adrenalina...mas essa é outra história.
Pode-se dizer que Kathryn Bigelow fez um bom filme. Nada que se compare à visão dos filmes que Clint Eastwood fez sobre a segunda guerra, nem a profundidade do melhor filme sobre a questão da "Guerra do Iraque"(que se passa todo em território americano e que é potente na sua crítica ao sistema todo que envolve essa longa marcha da insensatez), que é o fabuloso No Vale das Sombras (In the Valley of Elah) de Paul Haggis.
Curioso saber que ela concorre com Cameron, seu ex, que também fez em "Avatar" - ao que parece - também um filme de guerra. (Ainda não vi o filme).
Suspeito que inconscientemente, ou muito conscientemente Cameron usou o recursos brechtiano do distanciamento para falar de um problema que nós vivemos aqui e agora - o que não é o caso desse fragmento que Bigelow dirigiu com maestria. "Guerra ao Terror" é uma porrada! E como em "Avatar", lá no Iraque, tudo é estranho, inclusive a armadura (quase medieval) que o "especialista" usa para se proteger das explosões. Mesmo assim não consideraria essa obra como um forte candidato ao Oscar de melhor filme. Talvez de melhor direção e de economia, pois foi feito com muito capricho, contou com uma câmera preciosa e uma edição de deixar o espectador sem fôlego- isso tudo feito com baixo orçamento - pelo que soube- foi filmado em Los Angeles mesmo. De qualquer forma, se constituiu numa boa uma surpresa. Só não concordei com um lance do filme, mas não vou contar para não estragar a sessão pipoca.(Só volta a falar desse filme depois de ver Avatar)

2 comentários:

VELOSO disse...

Muito bom seu blog venha visitar e colaborar com meu blog valeu...

LIBERATI disse...

Caro Veloso, vou visitar seu blogue.
Fico contente com sua visita ao meu, volte sempre,
um abraço