2.4.10

Dica do Gerdal:Canções de Dolores Duran por Ithamara Koorax neste fim de semana no Rio - noturna dor-de-cotovelo na claridade de um cristal


Sempre que me ocorre o nome de Ithamara Koorax (foto acima), junto vem a lembrança de um número fantástico que ela, na alvorada da carreira, apresentou, na década passada, no Teatro João Theotônio, no Centro do Rio, em show compartilhado com Guinga. Fiquei abismado ao vê-la cantar lentamente e "a cappella", com ênfase dramática, um samba de sucesso de Martinho da Vila, "Disritmia", e não tive dúvida de que naquele momento uma estrela nascia no firmamento da MPB, ainda para a luneta dos poucos na plateia de então, e seria de primeira grandeza, como hoje o é cabalmente, uma das principais referências do nosso canto no exterior, sobretudo nos EUA, com um grau de reconhecimento que, ironicamente, apesar do seu mérito, ainda não alcança aqui. Escolhida, mais uma vez, no ano passado, pela "Down Beat", bíblia norte-americana do jazz, uma das três maiores cantoras do gênero em todo o planeta na atualidade - perdendo apenas para a canadense Diana Krall e a norte-americana Cassandra Wilson -, Ithamara, ainda com tantas "tournées" a rechear-lhe a agenda de apresentações, desfruta, por valor próprio, com amplo domínio técnico e voz de grande extensão e emissão cristalina, da satisfação de, nestes 20 anos de carreira, ver materializado o sonho da adolescente que, em Niteroi, optou pela profissão de cantar ao integrar um coral bem-sucedido e viajado, o do Centro Educacional de Niterói, regido pelo professor Ermano Soares de Sá. Aliás, filha de cantora lírica e com aulas de música clássica na infância, sobre ela, em 2003, escreveu o recém-falecido jornalista Armando Nogueira: "Se é verdade que cada música tem a sua alma, essa admirável cantora tem o dom de criar uma voz que parece ter nascido com a alma da própria canção" e, sem disfarçar o entusiasmo, foi ainda mais adiante no elogio: "Cinco são os elementos essenciais da vida: o Ar, a Terra, a Água, o Fogo e a Voz de Ithamara Koorax."
        Neste fim de semana, nos dias 3 e 4 de abril, às 19h30, no Teatro Nelson Rodrigues - Caixa Cultural RJ (Av. República do Chile, 230 - Centro), ela presta a sua homenagem a Dolores Duran, que completaria 80 anos de idade no próximo 7 de junho. Muito cedo partiu para o reino dos esplendores, em 1959, motivando, no ano passado, pela mesma razão de efeméride redonda, outras homenagens, como a de dois shows na Sala Baden Powell, um com a carioca Juli Mariano e o outro com a mineira Marcê Porena. Dolores gravou com sucesso gêneros diversos de composição, como o baião "A Fia de Chico Brito", de Chico Anísio, mas foi no campo minado do samba-canção e de suas ciladas de amor que deixou a marca do seu melhor sentimento de intérprete. Isso valia tanto para as suas joias autorais, como "Castigo" e "Ternura Antiga" (esta com melodia do pianista Ribamar), quanto para a ourivesaria alheia, de que é exemplo "Um Amor Assim", gema criada e lapidada por uma amiga do peito e igualmente bem estabelecida no ramo da dor-de-cotovelo, Dora Lopes.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
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 Pós-escrito: no primeiro dos "links" abaixo, acompanhada por José Roberto Bertrami, Ithamara canta "Meditação", de Tom Jobim e Newton Mendonça, em trecho do programa "Sarau", da Globo News, apresentado por Chico Pinheiro; no segundo, ainda com Bertrami ao teclado, canta a versão do paulista Zé Fortuna para "Índia", famosa guarânia paraguaia lançada entre nós, em 1952, pela dupla Cascatinha e Inhana.
 

    http://www.youtube.com/watch?v=8hiwDHUFesY

 
     http://www.youtube.com/watch?v=R2X4_e2aSBc&feature=related

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