23.4.10

Homenagem do Gerdal: Denis Brean - um compositor eterno do tempo em que já se escrevia Bahia com H




Cunhando para si epíteto artístico marcante na história da MPB, já que o próprio nome, Augusto Duarte Ribeiro - pensava -, era mais condizente com um balcão de secos e molhados, Denis Brean, falecido em 16 de agosto de 1969, completou 40 anos de desaparecimento. Campineiro de 1917, da mesma cidade do maestro Carlos Gomes e dos violonistas Paulinho Nogueira e Armandinho Neves, mudou-se, 17 anos depois, com a família, para a capital paulista, onde se iniciou no batente como escriturário. Largando a faculdade de Direito para se dedicar ao jornalismo, passou por várias redações de jornal, mormente a da "Gazeta Esportiva" - da qual foi diretor nos anos derradeiros de vida -, e, no rádio de São Paulo, também teve participação de destaque, atuando como um "DJ do bem", por muitos anos, em programa na Rádio Record, prestigiando a nossa boa canção popuilar e talentos emergentes do mundo do disco. Foi sócio fundador da Sbacem do Brasil e vice-presidente da Acresp (Associação dos Cronistas de Rádio do Estado de São Paulo), e, ainda, como produtor fonográfico, lançou Hebe Camargo como cantora e o acordeonista Mario Gennari Filho, entre outros, além de dois importantes registros apenas com músicas suas: o dez-polegadas "Roda de samba", em 1958, com a orquestra do italiano Henrique (Enrico) Simonetti, diretor artístico da Mocambo, e foto da então modelo Norma Benguell na capa (com o corpo, de lado, quase todo coberto por um grande chapéu)); e, em 1965, o 12-polegadas "Convite ao Samba", com a orquestra do italodescendente queluzense Lyrio Panicali.
      Coube a um carioca, Cyro Monteiro, dar o pontapé inicial como intérprete dos sucessos de Denis Brean, gravando a sátira "Boogie-Woogie na Favela", em 1945, regravada dois anos depois pelos Anjos do Inferno. Ainda em 1947, Joel e Gaúcho caíam no agrado popular com outra pérola de mesmo verniz irônico, "Boogie-Woogie do Rato", a que Linda Batista se juntaria, lançando a jocosa "Baiana no Harlem" (regravada por Roberta Sá), em 1950, um ano antes de Dircinha Batista gravar "La Vie en Samba", feita em francês em parceria com Blota Júnior. Ainda entre as composições com letra e música exclusivamente suas, avultam "Melancolia" e "Bahia com H", uma linda exaltação ao estado natal de João Gilberto sem que Denis, como o mentor da batida diferente revelou em show recente, a tivesse visitado "sur place". Nos anos 40, conhecendo outro jornalista campineiro, Oswaldo Guilherme, dividiu com ele diversos sucessos, especialmente no compasso analgésico do samba-canção, como "Conselho" , por Nora Ney, e "Franqueza", por Maysa, clássicos da fossa gravados em fins dos anos 50. Uma exceção a isso, por exemplo, foi a marcha "Como É Burro Meu Cavalo", que, com a graça habitual, o nosso saudoso "cowboy" Bob Nelson, mais um campineiro, desfilante histórico do Império Serrano, legou à posteridade com a marca inalienável do seu "tiroleite".
      Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção a essa modesta recordação pessoal de Denis Brean.
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Pós-escrito: entre as fotos acima, a de Denis Brean com Oswaldo Guilherme foi clicada em 1964 na cidade paulista de Itanhaém, aonde ambos iam com frequência, sobretudo em dias de folga ou férias. Aquela em que João Gilberto segura um berimbau foi tirada, em julho de 1965, na casa de Denis, então morador no bairro paulistano de Indianápolis.     

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