22.6.10

Dica do Gerdal: Roberto Menescal é o convidado desta terça na série Cinematecla - a inspiração deslizando na canção



"Água, madrugada, margarida/verde leve, luz tranquila/terra clara, beira-mar/vou devagar/praça, casa branca, areia fina/na cidade pequenina/ficou longe meu lugar; vou devagar..." ("Cidade Pequenina", de Roberto Menescal e Caetano Veloso) 

 Das primeiras lições de violão na adolescência com Edinho, do Trio Irakitan - ainda a observação atenta, em casa da amiga Nara Leão, das lições dela nesse instrumento com Patrício Teixeira (cantor de sucesso, em 1937, com o samba "Sabiá Laranjeira") -; depois, conhecendo Sylvia Telles, novas aulas, por meio dela, com Moacyr Santos, até longa passagem como diretor artístico da Philips/Polygram e, mais adiante, recentes discos lançados por selo próprio, Albatroz, o capixaba Roberto Menescal (foto acima) - "carioca de corpo, alma e coração "-, nascido em 25 de outubro do lembrado 1937, tem navegação de longo curso na MPB, sobretudo no macio azul do mar de uma canção remodelada que, sem intenção, saindo dessas águas de renovação e transformação, ganhou inúmeros adeptos mundo afora. Festa de sol promovida pela bossa nova, já em fins dos anos 50, no "chega de saudade" - e também de tristeza correlata - dos sindicatos de sócios de uma mesma dor: aquela que, no interior de "cubos de trevas" (como Jobim se referia às boates), de cotovelos apoiados em mesas e neles cabeças inclinadas pelo uísque, norteava a música ambiente por excelência, o penumbroso samba-canção. Ou "samba-canseira", como o percebia, então, Menescal e colegas de geração e afinidade musical, um gênero que, apesar da beleza da criação e da relevância autoral - de um certo Ari, um certo Custódio, um certo Marino, um certo Herivelto -, estava distanciado de uma batida diferente no violão e no coração de jovens que se voltavam, por exemplo, para o cenário natural da praia e da inspiração em dias tão azuis, deslizando sem parar no eterno se fazer amar da Cidade Maravilhosa. Desse novo estado de ânimo da classe média refletido na música popular, surgiam, mormente na parceria com o jornalista Ronaldo Bôscoli, sucessos de Menescal - como "O Barquinho", "Nós e o Mar", "Rio" e "Você" -,  o qual, nesta terça-feira, 22 de junho, a partir das 20h, é o homenageado do pianista e compositor Ricardo Leão na interessante série Cinematecla, levada a efeito no Teatro Solar de Botafogo (Rua General Polidoro, 180 - tel.: 2543-5411), valorizando trilhas criadas para o cinema brasileiro. Também expressivo no ramo, de Menescal certamente será destacada a sua bela contribuição como compositor e diretor musical de "Vai Trabalhar, Vagabundo", de Hugo Carvana, e dois longas-metragens, em particular, assinados por Cacá Diegues: "Bye Bye, Brasil" e "Joanna Francesa", também com letras de Chico Buarque, o último deles estrelado por uma das musas da "nouvelle vague", Jeanne Moreau. Outras bromélias musicais do canteiro de "hits" de um ainda jovial senhor de idade hoje ecologicamente correto, de arpão há muito pendurado, para alívio dos peixes do litoral fluminense, após tantas vezes utilizado na prática da caça submarina, quando atendia ao convite sugerido por aquele céu tão azul dos dias de luz da bossa nova e do barquinho na canção deslizando sem parar numa calma de verão.
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Pós-escrito: nos "links" abaixo, 1) Fafá de Belém canta "Cidade Pequenina", complementada por "Raça", de Milton Nascimento e Fernando Brant; 2) uma voz, de Wanda Sá, e dois violões, também o de Menescal, na interpretação de "Errinho à Toa", dele  e de Ronaldo Bôscoli; 3) a excelente Leila Pinheiro canta "Amanhecendo", de Lula Freire e Menescal, em companhia deste, à guitarra, e dos demais craques Adriano Giffoni, ao baixo, João Cortez, à bateria, e Adriano Souza, ao piano.   
 
      http://www.youtube.com/watch?v=11oIkKBZo6s     
 
       http://www.youtube.com/watch?v=NYBo14X53-0
 
       http://www.youtube.com/watch?v=d-iE8KSUqYI

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