28.7.10

Dica do Gerdal: Lúcio Alves é revivido na cena de "Enquanto a Vida Passa", nesta quarta e quinta, no Teatro Municipal Café Pequeno





 "Andam comentando por aí/coisas que eu não quis acreditar/deixe que eles falem por aí/essa gente gosta de falar..."   
              Houve quem comentasse, só pra chatear o cantor, que seu único sucesso na carreira tinha ocorrido, em 1963, com a gravação do comercial do Leite Glória, composto pelo "número um" do ramo, Miguel Gustavo. Uma blague, naturalmente, isso que "diziam por aí" - numa alusão ao "Dizem por Aí", de Manoel da Conceição e Alberto Paz, dos versos da epígrafe -, pois, embora esse dado seja um marco do nosso "jingle", até hoje assobiado, Lúcio Alves (foto acima) - mineiro da Zona da Mata, da "cinematográfica" cidade de Cataguases, e primo do jovem e talentoso pianista e compositor Marvio Ciribelli - não se virou nos 30 (segundos) da mensagem, apenas, mas foi muito além, sendo, a seu modo "cool", um antecipador da bossa nova e portador, pelo belo abaritonado, de uma das vozes mais atraentes do disco brasileiro de todos os tempos, como a de outro mineiro, esquecido, este de Curvelo, que lhe era bem próximo no seu círculo de amizades, Luiz Cláudio. Para que não se façam ideias erradas dele, pode-se observar que o sucesso até chegou cedo na atividade artística do Besouro (como Cyro Monteiro, por causa do timbre grave, o chamava), pois, em 1945, com 18 anos, Lúcio já lhe provava o gostinho com "Eu Quero um Samba", de Janet de Almeida (irmão prematuramente falecido do longevo Joel de Almeida) e Haroldo Barbosa, integrando um conjunto profissional que organizara aos dez anos, os Namorados da Lua. Ainda nesse conjunto, com idade adulterada no papel, Lúcio trabalharia no Cassino Atlântico, em Copacabana, onde brotaria seu grande sucesso como compositor, com retoques na letra por Haroldo Barbosa, lá encontrado por ele: "De Conversa em Conversa", prontamente levado ao giro de um 78 rpm, em 1946, pela cantora Isaurinha Garcia. Um caderno de notas desfolhado por algum aficionado da MPB poderá conduzir a outro registro bem-sucedido de Lúcio, "Joãozinho Boa-Pinta", dos anos 50, que remanescentes de sua "multidinha" de fãs - em contraste com as multidões de Orlando Silva -, certamente, sem alarido, curtiram na ocasião, um samba composto, novamente, por Haroldo Barbosa, desta vez com Geraldo Jacques. 
       Aos admiradores de Lúcio Alves, como eu, recomendo a leitura do fascículo 9 da série Coleção Folha - 50 Anos de Bossa Nova, em que, com o texto enxuto e bem articulado de sempre, o jornalista Ruy Castro passa em revista a rica trajetória desse também produtor musical em boates como a Le Bateau, nos anos 70, e, na mesma década, de programas importantes nas TVs Tupi e Educativa. Nessas páginas, Ruy explora, como fio condutor da narrativa, um pormenor de vulto no paralelo que faz entre Lúcio e Dick Farney (um dueto antológico na MPB, em 1954, com a gravação de "Tereza da Praia", de Tom Jobim e Billy Blanco): a malha do que chama de "espantosas coincidências" que ligam um ao outro, mortos, ambos, aos 66 anos (Dick, em 1987; Lúcio, em 1993) e do mesmo jeito, "tristes, esquecidos pelas gravadoras e afastados do público". 
       Nesta quarta e nesta quinta, 28 e 29 de julho, às 21h, no Leblon, no Teatro Municipal Café Pequeno (Av. Ataulfo de Paiva, 269 - tel.: 2294-4480), assim como nas demais quartas e quintas até 12 de agosto, Lúcio Alves é homenageado em "Enquanto a Vida Passa" (vídeo e "flyer" acima), com a cantora e atriz Andreia Carneiro, participação especial do ator André Poubel e valioso apoio instrumental do amigo violonista e baixista Célio Burlamaqui (que residiu por muitos anos em Lisboa), do trombonista Sylvio Barbosa, do baterista e percussionista Bonavita e do violonista e guitarrista Marquinho Roberto, também diretor musical. A direção do espetáculo está a cargo do seu autor, Renato Alvim, dividida com Alexandre Maguolo..
       Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
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Pós-escrito: nos "links" abaixo, 1) Lúcio Alves canta "Rio à Noite", de Renato Amorim e Sérgio Gomes, faixa do elepê "Cantando Depois do Sol", de 1961, da Philips, com arranjo do também esquecido Carlos Monteiro de Souza ; 2) um ano antes, em imagens da comédia "Marido de Mulher Boa", dirigida pelo iugoslavo J. B. Tanko e protagonizada pelo baiano criador de tipos Zé Trindade (que contracena com Isa Rodrigues, hoje no Retiro dos Artistas), Lúcio aparecia com um Caymmi na ponta da língua, o samba "A Vizinha do Lado"; 3) Lúcio Alves e Dick Farney (ao piano), num trecho de gravação de 1976, cantando "A Saudade Mata a Gente", de Braguinha e Antônio Almeida; 4) uma curiosidade: uma gravação de Lúcio Alves, feita em 1957, pelo selo Mocambo, de "Meu Violão Vai Me Acompanhar", samba-canção com melodia do maestro russo Georges Moran (que, por tocar balalaica, foi taxado de excêntrico, em 1934, quando chegou ao Brasil) e letra de um político e poeta muito lido, o acreano J. G. de Araújo Jorge.               
 
      http://il.youtube.com/watch?v=Ax-cjt2_P-Y&feature=related
 
      http://www.youtube.com/watch?v=_--r40ZNhIo
 
      http://www.youtube.com/watch?v=5YDBjnzK8Jk&feature=related

      http://www.jgaraujo.com.br/LP/Faixa8/meu-violao-vai-me-acompanhar.html
 
      http://www.youtube.com/watch?v=uRceeYj2-R8&feature=related (vídeo de "Enquanto a Vida Passa")

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