5.7.10

Neide Mariarrosa - uma flor catarinense da canção popular a exalar o aroma da saudade




"Ilha da moça faceira/da velha rendeira tradicional/ilha da velha figueira/onde em tarde fagueira/vou ler meu jornal/tua lagoa formosa/ternura de rosa/poema ao luar/cristal onde a lua vaidosa/sestrosa, dengosa/vem se espelhar."
  Já era Neide Mariarrosa (fotos acima) - assim mesmo, com dois erres, por sugestão do cronista Sergio Porto - e tentava a sorte como cantora no Rio de Janeiro, quando, em 1966 - voltando à capital catarinense, em cuja Rua Menino Jesus viera ao mundo, em 1936 -, venceu o concurso Uma Canção para Florianópolis, instituído pela Prefeitura local, com a marcha "Rancho de Amor à Ilha" (dos versos acima), depois gravada, em estúdio de Sampa, com coro dos cegos do conjunto Titulares do Ritmo. Hino oficial de Floripa dois anos depois, tal composição tem autoria de Cláudio Alvim Barbosa, o referencial Zininho da vida cultural da Ilha da Magia, com quem, no final dos idos de 50 e início dos de 60, a então Neide Maria trabalhou, cantando no programa "Bar da Noite" (inspirado no clássico samba-canção de Bidu Reis e Haroldo Barbosa e de grande audiência na Rádio Diário da Manhã), anos após, aos 13 de idade, ter sido também vitoriosa no concurso de calouros da concorrente Guarujá e por esta contratada logo em seguida, atuando ainda como radioatriz. Encantada com a voz daquela moça, coube a Elizeth Cardoso, em 1963, quando de um show da Divina feito lá, o convite para que fosse para a então Guanabara, onde Neide, inicialmente hospedada em sua casa, cantaria na noite carioca e em programas de tevê, como o de Flávio Cavalcanti, conviveria com Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Elis Regina e Baden Powell, entre outros grandes artistas, e faria participação em festivais - em 1967, por exemplo, com "Canto de Despedida", de Edu Lobo e Capinam, no II Festival Internacional da Canção, da TV Globo, no qual ficou em segundo lugar no prêmio de melhor intérprete, perdendo apenas, nessa categoria, para Milton Nascimento. No ano seguinte, por quase um ano, vive no Golden Room do Copacabana Palace o seu momento de estrela ao integrar o espetáculo "Sua Excelência, O Samba", produzido por Haroldo Costa.   
      "Que me importa que falem de mim/eu não vou deixar de ser assim/ninguém vai poder mudar meu eu/ele é tudo o que tenho de meu/eu não vou deixar de ser assim/meu viver só interessa a mim." Com esse "sambossa", "Eu Sou Assim", dedicado a ela, que o cantou primeiramente no "Bar da Noite" e feito por um Zininho inspirado na interpretação de Elizeth em "Chega de Saudade", Neide abre um belo elepê, também intitulado "Eu Sou Assim", - o único disco da carreira e lançado em 1988 -, importante registro da sua intensa ligação com a ilha natal, para a qual retornaria em definitivo, após os breves anos de estada carioca, em 1970, e onde, até a morte, em 1994, por cãncer e osteoporose, teria pontos comerciais e boêmios, com boa comida e boa música, até mesmo valorizados pelo próprio canto, nos restaurantes Saveiros, na Lagoa da Conceição, na boate Kappa Samba, na Escadaria do Rosário, e no Lá na Neide, no Centro. Estabelecimentos sempre cheios, mas pouco rentáveis, porque Neide não sabia cobrar dos amigos. Ainda em Floripa, na passarela do samba Nego Quirido, a escola Consulado do Samba desfilou, em 2004, com o enredo "Uma Rosa para Neide Maria", que, aliás, lá mesmo, em 1980, foi uma das primeiras mulheres a puxar samba-enredo, em desfile da Protegidos da Princesa. Sobre ela, recentemente, foi realizado um documentário, "Ai Que Saudade de Neide!", pelas jornalistas Fernanda Peres e Taíse Bertoldi, do Curso de Comunicação da UFSC, e um importante livro, com várias fotos e dois CDs, um dos quais com gravações inéditas, sob os auspícios da Fundação Franklin Cascaes, deverá ser lançado em breve. Entre os depoimentos constantes na obra, o do crítico musical conterrâneo Ilmar Carvalho e de Maximiliano Rosa, irmão dessa que é considerada a mais importante cantora popular de Santa Catarina até hoje: "uma voz com a suavidade das Marias e a beleza das rosas", como declarou a madrinha artística Elizeth Cardoso, na esteira de sua admiração por ela.
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Pós-escrito: no "link" abaixo, Neide Mariarrosa, em seu último show, no início de 1993, no Teatro Álvaro de Carvalho, em Floripa, quando, com a saúde debilitada, já se locomovia com o auxílio de cadeira de rodas, canta "Cordas de Aço", de Cartola, acompanhada do Nosso Choro, conjunto liderado pelo bandolinista Wagner Segura.     
  
       http://www.youtube.com/watch?v=idMCuy7jA4I

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