24.8.10

Gerdal indica: Marcos Ozzellin e seu primeiro CD - o menos que é mais em receita alternativa de boa expressão do samba


Reencaminho, abaixo, a palavra abalizada do niteroiense Aquiles Rique Reis em sua apreciação do CD de estreia desta grata revelação de intérprete que é Marcos Ozzellin (foto acima). Também tenho o disco e o recomendo. O texto do experiente componente do MPB4 foi publicado no último domingo, como de hábito, em sua coluna nos seguintes jornais: "Diário do Comércio" (SP), "Meio Norte" (Teresina), "Jornal de Cidade" (Poços de Caldas), "A Gazeta" (Cuiabá) e "Brazilian Voice" (periódico destinado a brasileiros residentes em toda a Costa Oeste dos EUA).
       Nos "links" seguintes, vemos Marcos cantando "Vatapá", de Caymmi, e "Canto de Ossanha", de Baden e Vinicius.
      
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http://www.youtube.com/watch?v=ZA7UePCS84k 

http://www.youtube.com/watch?v=HBQ-ysq2kTI&feature=related
 
http://www.myspace.com/cantormarcosozzellin

 
Receita para ouvir samba
Samba bom tem de ter ritmistas que criem alvoroço e façam a cabrocha gastar a sola da sandália; tem de ter surdo de marcação, caixa e repinique; tem de ter cavaco, banjo e violão de sete. Certo? Sim, mas não obrigatoriamente.
Quer confirmar isso? Ouça o CD O samba transcendental de Marcos Ozzellin (selo JSR). Minimalismo: lá estão presentes em todas as catorze faixas uma percussão leve, um violão seguro e a voz afinada do intérprete. Não há mágicas nos arranjos nem seduções dançantes. Há, sim, um apelo à audição de melodias e de letras que marcaram o repertório do samba brasileiro.
Com produção e arranjos de Arnaldo Souteiro, a seleção permite a Marcos Ozzellin demonstrar ser um bom sambista. Paulista de São Bernardo do Campo, ele despontou mesmo foi na nova Lapa Carioca, reduto do pessoal que ama o samba, desde o mais tradicional até o que é composto por novos compositores que por ali brotam cheios de qualidade.
Tudo começa com “Sambou, Sambou” (João Donato e João Mello), uma bela sacada, pois este bom samba andava meio esquecido. O violão suingado de Geraldo Martins e o tamborim de Wilson Chaplin (que parece ser tocado com o dedo, tão leve é sua baqueta) se encarregam de valorizar a melodia e os versos. E a voz agradável de Marcos se sai muito bem. Suas divisões equivalem a uma chave que lhe abre as portas do mundo dos grandes do samba.
Para tocar “Treze de Ouro”, o bem-humorado samba de Herivelto Martins e Marino Pinto, o violão agora está nas mãos de Rodrigo Lima e a percussão continua com a categoria de Wilson Chaplin. A letra, cheia de gracejos da melhor qualidade, serve para o cantor bem dividir os versos e comprovar sua boa dicção.
E vem um clássico de Dorival Caymmi, “O Dengo Que a Nega Tem”. Rodrigo continua ao violão e Chaplin na percussão. O canto de Ozzellin sai fácil, bom de ouvir. Só que, ao alterar uma nota da melodia do refrão (“É dengo, é dengo, é dengo, meu bem/ É dengo o que a nega tem”), ele tira um pouco do sabor da obra do mestre. Não fica claro se tal mudança resulta de desatenção ou é, digamos, uma “licença melódica”. 
“Deixa” tem o surdo tocado por Souteiro acrescido à percussão. Começa lento, só com o violão dedilhado. Marcos canta suavemente, até que há uma modulação e o ritmo acelera, o que dá ainda mais nuança a esse que é um dos mais belos sambas da dupla Baden e Vinícius.
Ithamara Koorax participa de “Bocochê”, outro grande samba de Baden e Vinícius. O desenho do violão tocado Rodrigo Lima é criativo, o que enseja a Ithamara e a Marcos darem mais emoções aos versos. Uma modulação permite que o encontro deles se torne ainda mais vigoroso.
José Roberto Bertrami participa com seu teclado em “Como Será o Ano 2000?” (Padeirinho da Mangueira). Outros ótimos sambas vêm. A saideira é com “Saudações”, de Egberto Gismonti e Paulo César Pinheiro.
Finda a audição, aquilo de menos ser mais faz mais do que sentido, torna-se receita alternativa para se ouvir samba.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4.

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