10.8.10

Homenagem do Gerdal: Hianto de Almeida: recordação de um lorde potiguar que também teve a sua influência na bossa nova


 
"Escute, vou dizer/como é que foi que aconteceu/eu fui ao prado para ver meu bem correr/meu bem largou de ponta/e já na curva do hospital/livrou dez corpos de vantagem/que legal!..."
 
Listado como um dos precursores da bossa nova, apesar de, como tal, menos citado do que deveria - também pelo conjunto da obra -, o "lorde" Hianto de Almeida (foto acima) - como seus colegas de balanço o chamavam, porque de fina estampa, elegante e educado - é desses nomes, como os coetâneos Antonio Maria e Dolores Duran, de curta, porém intensa e substancial passagem pela MPB. Nascido em Macau, onde também nasceu Gílson (coautor com Joran do sucesso "Casinha Branca"), Hianto começou cedo a estudar piano e, com apenas 9 anos, já esboçava as primeiras composições, mudando-se com a família para Natal, no mesmo Rio Grande do Norte, onde foi cantor da Rádio Educadora e aluno de um renomado professor local, Clementino Câmara, autor de "Geringonça do Nordeste", um dicionário de regionalismos censurado pelo Estado Novo de Getúlio Vargas. Chegando ao Rio em 1952, com 29 anos de idade, empregou-se na Companhia Comércio e Navegação, concluiu o curso de técnico em contabilidade e, no âmbito musical, foi gravado, ainda em 1952, por Vera Lúcia ("Amei Demais", composta com o irmão Haroldo de Almeida) - a primeira, entre os cantores, a levá-lo ao disco -, João Gilberto ("Meia Luz", em parceria com João Luiz) e Dalva de Oliveira ("Encontrei Afinal", também com o irmão mencionado). Elizeth Cardoso, Maysa, Dircinha Batista, Cyro Monteiro, Dora Lopes e Carlos Henrique (que, também surgido nos anos 50, trocaria o canto pela locução comercial, sendo por muitos anos exclusivo do supermercado Sendas) figuram entre os vários intérpretes de suas canções com vários parceiros, como Evaldo Rui (também morto prematuramente, por suicídio, em 1954), na "Marcha do Tambor" (ainda com Jurandir Prates na parceria: aquela do refrão "tão pequenino com um tambor tão grande") - sucesso de Marlene ainda em 1954; o publicitário Édson Borges, em "Amor de Mentira", por Elza Soares, em 1960; e o folclorista natalense Veríssimo de Melo, este na curiosa toada "Caju Nasceu pra Cachaça" ("caju nasceu pra cachaça/pirão pro peixe nasceu/mulher nasceu pro amor/e, se é bom, do amor também nasci eu..."), entoada por Cauby Peixoto em disco de 1956. 
       Segundo Chico Anysio, em entrevista à revista "Playboy", em 1987, uma música de Hianto de Almeida com letra sua, "Conversa de Sofá", possibilitou a Antonio Carlos Jobim o primeiro dos arranjos que assinou na vida artística, uma prestação de serviço, por assim escrever, que, ainda nesse período, em 1955, Tom exercitaria, mais uma vez, em disco que o próprio Hianto gravou como cantor. Foi esse potiguar, aliás, quem fez do humorista cearense o seu principal letrista, em grande número de registros no vinil - um deles, curiosamente, o fox "Cinema Bossa Nova", de 1955, pelo referido Carlos Henrique -, atividade que outro nome egresso do radioteatro, Macedo Neto (dos versos da epígrafe, no jocoso "Casa de Turfista, Cavalo de Pau", samba que Elza Soares gravou em 1960) seguiu de perto quanto à constância na parceria.. Além do pioneirismo, como autor, na discografia de João Gilberto, com a já lembrada pré-bossa "Meia Luz", Hianto, que virou nome de teatro em Macau e de rua em Natal, também chegou em primeiro na discografia de Nana Caymmi, em 1960, quando ela gravou "Nossos Beijos" (uma dessas tantas com Macedo Neto) num 78 rpm que teve "Adeus", do pai genial, no outro lado da bolacha. No mesmo ano, a meiga Elizeth traria vida, com sua voz, a "Sincopado Triste" (também da lavra com Macedo Neto), ainda mais triste, entretanto, com a morte de Hianto em 1964, na capital norte-rio-grandense, aos 41 anos, após longo e malsucedido tratamento contra câncer nos ossos. 
      ***
 
Pós-escrito: 1) a foto de Hianto de Almeida ora anexada está na capa de raro elepê produzido em 1983 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com a cantora Sílvia Benigno (Silvinha), na concretização, então, do projeto Memória, da própria UFRN. É o disco de número 21 da série e intitula-se "Hianto Revivido", o qual tive a sorte de, há vários anos, adquirir de um camelô carioca, sem que jamais, mesmo em muitas idas posteriores a sebos, tivesse visto outra unidade;
       2) uma boa notícia sobre o compositor potiguar é o lançamento, aguardado para breve, do livro "A Bossa Nova de Hianto de Almeida", escrito por sua conterrânea Leide Câmara, pesquisadora de música popular e autora de relevante obra de referência e fôlego: o "Dicionário da Música do Rio Grande do Norte". São de Leide imagens do quarto "link", abaixo;
       3) nos demais "links", Hianto de Almeida é lembrado por outra conterrânea, a jovem cantora Tânia Soares, que, recentemente, em sua homenagem, participou, em Natal, de show da série Poticanto - Um Canto 100% Potiguar. Dele, na voz dela, na realização desse projeto, ouvem-se "Diga Adeus e Se Vá", de Hianto e Macedo Neto - gravado em 1959 por Lucienne Franco, outro nome de destaque do alunado do Colégio Mallet Soares, em Copacabana, e cantora da predileção de Ari Barroso; As Polegadas da Mulata", mais um samba jocoso de Hianto com Macedo, gravado em 1960 por Elza Soares; e "O Tema É Solidão", gravado em 1961 pelo octogenário Miltinho em elepê da RGE. Desta feita, um feito de Hianto com Édson Borges, também parceiro de Dolores Duran e chamado pelos amigos de "Passarinho";
        4) dedico este texto ao produtor musical potiguar José Dias, que há muito se empenha pela valorização da memória de Hianto de Almeida na MPB, especialmente como criador de harmonia avançada da qual a bossa nova também hauriu inspiração para o seu advento.
                       
        
http://www.youtube.com/watch?v=OZVT8nWip1w
        

http://www.youtube.com/watch?v=71YS0FV5O9U
 
       
http://www.youtube.com/watch?v=QuDGpPHzLgU&NR=1
 
       
http://www.youtube.com/watch?v=jLaIMio6HIY&NR=1
 

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