8.10.10

Eduardo Gudin, 60 anos, faz série de shows comemorativos em Sampa: outros anéis por vir e adornar os dedos da inspiração




"Eu canto até acordar toda a população/mesmo que cantar seja sempre em vão/pois é o sabiá no festival do gavião..."
 
  
          Creio que a metáfora na nossa canção popular nunca tenha sido tão exercitada, por motivo que me parece óbvio, quanto na vigência da ditadura militar. Como o samba supralembrado de Eduardo Gudin (foto acima) e Paulo César Pinheiro, "Teatro de Revista" - os dois ainda fizeram, por exemplo, outro, "Mordaça", igualmente emblemático do período -, havia a liça permanente entre sabiás e gaviões, com evidente desvantagem dos primeiros, numa peça que não parecia sair mais de cartaz no país do carnaval e do futebol. Sob esse clima pesado de suspensão das garantias constitucionais, surgiu, entre os talentos da sua geração, o paulistano Eduardo Gudin, de músicas cuja motivação autoral, além do substrato político, viceja, com fluência agradável, na seara romântica, de que são exemplos, com letristas variados, as belas "Ainda Mais" (com Paulinho da Viola), "Lá Se Vão Meus Anéis" (também feita com Paulo Cesar Pinheiro), "Mente" (com Paulo Vanzolini), "Rendição" (com Roberto Riberti e Maurício Tapajós) e "Paulista" (com Costa Netto). Também fez música bonita, como "Bem Bom" (faixa-título de elepê de 1985 lançado por Gal Costa) com nomes da chamada vanguarda de Sampa, na parceria com o londrinense Arrigo Barnabé e outro paulistano, o jornalista Carlos Rennó.
          Começou ontem, continua hoje, 8 de outubro, e termina no domingo, no Sesc Vila Mariana, uma série de shows do aniversariante Gudin ("flyer" acima), a que comparecem parceiros e intérpretes muito ligados à obra artística desse "sambista de vitrola", como já se definiu em entrevistas para destacar que o seu conhecimento de samba proveio, sobretudo, do aparelho, ouvindo os velhos mestres do ramo desde cedo, já que lhe faltaram, por exemplo, vivência de morro e contato com gente das escolas de samba. "Chegar aos sessenta. Quando me dei conta, cheguei. Nunca fui de prestar atenção, não sinto diferenças ou peso, como alguns, mas essa data redonda me fez refletir...Fui me dar a incumbência, aos 13 anos, de tocar violão bem e fazer música boa em terra de Baden Powell, Tom Jobim, Chico Buarque e Ary Barroso. É mole? Mas acho que consegui. Tô aqui, não tô? Sinto uma paz de missão cumprida, que não me rouba a inquietação de fazer mais, estudar mais, tudo mais", escreveu Gudin sobre a nova idade, pronto pra outras, "pois o mais importante", prossegue, "é a vida, o nosso maior dom".
          *** 
 
Pós-escrito: em seguida, nos "links", composições de Eduardo Gudin: 1) "Conjunto de Baile" (com Paulo César Pinheiro), por Vânia Bastos e Gudin; 2) "E Lá Se Vão Meus Anéis" (Com Paulo César Pinheiro), por Gudin; 3) "Velho Ateu" (com Roberto Riberti), por Dona Inah; 4) "Veneno" (com Paulo César Pinheiro), por Márcia; 5) "Paulista" (com Costa Netto), por Vânia Bastos.     
                            http://www.youtube.com/watch?v=nwi6J8bq0Vw&feature=related
                                              
                            http://www.youtube.com/watch?v=awJVeHugnCo
 
                            http://www.youtube.com/watch?v=ei7XGsYNa84&feature=related
 
                            http://www.youtube.com/watch?v=snFpkSSV5UE&feature=related
 
                            http://www.youtube.com/watch?v=kO2Rkk_6ZE0&feature=related
( NR:Clique no flyer acima para ver melhor a programação dos shows e apreciar os detalhes da arte da colagem das fotos)

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