27.11.10

Dom Salvador e seu piano neste sábado no Copacabana Palace: um raro prazer em noite de jazz elegante no Rio




Nascido em 1938 na mesma cidade de Dalva de Oliveira e Zé Luiz Mazziotti, Rio Claro, o paulista Salvador da Silva Filho, aos 12 anos, já causava assombro, tocando profissionalmente, em São Paulo, na Orquestra Excelsior, de Mário Florim. Mais tarde, ainda nessa megalópole, animaria bailes integrando um conjunto só de negros, o Oliveira e Seus Black Boys, composição étnica que, já no Rio, utilizou com sucesso, em 1971, com o noneto Abolição - incluindo-se a esposa, Mariá -, o qual gravou, na ocasião, um elepê, "Som, Sangue e Raça", até hoje cultuado por admiradores da mistura do soul e do funk, já em evidência nos EUA, com o samba, o baião e outros dos nossos ritmos, acomodados em assento jazzístico. Uma sacada que lhe ocorreu após ouvir discos do Kool and the Gang e do Sly and the Family Stone, por exemplo, trazidos dos EUA pelo baterista Hélcio Milito, para o qual Dom Salvador (fotos acima) - aliás, um nome artístico dado por ele ao amigo - era o tal para movimentar a chamada "black music" no Brasil. O guitarrista Zé Carlos, o baixista Rubão Sabino e os falecidos Oberdan Magalhães, primo de Silas de Oliveira, e o trompetista Barrosinho são alguns dos grandes músicos evidenciados pelo grupo, parte dos quais, em 1977, com Oberdan à frente, atuariam na banda Black Rio, que também conquistou adeptos por força do seu amálgama sonoro e balanço tentador, em que a rapaziada ficava "na pista" no bom sentido "dançante", é claro, da expressão.
        Chegando ao Rio no início da década de 60, a convite do baterista Dom Um Romão e da cantora Flora Purim - após o verem tocar numa canja encantadora na boate Baiuca, em Sampa - para fazer parte do Copa Trio, que ainda contou com Manuel Gusmão ao baixo, Dom Salvador foi o primeiro pianista a acompanhar uma cantora gaúcha feitinha pro sucesso, mas ainda desconhecida, Elis Regina, no Bottle`s Bar, no famoso Beco das Garrafas. Além disso, em 1964, colaborou num ótimo elepê solo de Dom Um Romão, da Philips, com arranjos de Paulo Moura e Waltel Branco. Em meados dos anos 60, com o baixista Sergio Barrozo e o baterista Édson Machado, compôs o Rio 65 Trio, cuja sonoridade, registrada em dois discos, buscou reproduzir no mais recente CD, Dom Salvador Trio, gravado no Estúdio Zaga, de Leo Gandelman e Nico Rezende - após 36 anos sem fazê-lo no Brasil -, e com produção de Marco Versiani. O pianista, radicado há muitos anos em Nova York e lá atração permanente do River Café, faz rara aparição, neste sábado, 27 de novembro, às 23h, pela terceira edição do Copa Fest, tocando em sexteto no Copacabana Palace (Av. Atlântica, 1.702 - Copacabana - entrada pela Av. Nossa Senhora de Copacabana, 291 - tel.: 2548-7070).  
       *** 
 
Pós-escrito: 1) mineiro criado no Rio, o publicitário, produtor e letrista Marco Versiani falou-me, não faz muito, da sua emoção ao ver o documentário "Uma Noite em 67", da final do Festival da Record, que ele acompanhou "in loco" e o fez lembrar uma outra, no ano seguinte, vivida com intensidade, no III FIC, da TV Globo, por ter classificado, na parte nacional do festival, entre as finalistas, uma bela composição sua, "Terra Santa", feita com o piauiense Alberto Araújo, da mesma geração de Torquato Neto, e defendida pelo cantor Jorge Nery. Outro piauiense amigo do Versiani (de quem ele me falava com frequência, o qual conheceu tocando violão e cantando informalmente num bar nas proximidades do Largo do Machado nos anos 60) foi Zil Rosendo, um marinheiro bossa-novista, autor de "No Balanço do Mar" e hoje, como vários outros, infelizmente, esquecido por essa "grande mídia" que temos. Dom Salvador, Versiani conheceu-o antes que este, com o qual tinha contato frequente por telefone, antepusesse o "Dom" ao Salvador de batismo por sugestão de Hélcio Milito. Parceiro de Dom Salvador em "Moeda, Reza e Cor" e "Som, Sangue e Raça", entre outras músicas, Versiani estava muito animado com a vinda dele para este show em Copacabana, ao qual levaria o seu abraço. Falecido no último dia 11, não poderá mais fazê-lo e a ele, Marco Versiani, um amigo que conheci na minha adolescência, dedico especialmente esta dica, com o meu sentimento;               
         2) Nos "links" abaixo: 1) Dom Salvador e o grupo Abolição, em imagens de 1971, mostram "Uma Vida", de Dom Salvador e Arnoldo Medeiros, com participação especial de Elis Regina; 2) Dom Salvador toca "Mariá", feita em 1965 para a sua esposa, cantora; 3 e 4) depoimentos de Dom Salvador e Duduka da Fonseca sobre a atividade profissional do primeiro.   
 
        http://www.youtube.com/watch?v=t3b4LNFHJwk
 
        http://il.youtube.com/watch?v=u6o8LV72wfY&feature=related 
 
        http://il.youtube.com/watch?v=lVJ-5HjQKTE&feature=related
 
        http://il.youtube.com/watch?v=LnVrn_8JmPQ&feature=related       

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