1.8.11

Carminha Mascarenhas: uma intérprete de Ary Barroso num tempo em que a noite carioca também era dela






Prezados amigos,

            Carmina Allegretti ou, simplesmente, Carminha Mascarenhas, no registro civil, vinda ao mundo em Muzambinho e profissionalmente nascida para a nossa canção popular em outra cidade mineira, Poços de Caldas, lá também se formando como professora primária. Nessa famosa estância hidromineral, após ter participado do coral da igreja matriz, Carminha conheceria um bancário de fino trato, pianista, Raul Mascarenhas - pai do conhecido saxofonista de mesmo nome -, com quem se casaria, em 1952, e de quem, como "crooner" de um conjunto, seria colega na noite local, na boate Urca. Em 1955, após um ano e meio atuando em BH com o marido em casas noturnas e na Rádio Inconfidência, Carminha passa a conhecer uma noite que, a exemplo das cantoras e compositoras Dolores Duran e Dora Lopes (sua parceira em hino boêmio, "Samba da Madrugada", feito pra Maysa), também seria dela, a noite carioca, cantando naquele ano no Copacabana Palace, substituindo Nora Ney. Com esta, por sinal, em comum, além da afinidade no "dizer" da canção sob medida para cotovelos sentimentalmente avariados, a voz de contralto que parece conferir, em particular, a esse tipo de número musical um outro "élan" e ao "cão engarrafado", como Vinicius de Moraes se referia ao uísque, um outro sabor ou latido d`alma. Também em 1955, foi eleita cantora-revelação, ao lado de Sylvia Telles, e contratada pela Rádio Nacional. O juiz-de-forano Raul Mascarenhas, de quem Carminha se separaria em 1956 e, nos anos 70, tocaria no bar do Country Club, não raro acompanhando Mário Reis, salientou-se como compositor com "Verdade da Vida", com letra da tapeceira Concessa Colaço (foto acima, esta muito gravada por Helena de Lima), um samba-canção que Carminha lembraria, em anos mais recentes, nos shows que, com as ilustres colegas do conjunto Cantoras do Rádio (Violeta Cavalcante, Ellen de Lima e Carmélia Alves, em foto acima), realizou com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.
            No início dos anos 60, a noite ainda era de Carminha quando, a convite do autor de "Na Baixa do Sapateiro", seu conterrâneo, participou, por um ano e meio, na concorrida boate Fred`s, em Copacabana, do "Ary Barroso, 1960", no qual, além deste, ainda deram o ar da graça Os Cariocas, os comediantes Castrinho e Terezinha Elisa e o polêmico babalorixá e dançarino Joãozinho da Goméia. Um show cujo sucesso logo ensejou, com o mesmo "cast", o desdobramento "Os Quindins de Iaiá", parcialmente transposto para um compacto duplo pela gravadora Copacabana. Pouco antes, transmitido pela TV Rio, em 1959, "Carrossel" foi um programa que mostrou Carminha como apresentadora, aparecendo na tela da emissora em companhia de Lúcio Alves, Elizeth Cardoso, Carlos José, Ernani Filho, Norma Bengell e Elizabeth Gasper, em idos de carreira complementados por vários discos, a maior parte 78 rpm, e viagens ao exterior. Também dotada de talento plástico e vivendo, aos 30 anos, seu esplendor balzaquiano com um parceiro 13 anos mais moço, o ator Gracindo Júnior, foi importante incentivadora no início de carreira de um excelente gaitista e compositor, mais tarde um prestigiado produtor de discos na seara do samba, Rildo Hora. Em 1964, Carminha e Gracindo, parceiro de Rildo em várias músicas dessa época (como "Brigamos com o Amor", que ela gravou), foram padrinhos de casamento deste com Lusinete Alcãntara, artista plástica. Nos anos 80, Carminha apresentaria, no Sambão e Sinhá, casa de espetáculos de Ivon Curi, outro mineiro, a atração "Carnavalesque", criada e escrita por ela.
            Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção a esta modesta homenagem que presto a uma cantora da minha memória afetiva de infância, que, afastada do meio artístico por longos anos - quando morou em Teresópolis -, encontra-se, hoje, aos 81 de idade, no Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá.

            Um abraço,

            Gerdal

Pós-escrito: nos dois primeiros "links", "Samba da Madrugada", com Dora Lopes (em levada abolerada) e com Carminha Mascarenhas e sua neta, Mariana Belém (filha de Fafá de Belém e do soprista Raul Mascarenhas), respectivamente; no terceiro "link", Carminha Mascarenhas canta "Ninguém Me Ama", de Antonio Maria e Fernando Lobo; no quarto "link", em cena do filme "Quem Sabe Sabe", dirigido em 1956 por Luiz de Barros, com "Toada do Beijo", de Nestor Campos e Sílvio Viana; no quinto "link", um extra com "Dicionário da Gíria", de Dora Lopes e do pianista César Cruz, reunindo várias imagens dessa amiga e parceira de Carminha na montagem apresentada. Uma iniciativa louvável da jovem jornalista e pesquisadora paulistana Thaís Matarazzo.         


             http://www.youtube.com/watch?v=YMHQ-0qp2QU
("Samba da Madrugada")

           http://www.youtube.com/watch?v=Rx3eZEoaeNM&NR=1 ("Samba da Madrugada")

             http://www.youtube.com/watch?v=S3gMQ7_scAs ("Ninguém Me Ama")

             http://www.youtube.com/watch?v=jM1g67v2wTM ("Toada do Beijo")

             http://www.youtube.com/watch?v=wcjSZNevAJ8&feature=related ("Enciclopédia da Gíria")

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