Prezados amigos,
Se alguém perguntar pelo Pedro Amorim e pelo Pedro Paulo Malta, é só dizer que, nesta quarta, 3 de agosto, a partir das 19h30, o bandolinista e o cantor estão, em nova temporada, no Trapiche Gamboa ("flyer" acima), prestando um tributo a José Flores da Cunha, o Zé Kéti (foto abaixo). O Zé cuja quietude em criança, sob a guarda de algum parente quando a mãe saía para o trabalho, tornou-o o "Zé Quieto", apodo familiar que inspiraria o nome artístico com um "k" adotado - como disse em entrevista gravada e encontrada no blogue de MPB do saudoso crítico paranaense Aramis Millarch -, num tempo de evidência dessa consoante em próceres políticos, como Kubitschek e Khrushchev. Embora o pai do sambista, um marinheiro, tocasse cavaquinho, foi, especialmente, com um avô pianista e flautista que um ainda pequenino Zé Kéti teve influência marcante, no período em que viveu na casa deste em Bangu. João Dionísio Santana chamava amigos para reuniões instrumentais e cantorias, entre eles Pixinguinha e Cândido das Neves, as quais também contavam com a animação vinda de um gramofone. Dos três aos sete anos, até o falecimento de João Dionísio - quando passou a residir em Dona Clara, hoje Campinho, e Piedade, estudando em colégio de Quintino, onde Emilinha Borba foi sua colega de classe -, Zé Kéti teve em si, introjetado, o gosto por uma arte da qual se faria bambambã, "cantando como ninguém a Portela e compreendendo como ninguém a beleza e a importância do mar azul e branco que cobre a passarela a cada carnaval", de acordo com a observação do também saudoso jornalista paulistano Arley Pereira.
Em 1946, com o apoio de Felisberto Martins, diretor da Odeon, conheceu, com os Vocalistas Tropicais, a primeira gravação de sua música, "Tio Sam no Samba", nove anos antes do estouro de "A Voz do Morro", por Jorge Goulart, esta na trilha de "Rio 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos, em que o autor desse clássico também atuou como ator e assistente de câmera. Prossegue Arley: "Criador perfeito em "A Voz do Morro", crítico social em "Acender as Velas", lírico em "Máscara Negra", boêmio em "Diz Que Fui por Aí", cronista em "Malvadeza Durão", historiador em "Jaqueira da Portela", ator de teatro no show divisor de águas "Opinião"..., Zé Kéti tinha a generosidade entre as suas qualidades. Foi ele, quando diretor musical do restaurante Zicartola - outro marco cultural carioca e brasileiro -, que lançou dois novos compositores: Élton Medeiros e o menino (também portelense) Paulo César Batista de Faria, para o qual profetizou a carreira que ajudou a consolidar, até mesmo dando a ele para gravar joias como "As Moças do Meu Tempo" ." Natural daqui do Rio de Janeiro, precisamente o subúrbio de Inhaúma, Zé Kéti - que "foi por aí", sem violão debaixo do braço, para não mais voltar, após não lhe ter faltado na vida motivo para tanto samba bonito que fez -, completaria, em setembro (mês em que nasceu) ou outubro (mês constante da certidão) próximos, 90 anos de idade. Não apenas por isso, a recordação musical que dele farão, logo mais à noite, os supracitados Pedros é bem-vinda, além de permanentemente oportuna.
Um bom dia a todos. Grato pela atenção à dica.
Um abraço,
Gerdal
Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) a voz de Zé Kéti no belíssimo, mas pouco lembrado "Em Tempo", de sua autoria; 2) também na voz de Zé Kéti, em elepê da Mocambo de 1967, o samba "Cicatriz", feito em parceria com Hermínio Bello de Carvalho; 3) "Malvadeza Durão", na gravação de Nara Leão (que, em 1964, depois substituída por uma também iniciante Maria Bethania, dividiu, com Zé Kéti e João do Valle, o "antiestrelato", em um Brasil já sob o tacão militar, do show "Opinião"; 4) "Diz Que Fui por Aí", com Elizeth Cardoso.
http://www.youtube.com/watch?v=UpuFFMAJHlA ("Em Tempo")
http://www.youtube.com/watch?v=GmbSbNQuaEo&feature=related ("Cicatriz")
http://www.youtube.com/watch?v=jOl2yOzpTD0 ("Malvadeza Durão")
http://www.youtube.com/watch?v=FYW-EcJDOrE ("Diz Que Fui por Aí")
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