25.8.11

Thiago Amud faz show, nesta quinta, no auditório do BNDES (grátis): o assombro na criação de um menestrel encapetado


   
Prezados amigos,
 
         Simplesmente "um gênio", na afirmação enfática de Guinga, de quem é parceiro, o carioca Thiago Amud (foto acima) mostra, nesta quinta, 25 de agosto, às 19h, entre inéditas, músicas do seu elogiado CD de estreia, "Sacradança", lançado pela Delira Música. O show, da série Quintas no BNDES (Av. República do Chile, 100 - pertinho do metrô Carioca -, no Centro), tem entrada franca (uma hora antes começa a distribuição de senhas que garante o livre acesso ao auditório). Sobre Thiago, reproduzo, abaixo, texto publicado, no ano passado, em vários jornais, de autoria do vocalista Aquiles Rique Reis, do MPB4, atônito em meio a particularidades de sua análise, na qual também desenha Amud como um artista singular na cena atual da MPB.
      ***
Pós-escrito: nos "links" seguintes, quatro composições de Thiago Amud: 1) "Tratamento de Choque", em parceria com Edu Kneip, música que abre o primeiro CD deste, intitulado "Herói"; 2) o frevo "Aquela Ingrata"; 3) "Reconguz"; 4) o samba-canção "Irreconhecível".

            http://www.youtube.com/watch?v=fctIK-xnWPE&feature=related
("Tratamento de Choque")

            http://www.youtube.com/watch?v=blWay-fB4HY ("Aquela Ingrata")

            http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=O6F_2BxuGMQ ("Reconguz")

            http://www.youtube.com/watch?v=4XXxsCqGyIc&feature=related ("Irreconhecível") 

           
 
Na música de Thiago Amud, o assombro tem lugar garantido
        E então, o que faço agora com esses versos que me invadiram? Onde colocarei a palavra que hoje me deixa atônito? Para qual campina irei? Em que oceano mergulharei? Sob qual treva vergarei? Para qual porto seguro irei?
        Gente, que canção é essa que me jogou no chão? Quem é ela que tanto me aflige sem que eu ao menos saiba como me pegou?
Que harmonia é essa que me causa tamanha estranheza? Que melodia é essa que se parece com o que nunca vi? Que instrumentos são esses que não sei mais, nem menos, como soam ou como timbram?
        Caramba! Que música é essa que tem tamanha capacidade de me revirar pelo avesso? De onde vem esse delírio? Para onde vai tanta balbúrdia? Que sentido terá tudo isso que me agita, trazendo à flor da pele o arrepio do desconhecido?
        Tira-me do sério a falsa bifurcação sugerida entre o som dos versos e o toque dos instrumentos. Ouço a voz. Vem-me à alma o arpejo.
        (Sou tão sério, sou tão áspero, tão inatingível, afeito às cruezas da noite e às miragens do dia. Mas se sou assim num instante, posso não ser mais assim no segundo seguinte. Estou aqui para refletir, para repassar, para vitoriar. Para mim, a música tem lugar certo de ser: no fundo e no raso do jeito de ouvi-la.)
Após tanto palavreado, chego enfim a Sacradança (Delira Música), o CD de estreia de Thiago Amud. Menestrel encapetado, cantador enfeitiçado, o cara traz à luz um jeito de fazer música que o torna capaz de resumir sentimentos em prosa e em versos, sem, contudo, torná-los opacos.
        Surpreendente é a sua música. Admirável é o seu desprendimento. Grande é a sua coragem para desdenhar do previamente aceito. Ao compor, ele se perde entre suas próprias angústias; ao escrever, seus versos saem-lhe lancinantes, farpas afiadas a descosturar crendices; ao harmonizar, pensa muito mais em confundir certezas; ao criar os arranjos, age como o jardineiro que arranca do caule os brotos e assim o fortalece; ao cantar, armado apenas com o violão, sua voz é seu cavalo a vagando por estradas inseguras.
        Para ouvir a música de Amud, há que se ter disponibilidade para inovações. Não há monotonia; tudo nela é feito para atiçar, para mexer, para fazer delirar, para buscar o reverso, para atiçar o futuro, para andar em círculos, para se achar em becos e em atalhos.
        Sacradança tem dez faixas que são como curtas-metragens, ou como cenas de um musical dramático e patético. Plena de subtexto, a música de Thiago sacode o ar e dissemina utopias. Rica em melodia e harmonia, sua música seduz. E assim provavelmente foi com Guinga, que se dispôs a cantar com Thiago “Irreconhecível”, música dedicada pelo autor à própria mãe, e que é um soco na boca da falsa candura do senso comum, o qual só se refere ao tema como amor incondicional.
        Assim é tudo o que Thiago Amud cria: a cada sobressalto, o avanço; a cada alvoroço, o sorriso; a cada passo, surpresa; a cada dor, unguentos; a cada lágrima, amor; a cada amor, dor.

Aquiles Rique Reis
(músico e vocalista do MPB4).      

Nenhum comentário: