21.8.11

Vizinha chavista critica:"Insensato Novelão" cria nuevo paradigma



Minha vizinha chavista ligou lá de Miami, onde parou para fazer umas comprinhas e participar, como figurante, num capítulo da série CSI. É que ela está voltando de um SPA havanês, e no seu socialismo bolivariano-fashion sempre sobra um espacinho para um mergulho num shopping ao lado de celebridades brasileiras endinheiradas ou endividadas a dar com pau.
Eu até imagino nossa heroína bolivariana posando junto com Horatio Caine, abraçada ao "amante da camisa florida" (da publicidade da AXN), prometendo contar detalhes da sua aventura ideológica-fitness.
Ela não me deu tempo para divagações e foi logo tascando - disse que deu um chega pra lá no Horatio, amarrou o amante da camisa florida numa cadeira à beira da piscina, (na qual um cadáver esperava para ser periciado) e telefonou de um "orejón" de Little Habana para dizer que sente muitas saudades dos bons tempos, quando me perturbava com suas teorias conspiratórias e planos mirabolantes para tomar a Rede Globo e implantar o poder midiático socialista, cujo programa educativo consistia em liquidar o departamento de jornalismo da emissora (que estava ocupado em produzir, segundo ela- ficções) e exibir novelas, em regime de 24 horas para ajudar os compañeros cubanos a enfrentar la dura realidad del embargo norteamericano.
Ela, já em bom portunhol, disse :
- Compay, escreva lá no seu "grogue"... (não sei se vocês se lembram que ela insiste em chamar meu blogue de grogue)..diga lá no seu grogue que eu tenho uma ideia sensacional para la próxima novela das nueve. Lá em La Habana, yo consegui um esquema increíble para ver a novela Insensato Coração. Os companheiros inventaram uma parabólica usando un paraguas gigantesco daqueles usados no Hotel Nacional para abrigar turistas em dias de chuva. No me preguntes nada más! Estes mecânicos sensacionais de La Habana conseguem fazer qualquer coisa depois que alcançaram êxito em botar para funcionar estos Cadillacs de 1950! Estoy encantada ! Imagina che, que un problemita de comunicacíon és sopa para esta gente maravijosa!
Mas vamos ao que interessa. No me gustó El Insensato Novelón! Muitos furos na reta final, erros de continuidade e cenas flaquitas.
Minha ideia es la seguinte: acho que, pelo número de mortes que essa pérola da teledramaturgia exibiu, deu para sacar uma tendência da novela pós-moderna e pós-derrocada geral do sistema financeiro internacional provocado pela ganância de uma meia dúzia de espertinhos... Ih, acho que me afastei do tema, caramba! Vou tentar de novo: acho que essa peça rara de nossa teledramaturgia (Insensato Pacotón) acabou por constituir um divisor de águas barrentas, criou um verdadeiro paradigma e uma metáfora. Começemos pela metáfora: a novela como morte lenta. Usted já se ha quedado a pensar quanto tempo de vida a gente perde diante da telinha assistindo a vida dos outros? É isso aí; assistimos a novela enquanto morremos!!!! Mas isso é filosofia baratíssima, te quedes quieto! Presta atenção…O paradigma: na novela futura, todos morrerão. Na verdade, na novela da vida, todos vamos morrer, dia mais, dia menos, para regozijo dos coveiros, - mas isso é papo de calaveras malamadas. Voy tentar me explicar de otro modo: na novela do futuro, um a um os personagens serão mortos, até sobrar o último, que vai tentar matar o autor - esse grande assassino, que escapou das teorias Foucault - esse Kojak de bota cano alto e chicotinho na mão.
O autor que não é besta,(e tem muitas contas para pagar), depois de conseguir enganar o último personagem e o público com falsos textos, releases ilusórios, cumplicidade da mídia de fofoca, etc, etc, mata o tal personagem com requintes de crueldade - bem ao gosto dos nossos tempos. Em síntese: no fim, sobra só o autor que desliga a TV. Quer dizer, mata o espectador. Enfim, o espectador emancipado! Não é genial, chiquito?

Aí caiu a ficha do "orejón" e eu, como sempre, fiquei sem palavras. É muita dialética para mi pobre cabecita. Deixo esse problema para o Rancière e uma advertência.
Te cuida, Gilberto Braga! Essa minha vizinha chavista és un peligro!

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