6.9.11

João Nogueira: um bambambã refletido no espelho artístico de Didu e Gisa Nogueira, nesta terça, em show na Lapa





"O meu colar veio da Bahia, ninguém vai me derrubar/o meu amor, não ligue, por favor, a ninguém vou dar/eu vou sambar até gastar o meu chinelo novo/quero esquecer a vida, cair na avenida, me perder no povo..."

        Prezados amigos,

        Lembro-me da minha emoção, ainda adolescente, em 1972, ouvinte do programa de Adelzon Alves nas madrugadas da Rádio Globo, quando soube do lançamento do primeiro elepê de João Nogueira (foto acima), que me cativou pela junção da tradição do samba, com jeito de Wilson, Geraldo e Noel, com um modo seu e diferente de interpretá-lo. "Alô, Madureira!", exclamava João, vivendo verso em verso, em uma das faixas, um mosaico de cenas cotidianas do subúrbio, as quais conheceu tão bem e também poderiam ser do seu Méier de berço, que ainda, inicialmente, lhe conheceu a veia autoral, manifesta no combustível da movimentação alegre do Labareda, do qual já era diretor aos 17 anos. Nesse bloco do bairro, foram cantados os seus primeiros sambas, dos quais um, "Espere, Ó Nega!", com João acompanhado de integrantes do futuro conjunto Nosso Samba, chegou a um compacto da Copacabana graças ao apoio de outro componente, Aírton Silva, filho de Moacyr Silva, saxofonista e, então, diretor musical da Copacabana Discos. Dois anos depois, em 1970, essa história se repetia com a gravação de um grande samba de João, "Corrente de Aço", desta vez pela divina Elizeth Cardoso, que falou e disse em registro intermediado pelo filho dela, Paulo Valdez, amigo do compositor e também frequentador do Labareda. Com um outro amigo, então bancário como ele e um dos Foliões de Botafogo, Niltinho Tristeza (já vencedor de um carnaval por um sucesso internacionalmente conhecido, na parceria com Haroldo Lobo), João comporia um dos sambas mais marcantes do embalo do Cacique de Ramos - o dos versos em epígrafe - e gastaria outros "chinelos novos" se perdendo no povo e caindo na avenida com o Clube do Samba, por meio do qual, a partir de 1979, em companhia de outros bambas da MPB, trouxe um novo gás ao carnaval do Rio de Janeiro.    
        Nesta terça-feira, 6 de setembro, véspera de feriado, os 70 anos que João Nogueira completaria neste 2011 serão saudados, a partir das 20h, no show "Nogueireando", no Centro Cultural Lapa (Rua Santa Teresa, 15 - encostado nos Arcos), pela sua talentosa irmã, também professora aposentada e artista plástica atuante, Gisa Nogueira, e pelo sobrinho, filho desta, Didu Nogueira, importante produtor na área do samba. Em Gisa, João teve, aos 15 anos, provavelmente, a sua primeira parceria musical, ambos influenciados pelo pai, advogado, João Batista Nogueira, amigo de Pixinguinha, Donga e João da Baiana, além de espelho de eficiência em primas e bordões que não se quebrou na imagem absorvida por João, melodista refinado, e refletida com clareza ao longo da sua obra, especialmente com o mais duradouro entre os parceiros, Paulo Cesar Pinheiro. Afinal, deles surgiram preciosidades como "O Poder da Criação", "Batendo A Porta", "Minha Esquina", "Um Ser de Luz" (nesta com Mauro Duarte) e "Mineira" - as duas últimas em memória de Clara Nunes, que fora casada com o letrista. E lá foi ele, João Nogueira, no dia 5 de junho de 2000, vitimado por infarto, após sofrer derrames e AVC, embora, sem mais o seu jeito de fazer samba, reencontre a proximidade popular por obra de transformação, já em curso, do antigo cine Imperator, no Méier, em Centro Cultural que receberá o seu nome, acolhendo três salas de projeção, livraria, restaurante, teatro, espaço para exposições, livraria, café e bistrô, além de área verde de 1.200 metros quadrados. Um dia depois daquele triste 5 de junho, com o mesmo bilhete de ida sem volta, também deixaria o nosso convívio Moreira da Silva, que costumava dizer, em relação àqueles que procuraram em vão imitá-lo, que "quem é bom já nasce feito". Assim também sucedeu com o João em relação à música popular: quando nasceu, já estava pronto.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

        Um abraço,

        Gerdal

Pós-escrito: a) com violão e direção musical de Celso Lima, "Nogueireando", além da homenagem prevista a João Nogueira (também em foto, acima, na capa do seu primeiro elepê, com produção de Adelzon Alves) e de sambas de Gisa Nogueira por ela mesma, Didu, pela primeira vez, mostrará sambas de sua autoria. Os demais músicos participantes do show são Tiago Machado, ao cavaquinho, e Édson Cortes e Marco Basílio, aos instrumentos de percussão. Gisa e Didu estão lado a lado em outra foto acima:   
                  b) com exceção do terceiro, do sexto e do sétimo "links", em que ouvimos três sambas de Gisa Nogueira ("Terno Branco", na voz de João Nogueira; "Opção", sucesso de Clara Nunes, cantado por Gisa; e "Saldo Positivo", em imagens do "Fantástico", da TV Globo, de 1979, com ela e o irmão),  temos nos demais composições de João: 1) "Dama da Noite", da parceria com Maurício Tapajós, mostrada por um cantor assobiador, Marcello D`Pinho; 2) "Das Duzentas pra Lá", sucesso da carreira da cantora e show-woman carioca Eliana Pittman; 4) "Baile no Elite", com a letra de Nei Lopes, irretocável e sempre muito bem alojada na melodia; 5) "Nicanor Belas-Artes", com a letra bissexta e bem mandada do genial humorista e neo-octogenário Chico Anysio.                

         http://www.youtube.com/watch?v=LshnZwuUx84 ("Dama da Noite")

         http://www.youtube.com/watch?v=8hfs2VTcHiA ("Das Duzentas pra Lá")

         http://www.youtube.com/watch?v=enywJUoQP_A ("Terno Branco")

         http://www.youtube.com/watch?v=re999JFnkKo ("Baile no Elite")
                
         http://www.youtube.com/watch?v=YVW4kRJ4-aA ("Nicanor Belas-Artes")

         http://www.youtube.com/watch?v=Lyd-hf162lA ("Opção")

         http://www.youtube.com/watch?v=HUyynkpvqTg ("Saldo Positivo")      

2 comentários:

RUI DE CARVALHO disse...

O maior sambista de todos os tempos!

RUI DE CARVALHO disse...

O maior sambista de todos os tempos!