27.9.11

Maurício Tapajós: um compositor de fibra em meio a querelas de um Brasil ainda desconhecido do Brazil





"Tapir, jabuti/iliana, alamanda, ali, alaúde/piau, ururau, aki ataúde/piá-carioca, porecramecrã/jobim-akarore, jobim-açu..."

Prezados amigos,

E o Brazil ainda não conhece o Brasil. Persistem, em sua extensão continental, as querelas daquele com "s", tão bem cantadas por Elis Regina e pelo Quarteto em Cy, em relação à ocupação senhorial daquele com "z", imponente e influente, com nítido reflexo na comunicação de massa. O tal do colonialismo cultural que, em 1978, em plena vigência da ditadura militar, motivava em letra de Aldir Blanc, recheada de expressões do tupi-guarani (acima) e sugestivos neologismos, um sinal de alerta sobre a autenticidade cultural do país ao mostrar-se com a cara no espelho. Na parceria do protesto, o hoje um tanto esquecido Maurício Tapajós (foto acima), também violonista e produtor, cedo desaparecido das lides da MPB ao falecer, em 21 de abril de 1995, onde morava, em Ipanema, aos 51 anos, por contratempo cardíaco.
Carioca de Botafogo e formado em arquitetura, Maurício, tendo a família que teve - filho do cantor e radialista Paulo Tapajós, irmão do letrista e também arquiteto Paulinho Tapajós e da cantora Dorinha Tapajós, também precocemente falecida, em 1988, aos 38 anos - não poderia esquivar-se do seu DNA artístico, constituindo uma obra musical sólida e de sucesso com parceiros variados. Entre eles e entre outras (composições), Paulo César Pinheiro, no incisivo "Pesadelo" - marco da luta, nos anos 70, pela liberdade de expressão no país -, gravado pelo MPB4; Hermínio Bello de Carvalho (foto acima), no nostálgico "Mudando de Conversa", de balanço cativante na voz de Doris Monteiro; João Nogueira, na ode boêmia "Dama da Noite", que, além deste, o próprio Maurício mandou bem no autoral "Olha Aí", que fez pelo selo independente Saci, que criou, "falando de cadeira" da própria inspiração, em todas as faixas, como na de abertura do elepê, um samba vibrante e bem sacado na parceria com Cacaso (foto abaixo - aliás, o primeiro letrista que teve em música gravada: "Carro de Boi", em 1965, pelo conjunto Os Cariocas. Obstinado combatente pela correção da distribuição de direitos autorais, foi fundador e presidente da Amar (Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes). Um cara de fibra.
Um bom dia a todos. Grato pela atenção a esta singela lembrança desse grande compositor.

Um abraço,

Gerdal

Pós-escrito: nos "links" seguintes, composições de Maurício Tapajós: 1) "De Palavra em Palavra" (com Paulo César Pinheiro e Miltinho do MPB4), na interpretação do MPB4; 2) "Querelas do Brasil" (com Aldir Blanc), no doce uníssono do Quarteto em Cy, em faixa-título de elepê lançado em 1978; 3) "Dama da Noite" (com João Nogueira), em registro de João Nogueira; 4) "Mudando de Conversa" (com Hermínio Bello de Carvalho), cantado por Doris Monteiro; 5) "Pesadelo" (com Paulo César Pinheiro), também pelo MPB4; 6) "Tô Voltando" (com Paulo César Pinheiro), também chamado de "o hino da anistia", no recado altissonante da gonçalense Selma Reis.

http://www.youtube.com/watch?v=8hT7yTUngh4
("De Palavra em Palavra")

http://www.youtube.com/watch?v=n-E2anjGXb8
("Querelas do Brasil")

http://www.youtube.com/watch?v=qff2xfqr77o&feature=related ("Dama da Noite")

http://www.youtube.com/watch?v=bfSvkTOi6vQ ("Mudando de Conversa")

http://www.youtube.com/watch?v=y0xRfgeJLNo ("Pesadelo")


http://www.youtube.com/watch?v=vBj7BV-C3fU ("Tô Voltando")

(NR: Na terceira foto acima, Maurício Tapajós aparece ao lado de Cacaso)

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