30.9.11

Caco Velho por Germano Mathias nesta sexta em Sampa: 40 anos sem o gaúcho que teve o seu momento como o sambista infernal




 "Pode me chamar de louco/que até acho pouco/pode dizer o que quiser/pode até me dar pancada/que eu não digo nada/porque o meu fraco é mulher..."

     
 
      Nos anos 60, o porto-alegrense Mateus Nunes, cuja vida artística desenrolou-se, na maior parte dos anos, em São Paulo, já posava, nessa megalópole, de empresário da noite, dono do Brazilian`s Bar, movimentada boate à qual se dirigiam artistas nacionais e estrangeiros, como o paulistano fala-mansa Agostinho dos Santos e o francês boa-pinta Sacha Distel, ambos cantores. Largando o negócio, Mateus, mais uma vez, viveria e trabalharia no exterior - em San Francisco, de 1966 a 1968, e, em seguida, em Lisboa, onde uma toada de sua autoria, "Mãe Preta" ("...enquanto a chibata batia no seu amor/mãe preta embalava o filho branco do sinhô"), fez muito sucesso transformado no fado "Barco Negro", na voz sobranceira de Amália Rodrigues, com versos modificados pelo poeta português David Mourão-Ferreira ("de manhã, que medo, que me achasses feia/acordei, tremendo, deitada na areia/mas logo os teus olhos disseram que não/e o sol penetrou no meu coração"). Na década anterior, de 1955 a 1957, logo após atuar, na capital paulista, como "crooner" do pianista Robledo, foi para Paris, onde cativou, especialmente, a atenção dos frequentadores da boate La Macumba com sua voz de curta extensão, mas muito bem alojada na canção, até com graça, além da capacidade de improviso e do notável senso rítmico - nos anos 40, ainda na rádio gaúcha, no regional de Piratini, cantava e já se destacava como pandeirista. Sob os "spots" da Cidade Luz, com a "beca" costumeira das suas aparições no palco, dava voz à orquestra de George Henri, e o seu agrado geral foi de tal ordem que um convite logo surgiu para que gravasse um hoje "collector`s item" "Une Soirée à la Macumba" (capa acima), elepê que documentava esses "jours de gloire" - ou melhor, "soirs de gloire"- em domínios sablonianos.      
      A epígrafe desta dica tem motivação em sucesso de que Mateus Nunes foi lançador, em 1946, destacando-se ainda na interpretação, dotada de bossa e não raro jocosa, de outros sambas, como "Não Bobeie, Kalamazu", feito com Nilo Silva, "Bom-bocado", do campinense Denis Brean, e "Tem Que Ter Mulata", do conterrâneo Túlio Piva, um balaio musical em parte recordado em recente tributo que lhe foi prestado em CD por um outro vulto do sincopado, de mesma têmpera artística, diretamente influenciado por ele, Germano Mathias, O Caricaturista do Samba. Matheus também passou pelo cinema, atuando, sob a direção de José Carlos Burle e ao lado de Grande Otelo, Oscarito, Cyl  e Dick Farney" em "Carnaval Atlântida", de 1952, e em "Carnaval em Lá Maior", de Ademar Gonzaga, em 1955, por exemplo, já conhecido do público como O Sambista Infernal ou "o homem da cuíca na garganta" por, respectivamente, suas reinações rítmicas e pela imitação do instrumento de percussão, com a qual realçava as vocalizações que fazia. Uma faceta, esta, da sua arte a remeter um admirador à infância do artista, quando, para ajudar a avó nas despesas do lar, ganhava seus primeiros tostões em Porto Alegre, no Bar Flórida, vendendo balas e cigarros em tabuleiro e já atraindo o olhar de circunstantes por um belíssimo samba de Ary Barroso que gostava de entoar: " ...a vida é essa/é um segundo que se vai depressa/todos nós temos o nosso momento/depois dele, só o esquecimento." Saindo cedo desta "para melhor" - em 14 de setembro de 1971 -, do título do referido samba adviria o nome que lhe traria nomeada: Caco Velho. Ou "Le Petit Caco", para os aplausos de "messieurs et dames".    
      Nesta sexta-feira, 30 de setembro, em Sampa, Germano Mathias, com o vibrante acompanhamento dos Inimigos do Batente, é a atração desta edição do Anhanguera Dá Samba! ("flyer" acima) , fazendo simpática incursão na música deixada por Caco Velho, que fez parte da ala dos "sui generis" da MPB, como ele faz.
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Pós escrito: nos dois primeiros "links" seguintes, Caco Velho canta "Por um Beijo Teu", samba de 1950, da autoria de Cyro de Sousa, e "Não Faça Hora Comigo", que compôs com Henricão e gravou, em 1963, no elepê "O Comendador da Bossa Nova"; no terceiro "link", Germano Mathias, no imperdível programa de Rolando Boldrin, "Sr. Brasil", da TV Cultura (SP), diz "Meu Fraco É Mulher", samba composto por Conde e Heitor de Barros; no último "link", como ilustração do porquê da alcunha artística de Mateus Nunes, Antonio Carlos Jobim, ao piano caseiro, manda o seu recado de "Caco Velho". 
  
 
         http://www.youtube.com/watch?v=t9lIIBDdl5Q ("Por um Beijo Teu")

         http://www.youtube.com/watch?v=B_7iK5Trb8Q&feature=related ("Não Faça Hora Comigo")

        http://www.youtube.com/watch?v=fmOAoxuycYM
("Meu Fraco É Mulher")

         http://www.youtube.com/watch?v=sScESit2LOY&feature=related ("Caco Velho")

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