6.12.11

Frases na cidade ausente



Ouvi e (vi) na semana passada: meninos e meninas cheirando solvente em garrafas pet - eles riam e zoavam / dois mendigos dançavam de forma muito elegante ao som de uma música americana no Largo do Machado. Um jovem perguntou a uma garota sentada num gradil próximo do CCBB: Você gosta de poesia?
Uma criança disse para a mãe ao entrar no elevador do meu prédio: Adoro Natal!
Numa passeata, alunos do pré-escolar gritavam um slogan e exibiam cartazes na rua General Glicério: Xô cocô! (Uma campanha contra os donos de cães que acreditam que aquela rua é um banheiro para seus animais de estimação que fazem au au.
Em Copacabana, uma mulher agitava os braços e falava irada com um poste. (não consegui ouvir a sua voz)
Vi árvores, por todo canto da cidade com pequenas lâmpadas a piscar.
Vi um livro num sebo, por 10 reais: Assim caminha a humanidade. (a capa estava rasgada)
Um sino tocou. Por quem os sinos dobram?

2 comentários:

Berzé disse...

Oi Lib!
Somos isso tudo. Cachorros caídos de um caminhão em eterna mudança, mas...que tem poesia, tem.Eu quase afirmo.
Abração!
Berzé

LIBERATI disse...

Isso mesmo, caro Berzé, sua definição é nuito bem sacada: somos isso tudo. Cachorros caídos de um caminhão..." E o pior é que tem poesia, mas ainda me angustia ver tanta diferença, tanta perversidade na cidade ausente. Cidade que não se comunica mais com aqueles que passam desconectados de uma vida que poderia ser compartilhada e mais justa e que o solvente servisse apenas para limpar superfícies, remover camadas de tinta velha, diluir a insensibilidade. Todos conectados em pequenos aparelhos da tecnologia( toadores de mp3, celulares com seus ruídos "costumizados", siderando em outros territórios- longínquas esferas de um éter. Essa é a humanidade, seres microscópicos se vistos da nave espacial - de onde o astranauta vê ainda um planetinha azul...é azul Berzé, linda imagem da Terra, que deveria ser a mãe de todos, e não é.
Desculpe o travo amargo,
grade abraço