25.3.12

Chico Lobo traz ao Rio sua viola caipira para belo encontro, neste domingo, com as cordas alentejanas de Pedro Mestre




Como espectador da tevê paga, sinto falta daquela meia hora tão simpática e tão bem-vinda à imagem do Canal Rural, por vários anos, trazida pelo programa das gêmeas ubaenses Celia e Celma. Uma rara atração dedicada à música regional, na qual as cantoras costumavam visitar, na casa deles, artistas de notabilidade no ramo e, no tocante à viola e à magia do seu dedilhado e das suas afinações "rio abaixo e rio acima", entrevistando e mostrando a arte de, entre outros ases, Chico Lobo (foto acima). Do mesmo chão natal de Tancredo Neves e filho de seresteiro, Aldo Lobo, cresceu sob o encantamento da cultura barroca, das igrejas enfeitadas nas cerimônias da Semana Santa, dos cânticos nas procissões e, em particular, da passagem da folia de reis por sua casa, todo 6 de janeiro, a maravilhá-lo pelo toque característico do instrumento que, autodidata, abraçaria como profissão de fé. Com 12 anos de idade, ganhou do pai a primeira viola e, aos 20, com fé na profissão, após noviciado sanjoanense em grupo musical estudantil, estava em BH, tocando-a, recém-chegado e integrado a um importante grupo de danças folclóricas, Aruanda, cujo trânsito temático era embalado por ritmos que o também cantador e compositor já conhecia de sobejo, incluindo-se ainda aí, por exemplo, a catira e o cateretê.  Nessa empreitada, foram quase oito anos viajando pelo Brasil até, em 1990, principiar bem-sucedido e elogiado percurso solo, com numerosos shows e discos já gravados, destes fazendo parte, por exemplo, os ótimos "No Braço Dessa Viola" (o primeiro CD, em 1996), "Reinado" (o terceiro, em 2000), "O Violeiro e a Cantora" (de 2002, em companhia de Dea Trancoso, mineira da Almenara, cidade do Vale do Jequitinhonha) e "Viola Popular Brasileira" (em 2005, o seu primeiro DVD e o primeiro artístico, no gênero, feito no país). No CD "Palmeira Seca", de 2001, registrou a trilha composta para minissérie baseada em romance homônimo, escrito pelo laureado jornalista, também letrista, Jorge Fernando dos Santos (Prêmio Minas de Cultura Guimarães Rosa) e exibida pela Rede Minas.
           "Como a piracema, vou contrário às correntes do rio, nado contra a correnteza, como os peixes no instinto de se procriarem. Assim faço, optando por cantar a vida, a natureza, a preservação e os sentimentos de amor, fé, amizade e "cumpadricidade". Valores tão contrários aos encontrados na música de entretenimento e massificação. É minha sina, é meu destino falar da cultura e das terras de Minas, que tanto admiro. Tenho a grande oportunidade de percorrer cidades, vilas, fazendas, tantos cantos e encantos de Minas. Conhecer tanta mataria, tantos cursos d`água, tantas crenças, "causos" e tradições. Tanta riqueza que, cada vez mais, precisa do homem para a sua proteção, o mesmo homem que dessa riqueza faz mau uso. Que mundo os filhos de meus filhos herdarão?...Quando canto em cada lugar, canto para que o público possa ainda reconhecer-se quanto à sua identidade, pois a arte forma opinião, aglutina as pessoas am mutirão e pode ser expressão transformadora para o bem." Assim afirmando o seu cuidado ambientalista e um respeito pela tradição que não o impede de ser um "caipira do mundo", atento à informação contemporânea e levando o seu fulcro de brasilidade a palcos de países diversos, Chico Lobo faz rara apresentação para os cariocas, neste domingo, 25 de março, às 19h, no Teatro de Arena da Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25 - tel.: 2544-4080), em duo com o alentejano Pedro Mestre (foto acima). À viola campaniça do segundo junta-se a viola caipira do primeiro, "viola-mãe" e "viola-filha", em show de notas bem choradas que já deu corda a um CD conjunto, em 2007, até então não realizado, sobre o encontro luso-brasileiro dessas sonoridades naturalmente convergentes.
          Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

          Um abraço,

          Gerdal          

Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) Chico Lobo fala de si e do seu largo apreço pela viola; 2) toca, de sua autoria, "Vazante", ao lado de um cobra do violoncelo, Marcio Malard; 3) Chico Lobo toca e canta "Caipira", também sua; 4) "No Braço Dessa Viola", outra gema da sua lavra violeira, tem letra realçada por belíssima interpretação "a cappella" de Dea Trancoso; 5) Chico Lobo e Pedro Mestre tocam e cantam juntos em Jequitibá (MG); 6) Dea canta e Chico toca em gravação do tanguinho sertanejo "Viola Cantadeira", de Marcelo Tupinambá (pseudônimo do compositor tietense também chamado Fernando Lobo e falecido em 1953) com letra do revistógrafo Arlindo Leal.  


        http://www.youtube.com/watch?v=2H2-yvVSys4&feature=related
(Chico Lobo por Chico Lobo)

        http://www.youtube.com/watch?v=x4bX6jxC53Q&feature=related
("Vazante")

        http://www.youtube.com/watch?v=j2mNex5zuBI&feature=related
("Caipira")

        http://www.youtube.com/watch?v=S_scDREQDS0
("No Braço Dessa Viola")

        http://www.youtube.com/watch?v=7MjDCFO2DY4
(Chico Lobo e Pedro Mestre)

         http://www.youtube.com/watch?v=f1JHJIiks3Q
("Viola Cantadeira")

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