

Como espectador da tevê paga, sinto falta daquela meia hora tão simpática e tão bem-vinda à imagem do Canal Rural, por vários anos, trazida pelo programa das gêmeas ubaenses Celia e Celma. Uma rara atração dedicada à música regional, na qual as cantoras costumavam visitar, na casa deles, artistas de notabilidade no ramo e, no tocante à viola e à magia do seu dedilhado e das suas afinações "rio abaixo e rio acima", entrevistando e mostrando a arte de, entre outros ases, Chico Lobo (foto acima). Do mesmo chão natal de Tancredo Neves e filho de seresteiro, Aldo Lobo, cresceu sob o encantamento da cultura barroca, das igrejas enfeitadas nas cerimônias da Semana Santa, dos cânticos nas procissões e, em particular, da passagem da folia de reis por sua casa, todo 6 de janeiro, a maravilhá-lo pelo toque característico do instrumento que, autodidata, abraçaria como profissão de fé. Com 12 anos de idade, ganhou do pai a primeira viola e, aos 20, com fé na profissão, após noviciado sanjoanense em grupo musical estudantil, estava em BH, tocando-a, recém-chegado e integrado a um importante grupo de danças folclóricas, Aruanda, cujo trânsito temático era embalado por ritmos que o também cantador e compositor já conhecia de sobejo, incluindo-se ainda aí, por exemplo, a catira e o cateretê. Nessa empreitada, foram quase oito anos viajando pelo Brasil até, em 1990, principiar bem-sucedido e elogiado percurso solo, com numerosos shows e discos já gravados, destes fazendo parte, por exemplo, os ótimos "No Braço Dessa Viola" (o primeiro CD, em 1996), "Reinado" (o terceiro, em 2000), "O Violeiro e a Cantora" (de 2002, em companhia de Dea Trancoso, mineira da Almenara, cidade do Vale do Jequitinhonha) e "Viola Popular Brasileira" (em 2005, o seu primeiro DVD e o primeiro artístico, no gênero, feito no país). No CD "Palmeira Seca", de 2001, registrou a trilha composta para minissérie baseada em romance homônimo, escrito pelo laureado jornalista, também letrista, Jorge Fernando dos Santos (Prêmio Minas de Cultura Guimarães Rosa) e exibida pela Rede Minas.
"Como a piracema, vou contrário às correntes do rio, nado contra a correnteza, como os peixes no instinto de se procriarem. Assim faço, optando por cantar a vida, a natureza, a preservação e os sentimentos de amor, fé, amizade e "cumpadricidade". Valores tão contrários aos encontrados na música de entretenimento e massificação. É minha sina, é meu destino falar da cultura e das terras de Minas, que tanto admiro. Tenho a grande oportunidade de percorrer cidades, vilas, fazendas, tantos cantos e encantos de Minas. Conhecer tanta mataria, tantos cursos d`água, tantas crenças, "causos" e tradições. Tanta riqueza que, cada vez mais, precisa do homem para a sua proteção, o mesmo homem que dessa riqueza faz mau uso. Que mundo os filhos de meus filhos herdarão?...Quando canto em cada lugar, canto para que o público possa ainda reconhecer-se quanto à sua identidade, pois a arte forma opinião, aglutina as pessoas am mutirão e pode ser expressão transformadora para o bem." Assim afirmando o seu cuidado ambientalista e um respeito pela tradição que não o impede de ser um "caipira do mundo", atento à informação contemporânea e levando o seu fulcro de brasilidade a palcos de países diversos, Chico Lobo faz rara apresentação para os cariocas, neste domingo, 25 de março, às 19h, no Teatro de Arena da Caixa Cultural (Av. Almirante Barroso, 25 - tel.: 2544-4080), em duo com o alentejano Pedro Mestre (foto acima). À viola campaniça do segundo junta-se a viola caipira do primeiro, "viola-mãe" e "viola-filha", em show de notas bem choradas que já deu corda a um CD conjunto, em 2007, até então não realizado, sobre o encontro luso-brasileiro dessas sonoridades naturalmente convergentes.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
Um abraço,
Gerdal
Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) Chico Lobo fala de si e do seu largo apreço pela viola; 2) toca, de sua autoria, "Vazante", ao lado de um cobra do violoncelo, Marcio Malard; 3) Chico Lobo toca e canta "Caipira", também sua; 4) "No Braço Dessa Viola", outra gema da sua lavra violeira, tem letra realçada por belíssima interpretação "a cappella" de Dea Trancoso; 5) Chico Lobo e Pedro Mestre tocam e cantam juntos em Jequitibá (MG); 6) Dea canta e Chico toca em gravação do tanguinho sertanejo "Viola Cantadeira", de Marcelo Tupinambá (pseudônimo do compositor tietense também chamado Fernando Lobo e falecido em 1953) com letra do revistógrafo Arlindo Leal.
http://www.youtube.com/watch?v=2H2-yvVSys4&feature=related (Chico Lobo por Chico Lobo)
http://www.youtube.com/watch?v=x4bX6jxC53Q&feature=related ("Vazante")
http://www.youtube.com/watch?v=j2mNex5zuBI&feature=related ("Caipira")
http://www.youtube.com/watch?v=S_scDREQDS0 ("No Braço Dessa Viola")
http://www.youtube.com/watch?v=7MjDCFO2DY4 (Chico Lobo e Pedro Mestre)
http://www.youtube.com/watch?v=f1JHJIiks3Q ("Viola Cantadeira")
Nenhum comentário:
Postar um comentário