29.9.07

Procura-se Salinger desesperadamente


A partir de hoje, vou publicar em partes (por que é muito longa) uma resenha antiga que tirei do fundo do baú e que foi matéria de capa do Caderno Idéias-Livros do JB de 8 de julho de 1990. Trata-se de “O Enigma Salinger”. Fala de uma biografia que o escritor inglês Ian Hamilton tentou fazer, usando todos os seus talentos para levar o ramancista de “O Apanhador no Campo de Centeio” a sair de sua teimosa reclusão numa pequena cidade do interior e abrir os seus “arquivos” para fornecer algo novo na narrativa obscura que envolve sua vida. Mas a esfinge não deu bola para o biógrafo que teve que recorrer à imaginação para reconstruir alguns aspectos da trajetória desse magnífico autor e ferrenho defensor de sua privacidade. Como aconteceu pouca coisa desde que essa resenha foi publicada, acho que ela ainda é atual, e como se dizia no tempo de “O Pasquim”:” continua válida, e inserida no contexto”. Claro que nesse meio tempo rolou um livro ressentido de uma moça chamada Joyce Maynard que tem por título“Abandonada no Campo de Centeio- meu caso de amor com J.D. Salinger” (Geração Editorial) que tentou detonar o velho Jerome e não ilumina muita coisa da vida e a obra desse autor. (Talvez eu consiga, mais tarde, recuperar a resenha deste outro livro de forma a permitir um apanhado mais completo desse “Apanhador” irrecuperável (no bom sentido, é claro).
O Livro de Hamilton que passarei a historiar tem por título “Em busca de J.D. Salinger” foi publicado no Brasil pela editora “Casa Maria” . A tradução é de Adalgisa Campos da Silva.
Antes de mais nada, quero dizer que minha história com Salinger começou com a leitura apaixonada de “9 estórias” e depois “O apanhador no Campo de Centeio” e aí veio Franny & Zooey e “Pra cima com a viga moçada” No meio dessa travessia literária aconteceu esta resenha que agora passo a publicar, e quando percebi, estava “desenhando” as capas dos livros dele que são publicados pela simpaticíssima Editora do Autor que pertence ao meu amigo Dr. Acosta que eu admiro e respeito muito.
Lá vai então:
PROCURA-SE SALINGER DESESPERADAMENTE
O inglês Ian Hamilton sabia que pisava em terreno minado quando começou a se mover na direção da figura mítica de Jerome David Salinger, autor de “O Apanhador no campo de centeio” (The catcher in the rye). Pesquisador experiente, não tinha dúvida de que era algo como resolver um enigma a sua tentativa de fazer um retrato em close do monstro sagrado, revelar a verdadeira pessoa oculta no cipoal de lendas e pistas falsas.
Aos 70 anos (em 1990, lembrem-se) Salinger é hoje (e ainda hoje em 2007) o mais célebre recluso da literatura Americana. Há um quarto de século ele está recolhido em Cornish, New Hampshire, mantendo-se em silêncio quase absoluto. Publicou seu último conto, Haptorn, 16, 1924, na revista The New Yorker, em 1965, e recusa qualquer contatocom jornalistas e scholars desde quando se sentiu traído pela garota que o entrevistou em 1953 para o Daily Eagle, de Claremont, que não publicou a reportagem na página estudantil, como fora combinado.
Quebrou o silêncio três vezes. A primeira em 1959, quando escreveu ao New York Post a fim de se manifestar sobre a situação dos condenados à prisão perpétua, que não podiam aspirar à liberdade condicional antes de cumprir 20 ou 30 anos de pena. Na segunda, em 1974, ele telefonou para The New York Times queixando-se de que estava em circulação uma edição pirata de seus primeiros contos: “Já imaginou se você tivesse um casaco de estimação e alguém o roubasse? É isso o que estou sentindo.” Acrescentou, então, que desejava para suas histórias Aa “morte natural”. A terceira vez em que saiu à luta foi por causa de Ian Hamilton. É aí que começa nossa história… (continua no próximo capítulo)

3 comentários:

Anônimo disse...

De sua introdução à resenha:
coincidências! Jung diria: sintonias.

Sei de uma história parecida, só que a "moça ressentida" foi confundida com outra, uma estranha a viver noutro continente. E o figurão, já em outras esferas, lembra-se vagamente da tal moça-amarga, idealizando-a a partir de uma terceira, de quem ele realmente gostou na juventude mas na época não rolou nada, ficou tudo na fantasia.
Não sou Salinger, mas... isso dá livro? :-)) Não roubem meu tema!!!

Aguardo pela resenha "em capítulos" novelescos.
Bom fim de semana!

Anônimo disse...

esqueci de dizer: a ilustra está legal!

LIBERATI disse...

O ressentimento é o pior dos sentimentos, já dizia o bigodudo de Röcken - o grande Frederico Nietzsche. A tal moça, hoje uma senhora, Joyce Maynard até passou pelo Brasil, acho que numa dessas Bienais para promover o livro. Nisso acho que também ela se deu mal. O pessoal mal lê o magnífico escritor que é J.D. Salinger, imagine se vai ler alguém que morou um tempo com ele e deitou falação sobre as esquisitices dele. A galera mal conhece o cara!
Não fique preocupada Tinê, ninguém roubará seu tema. Continuarei essa longa resenha em doses homeopáticas (afinal são 4 páginas do Caderno Idéias nos tempos que era tablóide)
Gosto de ilustrar o velho Jerome, apesar de que ele não gosta de ilustrações em seus livros, nas capas nem pensar. Necas de fotos dele também nas contracapas.Bom fim de semana com J.D. nas paradas.
bjs