29.12.07

Fragmento do dia - Fina ironia

"A cidade que os portugueses construíram na América não é produto mental, não chega a contradizer o quadro da natureza, e sua silhueta enlaça na linha da paisagem. Nenhum rigor, nenhum método, nenhuma previdência, sempre esse significativo abandono que exprime a palavra "desleixo" - palavra que o escritor Aubrey Bell considerou tão tipicamente portuguesa como "saudade" e que, no seu ententer, implica menos falta de energia do que uma íntima convicção de que "não vale a pena"...
(Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil" - Livraria José Olympio Editora)
Nota da Redação: Pode não se concordar com tudo o que esta frase diz, mas é sensacinal a conclusão de Aubrey Bell (em Portugal of the Portuguese - Londres 1915) - "intima convicção que não vale a pena" é de uma fina ironia,se é que se pode falar assim...

4 comentários:

TS disse...

A minha cartilha descrevia o rei-fujão;
lá, em meio aos aposentos reais vazios, aprendi que não foi uma fuga, e sim uma estratégia;

não foi "desleixo", foi desespero de última hora e que não deixou saudades;

foi o maior "improviso" realizado pelos portugueses;

sem teoria, sem leituras, sem penadas: herdamos este comportamento tal como as receitas com gemas de ovos, não acha?

LIBERATI disse...

Querida Tinê, a perspectiva de Sérgio Buarque nesta obra que é de 1936, (se eu não me engano) não é de maneira nenhuma aquela que desclassifica a civilização ibérica. Apenas anota características distintivas de Portugal e Espanha. A Espanha traçou um padrão para a construção de suas cidades, um plano onde sempre tem uma Plaza de Armas, outra Plaza del Gobierno e Avenidas centrais, enfim um desenho- portanto produto mental que se repetiu por toda a América Espanhola. A visão pertuguesa já deixou a construção correr solta se adaptando à paisagem - uma ou outra intervenção em São Paulo que era no século XVII uma vila caindo aos pedaços com cadáveres de índios jogados pelas ruas. Construções de pedra só em Santos. O caráter exploratório , predatório era o mesmo, a fúria conta o gentio a mesma, porém um tinha pelo menos um plano de continuidade, o outro tinha no começo uma idéia de arrancar riquezas. Depois mudou de idéia com Junot, uma esperteza de Dão João, político sagaz , passou a perna em Napoleão que naquelas alturas não estava muito interessado em Portugal, sua cabeça estave em outras frentes de batalha. Ficou naquela posição, perdeu a guerra. O Brasil ainda não era uma nação, tornou-se um lugar do Império luso. Aos poucos virou nação (coisa muitíssimo discutida e até hoje pouco esclarecida). Mas Portugal é um belo país, se sua história, por tabela criou uma colônia como a nossa, se sua relação foi de um determinado tipo de exploração e depois mudou , se se alterou e criou uma civilização nos trópicos muito diferenciada dos nossos hermanos de fronteira e dos brothers do norte, isso é matéria pra muita discussão e a nossa historiografia está aí aberta para discussão, muitos paradoxos,contradições, preconceitos e idelogias num caldeirão que me diz que isso aqui ou vira uma Colômbia Continental(como temia Vargas Llosa- es asi que se escreve?) ou se transforma num país com imensas possiblidades de ingressar no mundo das grandes potências.
Um beijão, um ano novo de muita sorte. Obrigadão pela sua colaboração imensa para o bom humor e vida deste blogue

Anônimo disse...

Dizem que jardim chinês as plantas crescem sem o jardineiro nelas tocar e que no japonês o jardineiro mexe em tudo.
Liber e Tinê saiu o blog dos jatakas, vidas passadas (em sânscrito): http:/vidasdebuddha.blogspot.com. VOu seguir a ordem das vidas. aceito críticas construtivas. zé

LIBERATI disse...

Valeu Zé, já fui lá e acho que foi um grande passo neste fim de 2007. Acredito que vai dar o maior pé!
Parabéns. Serei leitor assíduo.
Um abração