6.12.07

Minha vizinha Chavista em greve de fome


Faz uma semana que minha vizinha chavista está em greve de fome. Fui informado pela sua empregada (que ela chama de companheira) que a última coisa que essa doce senhora comeu foi uma feijoada completa no sábado. A completude , se é que me entendem, incluia tudo o que tinha direito (e o que não tinha- menos ambulância, que é um item importantíssimo para a felicidade do evento, como diria Sergio Porto). Ela mandou para dentro desde o lombinho e a lingüiça no espeto até a orelha e o pé esquerdos do porco.(os direitos ficam para os reacionários de plantão). Não se pode esquecer do chouriço e do torresmo pururuca, tudo regado a rum Havana Club e caipirinha. A laranja alí era só para lembrar do Renan, que ela quer ver longe do Congresso.
- Renância não vale! Ela exclama aos 7 ventos. Fala dele como excrescência do "collorismo chinês". Talvez queira dizer com isso que ele participou daquele plano arquitetado à sombra da Grande Muralha da China para eleger o filho favorito de Alagoas para o cargo máximo do Planalto Central deste desgraçado país descoberto em 1500 por Pedro Álvares e redescoberto pelo Governador Sergio Cabral nessa comemoração do desembarque do Dão João 6º nas praias da Guanabara em 1880.
Ao saber do estado quase comatoso dela, sem comer desde que leu no jornal que seu ídolo libertador , o iluminado Chávez tomou um NÃO pelas fuças, fui lá munido de uma macarronada preparada no melhor estilo napolitano.
Ela só não vomitou quando viu o prato, porque nada havia em seu estômago para expelir como repulsa político-disgestiva. (Uma nova forma de manifestação inspirada em "O Exorcista")
- Não me venha com chantagens pequeno-burguesas, não como essa m...!
Tascou um palavrão. Dei um desconto, porque o Antônio Fagundes diz a mesma coisa naquela favela-bairro, (ou seria novela-bairro?) a Portelinha, no horário das 7 lá de Belém do Pará.(que não está em sintonia com o horário de verão aqui do sudeste).
-Belém do que? Ela perguntou como se voltasse do Hades.
Belém do Pará! Eu gritei:- Aquela cidade do norte onde nas suas franjas uma menina foi colocada numa cela com mais de 20 marmanjos pelas autoridades de plantão...
Num gesto brusco afastou o prato fumegante que eu tinha depositado no criado-mudo.
-Afasta de mim esse cálice, ela disse, entre o delírio e a licença poética.
- Perai, Dona ...(eu sempre esqueço o nome dela)...Eu fiz esse macarrão com todo carinho. Veja só: tomate de primeira que comprei na feira onde fiz uma longuíssima excursão no sábado, massa marca Barilla, grano duro...
-Estou decepcionadíssima com o povo venezuelano. Esse "NÃO" ao Chávez foi uma traição. Foi a voz da" Venezuela profunda", dos reacionários de sempre que não querem mudar a "nuestra América"... Ela murmurou, fechando os olhos como se fosse desfalecer...e assim ficou com a respiração curtinha de ave abatida.
Foi aí que eu consegui falar alguma coisa.
Disse a ela que nossos laços com a Venezuela são mais antigos, que vem de um período anterior ao Chávez. Que descobri surpreso nesse final de semana no qual embarquei numa viagem maluca que começou numa barraca de pastel da feira do Chorinho de Laranjeiras e acabou na Estação Consolação em plena Avenida Paulista. E que lá, para meu espanto decobri uma estátua que me mostrou uma outra realidade que bota de novo na pauta a teoria "das idéias fora do lugar" Aquele papo tão badalado que foi desenvolvida pelo grande pensador Roberto Schwarz em "Ao vencedor as batatas". A propósito um papo bem de feira cult, tipo Vila Madalena...Nesse caso, era uma estátua fora do lugar, ou uma Avenida, quem sabe? De qualquer modo, trata-se de um marco do nada a ver. Mas não dá para ignorar, ela está bem visível, alí quase na esquina da Paulista com a Consolação, de costas e colada a um outro monumento, que parece um candelabro estilizado.
A princípio pensei que fosse o nosso Alferes Tiradentes : O monumento representa um um homem vestido com roupas do século XVIII no momento em que está desembainhando uma espada. Denota bravura, sedição, enfrentamento, rebeldia, macheza ...
- Bem Venezuelana! minha vizinha retornou à vida, me cortou o lero e depois murchou. Parecia que prestava atenção, então continuei.
Pois é, cheguei bem perto da estátua para saber que era então me surpreendi: tratava-se do revolucionário venezuelano Francisco Miranda que lutou contra a coroa Espanhola, pela libertação da nuestra América.
- Um libertador! De novo ela me interrompeu e o macarrão esfriando...
Pois então, continuei, foi um lutador que nasceu em Caracas em 1750 e morreu na prisão em Cádiz, em 1816.
- Um autêntico chavista! Emendou ela, o que significa que o delírio retornara.
Vamos dizer que sim, retomei meu relato. Foi um herói nacional, inventou até a bandeira do país...Mas, por que diabos está alí na Avenida Paulista?
Em 1978, não sei porque cargas d'água, o governo da Venezuela doou essa estátua ao Brasil. O prefeito Jânio Quadros botou alí numa data que me esqueci de anotar. Mas não se exalte a toa, trata-se de uma estátua do "Paraguai", quer dizer, é uma cópia de uma original feita pelo escultor venezuelano Lorenzo Gonzales (1877-1948) que está cravada em Valmy, lá na terra de Asterix. A cópia "paulista" foi feita por Carmelo Tabacco (em 1975), um artista italiano que mora no território onde começa a Pátria Grande, ou seja, na Venezuela. Ah! Tem mais, existe uma outra cópia ( e olhe que não é xerox) em território do demônio Bush, leia-se EUA, lá na Filadélfia.
Foi só falar em Bush que ela acordou do seu transe, pegou o prato de macarrão e o engoliu em segundos.
Depois pediu caneta e papel e começou a redigir um pedido de" transposição" da referida obra para a pracinha do dominó, onde com seus companheiros brizolistas ela trama invadir a Globo e instalar um regime de novela integral.
-Aquela mecha branca!
Foi uma das palavras que balbuciou , com os dentes cerrados de raiva, enquanto escrevia em fúria faulkneriana ...
Sai de fininho. Vai que sobra pra mim!

5 comentários:

Anônimo disse...

Não partilho das idéias políticas da sua vizinha, mas adoro o jeitão "caco de vidro" com que ela discursa ou se furta - até entra em psico-transe! - do que não lhe interessa discutir.

LIBERATI disse...

Cara Tinê, essa minha vizinha me dá muito trabalho. Logo logo vai entrar em cena um amigo meu que mora nos jardins e que de uísque em punho me dá conselhos para eu me virar aqui no balneário decadente. És muele?
bjs

Anônimo disse...

Francisco Miranda. Francisco Miranda. Um Tiradentes . Revolucionário no tempo da Revolução. Que bateu na Escolástica : no fundo a Filosofia e a Escolástica não precisam brigar. 'filosofia ancilla teologia' zé

LIBERATI disse...

Pois é, Zé, o que Francisco Miranda está fazendo plantado na Avenida Paulista? É uma questão muito além da Escolástica. Nem a metafísica explica. Esqueci de dizer que foi para lá no tempo do Jânio ( na prefeitura de Sampa) , aí eu acho que está explicado.
Explique São Paulo? Difícil né!
Abração

Anônimo disse...

Este comunista;hugo chaves e um perigo as pessoas e os governos nao prestao atençao dessa ameaça;hiteler começou assim depois viu no que aconteceu.