6.12.07

Versus no ar de novo! Breve nas melhores livrarias da praça


(Com muito orgulho fui um dos ilustradores de Versus um jornal (revista?) na sua fase inicial(de 1975 a 77) ( o que poder ser conferido pela ilustração desse post- a assinatura pode ser vista com uma lupa - a ilustração neste caso foi auxiliada de maneira um tanto vanguardista pela diagramação, embora o desenho esteja mais para o realismo socialista) e cheguei até a criar o logo de Versus, que eram uns cavalinhos em fúria. Estava no começo de carreira como muitos outros, era um guri no meio de uns cobras da arte gráfica, tais como Toninho Mendes (nosso diagramador-mor), Edson Novais, Levi Mendes, Luis Gê, Angeli, Ricardo Papa, Clemen, Carlos Langone, George Duque Estrada, Massao, Noemi Ribeiro, Conceição Cahu, Magnani, Chico Caruso, Avani Stein, Alcy, Jota, Sandra Abdala, Jaime Leão, Rosa Maria, Lauro Augusto, Amauri, Ricardo Alves e outros... Agora, Omar L. de Barros Filho, o Matico resolveu botar a memória daqueles tempos heróicos em dia, organizou uma coletânea de textos de Versus e mandou este escrito que temos a honra de botar no ar ). Então, aqui vai
PÁGINAS DA UTOPIA

O Versus nosso de cada dia nos dai hoje


Por Omar L. de Barros Filho

Versus – Páginas da Utopia (coletânea de reportagens, narrativas, entrevistas e artigos), de Omar L. de Barros Filho (org.), 292 pp., projeto gráfico de Toninho Mendes, fotos de Rosa Gauditano/Studio R, co-edição Laser Press Comunicação e Azougue Editorial, Porto Alegre -Rio de Janeiro, 2007.

O projeto que deu origem a esta antologia começou a nascer no final dos anos 1990, quando conheci um assinante de Versus na fronteira do Brasil com a Bolívia, às margens do rio Guaporé, em Rondônia, onde vivi em uma fazenda isolada do mundo das notícias por muitos anos. Ele fazia parte de um grupo de consultores do Banco Mundial que percorria a área em busca de padrões de sustentabilidade para as atividades econômicas da região.

Ao me apresentar como jornalista e comentar que tinha sido editor de Versus nos anos 1970, ele disse: "Li e colecionei Versus por muito tempo. Foi, na época, o jornal que mais ajudou em minha formação política e me fez ver a América Latina de forma diferente".

Depois que nos despedimos, pensei se seria possível sintetizar em uma nova publicação o resultado da atividade frenética e da inquietação cultural que sempre marcaram a redação de Versus, em São Paulo. Versus foi uma experiência única de jornalismo alternativo, que surgiu da mente inventiva de Marcos Faerman – o Marcão, para quem teve a felicidade de conhecê-lo e aprender com ele –, um dos mais brilhantes repórteres e editores brasileiros de todos os tempos.

Faerman costumava dizer que Versus nascera sob o signo da tristeza provocada pela morte do jornalista Vladimir Herzog nos porões da ditadura, fato que horrorizou o país em outubro de 1975. O drama de Herzog na prisão coincidiu com a impressão da primeira edição do jornal, em torno de 12 mil exemplares, formato tablóide, 52 páginas. Distribuído precariamente de mão em mão, em bancas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras poucas cidades, e financiado, em parte, por um salário anual extra de Faerman, Versus calou fundo na sensibilidade dos leitores, e iria mais longe do que o esperado.

Redação militante

Aos poucos, o grupo inicial de colaboradores ampliou-se, com a adesão voluntária de jornalistas, escritores, poetas, professores, cineastas, sociólogos, ilustradores, chargistas, além dos próprios leitores, que enviavam suas colaborações do Brasil e do exterior. Na redação, costumávamos dizer que o carteiro era nosso melhor repórter, porque trazia as matérias de que necessitávamos para fechar cada edição, e que completavam a pauta do dia-a-dia. Foi um mutante que por um bom tempo praticou severa autocensura para sobreviver. Sempre carente de recursos, ainda assim resistiu durante quatro anos às pressões e limites estreitos estabelecidos pelo regime militar.

Versus foi também porto seguro para "desgarrados" latino-americanos e brasileiros, refugiados políticos e outros discriminados pela sorte. Hoje, pode-se dizer, sem medo de exagerar, que a redação era uma espécie de "Cruz Vermelha". Recebia não só fugitivos estrangeiros em busca de asilo, trabalho e documentos, como dava guarida a qualquer brasileiro com talento atrás de um espaço em uma folha de jornal para registrar suas idéias, crenças ou experiências. Muitos iniciaram em Versus o ofício de escrever, reportar ou desenhar. Era uma casa caótica e de poucas regras, mas sempre aberta, onde se respirava o jornalismo em sua verdadeira essência quase artesanal.

Logo, o projeto de construção de Versus não estava imune às influências externas. À medida que a distribuição nacional se consolidou, a vendagem em bancas cresceu, e a tiragem se multiplicou até atingir 30 mil exemplares mensais, a influência cultural e política de Versus passou a ser muito maior do que imaginávamos ou pretendíamos no início. Nosso programa, até então, resumia-se a uma expressão-síntese sobre a qual trabalhávamos arduamente: "A cultura como forma de ação".

Entretanto, turbulências no cenário internacional, com os Estados Unidos passando a retirar seu apoio às ditaduras, e no plano nacional, com a entrada em cena do movimento estudantil, provocaram mudanças em nossa linha editorial. Também as diferentes posições políticas existentes na redação passaram a se manifestar, algo natural em um jornal alternativo, em que muitos editores e colaboradores militavam em organizações clandestinas, na oposição institucional, ou mesmo simpatizavam com tendências estudantis nas universidades. A erupção do movimento operário no ABC paulista, as greves dos metalúrgicos e, depois, nos sindicatos de classe média, alteraram em definitivo o rumo de Versus.

Mobilizações políticas

O leitor desta obra perceberá as transformações decorrentes da politização da redação, que, passo a passo, abandonou o discurso original – literário, poético e épico da história da América Latina – em troca de uma visão mais crua, sociológica e imediata de nossa realidade, não só a brasileira como a do continente. A metáfora literária cedeu lugar à política, e isso se expressava não só nas reportagens, ensaios e entrevistas, mas também no próprio grafismo de Versus, nas charges, nas ilustrações, enfim, na organização editorial em seu conjunto.

Amizades foram perdidas e alianças se romperam no processo. O tempo, como sempre, tratou dos ressentimentos. Não podia ser diferente, mais de trinta anos depois. Independentemente das divergências do passado, que hoje soam pueris, o fim do caminho para Versus foi, em última análise, o mesmo de toda a imprensa alternativa. Os "nanicos", como éramos chamados pejorativamente, desapareceram um a um no compasso da reconquista democrática, da liberdade de expressão, das crises econômicas, e do curso da monopolização da informação pelos grandes e tradicionais meios. Éramos mais de cem jornais, li em alguma estatística, mas fazíamos o ruído de mil. Em algum ponto do caminho, no entanto, deixamos de ser necessários.

Quanto a mim, constatei que, de todos os editores e assistentes que passaram por Versus em seus quatro anos de história, fui o que mais tempo vivenciou a aventura de fazê-lo, de novembro de 1975 a outubro de 1979, desde que deixei Porto Alegre e mudei para São Paulo com o objetivo de doar meu tempo e existência ao jornal. Em dias mais recentes, o fato de deter a memória daquele período fez com que pesquisadores, professores e estudantes passassem a me procurar na web para responder sobre questões envolvendo os caminhos de Versus, o que reforçou a idéia de que era chegada a hora de editar esta antologia.

Enquanto Versus viveu, imprimimos 33 edições normais, três extras de quadrinhos, e outras que fugiam ao calendário, mas eram relacionadas com mobilizações políticas, como as edições especiais voltadas aos aniversários do golpe do Chile e de 1º de maio, no ABC paulista. Além delas, editamos, com êxito, outros nove livros e cadernos. Versus – Páginas da Utopia guarda parte de nossa história, assim como a do jornalismo que praticamos. Outras duas antologias virão a seguir. [Novembro de 2007]

***

Omar L. de Barros Filho é jornalista, tradutor, cineasta, editor de ViaPolítica e membro de Tlaxcala,a rede de tradutores para a diversidade lingüística

Textos de Tomás Eloy Martinez, Carlos Rangel, Marcos Faerman, Luiz Egypto, Paulo Ramos, Mário Pedrosa,Vitor Vieira, José Martí, Mário Augusto Jacobskind, Toninho Mendes, Rui Veiga, Ana Maria de Cerqueira Leite, Caco Barcelos, Paulo Barros, Licínio de Azevedo, Maria da Paz Rodrigues, Wagner Carelli, Hiroito Joanides, Rodolfo Walsh, Eduardo Galeano, Gabriel Cohn, Hélio Goldsztejn, Augusto Boal, Nélida Piñon, Arnaldo Jabor, Abdias Nascimento, Júlio Tavares, Plínio Marcos, Lívio Xavier, Jorge Pinheiro, Neusa Maria Pereira, Amadeu de Almeida Rocha, Luiz Rosemberg Filho, Renan Antunes de Oliveira, Diana Belessi, Elisabeth Marie, Enio Bucchioni e Omar L. de Barros Filho. [Apoio cultural do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e Ministério da Cultura – Lei Federal de Incentivo à Cultura]

“Versus – Páginas da Utopia”
Organização de Omar L. de Barros Filho*
Projeto gráfico: Toninho Mendes
Edição: Omar L. de Barros Filho e Sylvia Bojunga
Fotos: Rosa Gauditano/Studio R
Número de páginas: 292
Co-edição Azougue Editorial e Laser Press Comunicação
Pedidos para vendas@azougue.com.br ou (21) 2240 8812


Apoio cultural do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE)
e Ministério da Cultura – Lei Federal de Incentivo à Cultura.

5 comentários:

Anônimo disse...

Texto-documento. Parte da história dos entrincheirados, não dos vencedores.

Gostei do estilo da ilustra, esmerou-se no traço; dá para colocar o logo que vc criou? não me lembro, eu devia estar noutras...

Liber, tá tudo em inglês, por quê?

Anônimo disse...

Maneiro! História do Brasil. Eu me defrontava com O Dia e o Pasquim e dizia pra mim mesmo: não posso lê-los; me censurava a mim mesmo, conscientemente; muita letra e imagem pra um mesmo dia. Teve um ano inteiro que tirei para não ir ao cinema. Muito filme. Muito tudo. Industrialização sem pé no chão. zé

LIBERATI disse...

Querida Tinê, essa ilustra foi feita ao contrário, guache no nanquim, chamada "xilogravura de paulista". Minha coleção do Versus, do Movimento e do Opinião, incluindo alguns exemplares do Bondinho e do "ex"(que foi um baita sucesso de venda em banca!), tudo isso foi pro brejo com as mudanças de casa, de estado, de dimensão. Hoje vivem de acordo com a lei impermanência.
O logo dos cavalinhos eu vou pedir pro Omar me mandar. Não é que rimou!
bjs

LIBERATI disse...

Caro Zé, tenho saudades do tempo que tínhamos alguma coisa boa pra ler, por um preço legal. Essa coleção do Versus é muito legal. Turma boa de escrita e de traço.
Um abraço, que rima com traço
Poesia , Poe Zé!

Anônimo disse...

Estamos trabalhando para o lançamento em maio/2008 sobre a vida de Jorge Pinheiro em seu exílio no chile. Estou procurando antigos textos dele. Alguém pode me ajudar.
elevacultural@elevacultural.com
layr cruz