2.1.08

Teve um marmanjo no telhado da minha casa


(Pois é, o meu genro Rafa que me ajudou a montar este blogue me deu uma boa notícia faz pouco tempo. Ganhou um prêmio num festival de filmes. Fez um filme em Super8 e papou um prêmio. Quero dizer que Rafa é gente finíssima, muito talentoso, e batalhador. Tenho a honra de ser sogro dele - Não esquece do meu site hein!!! - Mas antes de conhecê-lo e ele ganhar este prêmio, eu registrei numa crônica o impacto que foi sua chegada no coração de minha filha e como isso me afetou. Claro que há alguma ficção nesse cometimento em prosa. Claro que não cantaria isso em versos. Então vai lá , um texto datado ( com algumas alterações de última hora) que a gente comemora junto com o prêmio. Parabéns Rafa!)
Um marmanjo no telhado da minha casa
Tenho uma forma muito particular de reagir às situações traumáticas. Na chamada hora H, congelo os sentidos, ajo dentro da maior normalidade. Quando consigo me livrar do perigo, meus joelhos tremem, começo a suar frio. E depois de passar algum tempo, não consigo situar a data em que as coisas aconteceram. Foi o que aconteceu num incêndio numa fábrica de aerosóis em que trabalhei lá pelo final dos anos 60. Houve quem dissesse que me viu procurando um extintor de espuma no meio das chamas, com um cigarro dependurado nos lábios e perguntava se alguém tinha isqueiro para acendê-lo. O que importa e que no final apagamos o fogaréu com muita valentia e a ajuda dos operários da fábrica vizinha, se eles não chegassem a tempo talvez eu não estivesse aqui escrevendo essa história.
Mas não estou aqui para me gabar, na verdade não tenho nenhuma vocação para herói, apenas essa estranha reação diante do risco. A propósito, trauma em alemão quer dizer sonho. Deve ser um sonho ruim.
Agora, minha imaginação apesar de ter me ajudado a sobreviver também é minha maior inimiga, é capaz de engendrar as maiores teias de aranha que me prendem no pior dos pesadelos.
Este preâmbulo serve para introduzir o tema em questão de hoje. O dia em que apareceu um projeto de genro na minha vida.
Eu sabia que seria inevitável, além disso já tinha lido a excelente crônica “Um telefonema” de Ivan Lessa sobre o tema em “Ivan vê o mundo” , no qual falava do dia em que outro homem se insinuou na vida de sua filha. Isso me serviu como uma espécie de vacina, mas não criou anti-corpos.
É bom dizer que o gato já havia subido no telhado faz algum tempo, como acontece nas boas famílias do ramo.Para cair era uma questão minima de tempo. Um dia , ao falar ao telefone com minha filha percebi pela sua vozinha que do outro lado uma tristeza habitava o seu delicado ser. Perguntei o que era.
Ela me respondeu:- Coisa minha, pai…(de maneira cortante)
Insisti.- É coisa sentimental ou é caso de psicanálise? Ela voltou a me cortar. Como não estou mais em condições de jogar tênis, encerrei a partida, digo , o nosso papo e fiquei com a pulga atrás da orelha.
A pulga já estava pagando IPTU quando o gato escorregou no telhado. Num papo com a mãe dessa minha filha cerol, descobri que ela estava apaixonada (senti o aço de um punhal frio a perfurar meu tímpano) e que o sujeito tinha arrumado um estágio, ou era um emprego em São Paulo, e ela estava muito “tristinha”, não me lembro se falou também que estava muito “mexida”. As mães arrumam cada termo para designar estados de alma de suas filhas!?
Não sou de origem siciliana, mas corre nas minha veias uma parte de sangue napolitano. Portanto, quero dizer que o ciúme é algo que irriga o meu ser. Mas o gato caiu mesmo do telhado num domingo, por ocasião do aniversário da "mãe da menina mexida". Seu pequeno coração nestas alturas já devia estar no ponto de um omelete, supus com meus botões.
Fui informado de que o rapaz iria aparecer assim que adentrei a arena, digo , a sala. Antes eu brincava com essa possibilidade dizendo que iria pedir duas redações do candidato a meu genro. Na primeira, teria que escrever algo sob o título de “Meu bairro”. Assim saberia onde morava o sujeito, sua situação geográfica e sobre sua vizinhança. Na outra, sob o título de “Minha família”, teria informações sobre 1º se o rapaz tinha uma, 2º como era a estrutura dessa célula mater e como era o relacionamento dele com ela. Dispensei uma terceira que falava sobre “Meus vícios”. Porque achava que iria mentir de qualquer maneira e isso eu iria descobrir contratando um detetive.( hipótese que descartei depois que vi o escritório do referido “hard boiled”, que dividia uma sala com uma organização chamada Clube do Mambo.
Eis que lá pelas tantas, aparece o rapaz, e confesso que era tudo que eu
não imaginava e portava tudo que não gostava. Uma costeleta, um brinco e uma tatuagem. Apesar disso, achei o cara simpático, inteligente e tinha jeito de boa gente.Depois soube que era vegetariano. Fui praticamente desarmado numa contenda que não aconteceu. A festa corria solta e num determinado momento me vi sozinho em frente a uma badeja. Peguei um bolinho de bacalhau entre outros quitutes e fiquei algum tempo imaginando se aquele peixe do gênero Gaddus algum dia tivera filhas...

3 comentários:

TS disse...

Texto ternurento... agora vc imagina um pai que teve quatro filhas, cada qual seguiu uma história peculiar, e em todas o pai subiu pelas paredes até chegar ao telhado!
É assim mesmo, é assim mesmo.

Anônimo disse...

parabéns ao Rafa! grande genro! ser pai é uma grande aventura como naquela imagem de 'conheça a vida selvagem'. zé

LIBERATI disse...

Queridos Tinê e Zé (agora colega blogueiro), o Rafa é sensacional!
Considero mais um filho que eu ganhei.
Um abração