8.2.08

Crônica da Tinê - Vai, vai, beija-flor!


Xique-xique-xique... Tu-im, tu-im, tu-im... Trrrrec-plec-plec. Tum-tum. Telec-telec-telec. Plac-plac! Prriiiii... Tum! Leva um peteleco quem continuar com essa bateria, ouviram? Basta de peitos e bumbuns purpurinados, a batida virou batente, 2008 começa nesta segunda-feira.
Este ano bissexto trouxe um fenômeno a mais: desde 1913 que o ano não começava de verdade em pleno fevereiro.

Estou num quase deserto. O pessoal está nas praias capixabas e baianas com retorno no domingo. Até lá, sequer um apito carajá. Sem paticumbuns, pandeiro calado, o que ouço é o mimoso Catalunha sob a chuva no pasto: muuu...

Hora de retirar a maquiagem e os paus da barraca.
Guardar as plumas e os adereços com cuidado. Desmontar ou jogar as fantasias no lixo.
Pegar uns cremes para manter o bronzeado como prova de que vocês estiveram lá.
Umas pastilhas para combater a afonia.
Desopilar o fígado com o tônico evangélico Touro-Vermelho.
Ser gentil: mandar versos para a parceria ocasional, "coisa rica, não me leve a mal, até o próximo carnaval..." Vestir-se de roxo-quaresma para purgar os excessos dionisíacos.

Mandem fotos para que todos vejam como vocês desbundaram no oba-oba. Mesmo que alguns não acreditem que aquele, ou aquela, era você escorregando na poça de água ao fingir ser repórter só para chegar mais perto da madrinha da bateria ou do gatão BBB. Que beijaram o asfalto num passo em falso do frevo. Que deslizaram no corrimão da escada e - céus! - caíram no colo de algum figurão. Que a cara de bebum foi um choque no trio-elétrico. Que a roupa rasgada e o olho roxo-batata foram para caracterizar o Bloco dos Sujos. Nem adianta a desculpa de que rodopiaram entre as baianas para entrevistá-las em ação.
Sem discussão de que a folia de cá é a melhor, sem picuinhas sobre a autenticidade geográfica do samba, cada lugar tem o seu bamba. Façam como os curitibanos: que carnaval?!
E se preparem: dezenas de produtos aumentaram de preço no mercado, da sexta para a quarta-feira de Cinzas. Renovação de estoque fora do cordão. Bola preta para eles.

Não fiquem jururus, outras folias estão por vir.
Semana Santa, bolos pascais, coelhos, chocolates.
Lig-lig-lig-lé, lá vem o china na ponta do pé... diretamente das Olimpíadas de Pequim.
Repentistas políticos em campanha eleitoral. Aliás, aparar as arestas de cartões corporativos até virarem confete será discurso pra lá de federal.

O babadão do ano ficará por conta dos eventos pela aportagem de El-Rei Dão João VI em terra-brasilis. De companhia, 'su hermosa' Carlota Joachina, nas tarrascas por ter sido obrigada a largar as touradas de Madri, os quadros de Velásquez, os rascunhos de Cervantes... e ainda por cima – ou por baixo - vir dar com os costados nestas terras em que 'tudo se dá'.
Ela foi ao pau-brasil e também deu! (Três gerações seguintes, entrou na história o conde D’Eu.) Ora pois, uma corte mareada, neura e empiolhada que, no mata-desmata, desalojou cariocas para abrigar as trouxas reais. De cara, pela primeira vez, nos chamaram de gentalha. No troco, a bandalha.
Se os colonos plantavam bananeira, El-Rei foi plantar uma palmeira - devia ter fundado o Jardim Imperial com um jatobá, ainda estaria em pé pelos 200 anos da chegada da família-mor, batida de Lisboa com medo daquele presunçoso corso francês.
Com o calor, ficou inadiável o banho na praia de Ramos - não havia 'paparazzi' naquela época para flagrar o insólito mergulho real dentro de um tonel num cenário que já foi lindamente virginal. Debates, fofocas e corta-fitas até chegar...

Vocês me dão licença, reprisam o desfile das campeãs na TV. Em Sampa, Vai-Vai, no Rio, Beija-Flor, eu vou, vou.

[Tinê Soares - 6/2/2008 - 20:41:22]
N.R. A ilustração também é da Tinê

7 comentários:

ze disse...

'O meu calor me faz brilhar / Iluminar o meu estado de Amor/ Comunidade, impôem respeito, / bate no peito eu sou Beija-flor'

EH disse...

Tirei férias e só vi cidades fantasmas: Uberlândia, São Leopoldo, Gramado, Canela, Nova Petrópolis...Voltei na terça gorda, e pela manhã, o paço imperial era um deserto.

ze disse...

Errei feio. É 'O meu valor...' : calor é no samba da Mangueira.

TS disse...

ZÉ, eu tbm costumo trocar letras; calor ou valor, tudo ilumina na avenida se considerar o show pra turista ver, pois no coração sou verde e rosa.

"Alan-Poe" gaúcho, antes fantasma do que urubu... calma, passo a passo El-Rei chegará ao Paço. Eu vejo cidade-fantasma o tempo todo. Isso é mal, doutor?(rs)

Liberati, tenha uma semana iluminada e não se esqueça da vizinha faladeira, ela anda tão quietinha...

Anônimo disse...

suas palavra (nestas terras em que 'tudo se dá') me deixaram pensando no quanto são empregadas diariamente. Bem, de qualquer forma, o momento é do país esquecer o confete e pisar o cacau.

TS disse...

Josemauros dos vinis... para o povaréu daqui onde estou "cacau" significa dim-dim, bufunfa, erva, grana...
Pobre não tem cartão, pisa direto no chão.

Lá nos pampas eles pisam as uvas no lagar. Vinho com chulé.

Como dizia o escriba Caminha, esta terra "em se plantando, tudo se dá."
Abr. p/ ti.

Sizenando disse...

passado o baticum geral, fica o dom da palavra de Tine. Tine, seu talento é crônico!

(não consegui terminar o comentário, esqueci o refrão do Cazuza!)