7.2.08

Fragmento do dia - Johnny Alf, um gênio

"Quer dizer então que Johnny Alf era um sucesso? Não. O Plaza tinha fama de caveira-de-burro e quse ninguém o freqüentava, mas para os músicos modernos de 1954, era o lugar porque, à falta de fregueses, podiam tocar o que quisessem. Quase todos os habitués já eram seguidores de Alf desde que ele estreara profissionalmente, em 1952, na recém inaugurada Cantina do César, de César de Alencar. O radialista precisava de um pianista para facilitar a digestão dos fregueses do seu restaurante, e o jovem Johnny lhe foi indicado por Dick Farney e Nora Ney, seus amigos do Sinatra-Farney. César de Alencar tinha orelhas tão de abano que seu apelido em certos círculos era Dumbo, mas pelo visto, usava-as também para escutar. Quando a comida da cantina se provou indigerível, ele converteu o restaurante num inferninho e permitiu a Alf se mostrar como quisesse.
Os primeiros a ir vê-lo na Cantina foram Donato e Dolores, seus vizinhos na Tijuca, e eles levaram os outros. Dolores em suas folgas do Clube da Chave, às vezes dava uma canja, acompanhada por um jovem pianista chamado Ribamar; ou então era o próprio Alf que acompanhava João Gilberto, o qual se limitava a cantar, sem violão, no canto mais escuro da boate. O repertório era o de sempre: lúcios e dicks a granel, ou seja, sambas-canções e alguns foxes."
(Trecho do capítulo A montanha, o sol, o mar do livro Chega de Saudade- A História e as Histórias da Bossa Nova de Ruy Castro - Companhia das Letras)
Nota da Redação: Leitura indispensável para entender o que foi esse fenômeno da Bossa Nova. Uns toques sobre termos do texto: Sinatra-Farney era um fã clube. Dolores é Dolores Duran, Donato é João Donato e Johnny Alf é um gênio que precisa ser sempre reconhecido. Ruy Castro fez justiça ao falar dele longamente em seu livro, demonstrando sua importância no movimento.

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