25.12.08

O efeito Veuve Clicquot, o problema do distanciamento do real e o hiper-realismo


Tenho notado uma pequena tendência, mas sabe como é o ser humano...sempre exagerando as coisas...Por exemplo: na bolsa de valores, um boato pode virar um crash do dia para a noite( ou o contrário- depende do fuso horário). Dessa forma, uma tendenciazinha pode se transformar numa tsunami e assim por diante. O epicentro será sempre essa alma torturada do homem. A modernidade só acelerou o desgaste do real. O que é a bolsa? Um lugar onde as pessoas gritam desesperadamente para comprar ou vender um monte de papel que pode perder o valor num piscar de olhos!
Mas agora, falando sério, percebo que uma marolinha sem vergonha que mostra uma mudança no comportamento humano no sentido da coisa em si que o pobre e casto Kant nem imaginava. Pessoas andam a preferir animais para se relacionar socialmente - cães, gatos, e os mais radicais, jacarés e tigres. No entanto existe uma turma que está substituindo bichos e gentes por bonecos e bonecas. Num anúncio de TV vi estarrecido uma bonequinha que faz um simpático cocô numa privadinha de plástico. A menina que seria a suposta mãe da bonequinha dá a descarga - depois o pequeno ser de de poliestireno diz: -Quero ir de novo, mamãe! (ou algo parecido). Antigamente as bonequinhas eram menos despudoradas. As crianças aprendem cedo a se relacionar com objetos inanimados, a animação vem mesmo na adolescência. Na juventude a perdição. O reencontro se dá num bingo, num escritório de contabilidade ou na fila do SUS. Será que a teoria do fetichismo da mercadoria, de que tanto fala Marx- explica esse relacionamento com a Barbie e o Falcon? Talvez ele não explique toda a situação...o buraco é mais embaixo. Li na internet que vão relançar a Barbie, nem quero imaginar o que esta nova boneca deve fazer...
No Japão, um senhor de meia idade só se relaciona de forma afetiva - inclusive sexualmente - com bonecas infláveis (vi numa reportagem de TV e na internet) . Ele, de certa forma, as mata de tanto que as ama, ou melhor, usa para "foro íntimo". Elas acabam estragando ( se esvaziam) e ele as substitui prontamente. (Nada de hospital ou remendo).
E não é que o homem parece feliz com sua coleção! Ele dá o seu depoimento sempre entre sorrisos. Disse que rola até ciúmes na parada. És una aberración por supuesto. Mas ele trabalha normalmente, paga seus impostos e desfruta da liberdade de escolher com quem o que quer se relacionar.
Em Londres, numa exposição de arte chinesa, um escultor hiper-realista apresenta homens famosos bastante envelhecidos em cadeiras de rodas, se deslocando num espaço branco. As cadeiras não chegavam a se chocar, pois dispõe de um dispositivo que evitava o contato. É impressionante, vi um vídeo dessa exposição e me deu medo. Mas, o que me deixou de queixo caído mesmo, foi o que vi numa vitrine de uma loja no largo de Machado. Lá, dois bichinhos de pelúcia imitando um gato e um cachorrinho dormiam tranquilamente numa cesta. Colada no vidro uma placa anunciava :" Eles respiram igual aos de verdade."
Meu Deus! Philip K. Dick está vivo, saiu do cemitério de Santa Ana, na Califórnia e baixou no Largo do Machado! Isso é quase o mundo de "AI"( inteligência artificial). Estamos chegando depressa demais ao futuro. E ele me parece sombrio, cheio de bonecos que respiram igual aos de verdade. Em Blade Runner tinha um engenheiro genético que fazia amigos com facilidade( fazia amigos de verdade, no sentido de que os construia no seu laboratório).
Existe um teórico que afirma que no universo tudo está conectado. Espero que essas previsões catastróficas da ficção científica não contaminem o presente.
Muita gente já botou seu "Tamagoshi" para dormir.Outros criaram um avatar na sua "second life" e não aconteceu nada muito grave na humanidade. Umberto Eco notou que os americanos gostam muito de cópias, museus de cera com celebridades, réplicas de bibliotecas de Presidentes que nunca abriram um livro. O pai da Amy Winehouse disse que preferia ter uma boneca de cera em casa do que a própria em pessoa. Cabe observar que ele é inglês. Deve ter dito isso num dia estressante. Vamos confiar na humanidade, afinal vem aí "O dia em que a terra parou"(The Day the Earth Stood Still) e aquela mensagem enigmática "Klaatu-barada-nikto". Afinal, o que significa essa frase da primeira versão em branco e preto (de 1951- direção Robert Wise baseado na história de Harry Bates- o papel de Klaatu ficou com Michael Rennie)? Keanu Reeves que faz o papel do extra-terrestre- veio nessa segunda versão(de 2008) para nos salvar de nós mesmos. O filme é ecológico. Keanu já foi Buda, em outra encarnação, e até se deu bem, ao fazer um Sidarta convincente, embora o filme de Bertolucci seja ruim pra dedéu.(falo do Pequeno Buda). Não sei não, mas acho que me perdi nesse papo. Queria fazer uma crônica leve de fim de ano e acabei fazendo uma do fim dos tempos... Deve ser efeito da Champagne - a chamada síndrome de Veuve Clicquot. Por falar nisso, onde fica o largo do Machado mesmo? Acho que vou procurar no Google Earth...ou seria melhor usar o GPS?

6 comentários:

TS disse...

Qdo vi o anúncio do cocô, custei a acreditar: mas se tem o baby-pee-pee, por que não o baby-crap? É pedagógico! Ajuda as crianças a sairem da fase anal, ao contrário de mta gente por aí...

Pior é ver adultos a gastar uma nota preta c/ o guarda-roupa do gato/cachorro (sapatinhos inclusos); nem é pelas crianças em casa, é pura vaidade.

Americano copia tudo e descaradamente diz que foi ele quem inventou. Tem uma lugar em Las Vegas que é uma réplica de Veneza, c/ gôndolas em canais antissépticos. Multiplicaram a famosa estátua de um dos escravos hebreus feitos por Miguelangelo p/ um friso de prédio modernoso em Atlanta. Ô povinho macaqueiro!

Eu já tive um tamanduí da Amazônia.
Kafka não entenderia isto. Machadinho colocaria no colo de Capitu um poodle tingido de "pink".
Abração.

LIBERATI disse...

Querida Tinê, o mundo está cada vez mais louco. Tem gente processando (judicialmente) até a mais desvairada ficção.Enquanto isso na realidade - na real mesmo, são cometidas as maiores barbaridades - vide Guantánamo e a técnica de tortura por afogamento...
O mundo não está para Kafka, nem para Machado, o mundo caminha para o Philip K.Dick. É blade runner puro, na véia.
bjs

ze disse...

o largo do machado fica ali naquele açougue perto das Laranjeiras , açougue com um machado na porta : o machado é o mesmo do s. Judas Tadeu no final da rua das Laranjas, que ele carrega na mão. Instrumento pra picar em pedaços.
Vc fez o desenho do Descartes atrás : não foi ele que disse que o homem é máquina ? toda a m. moderna está aí. vivemos em casa com no mínimo cinqüenta máquinas (panela de pressão inclusa). a saída é a saída (sair da economia política do mercado ). felicidades.

ze disse...

tamanduí é um tatu ou um tatuí ? já comi tatuí, no plural claro. frito em óleo. gostoso!

LIBERATI disse...

Caríssimo Ze, Tinê está com problemas na conexão do computador dela - mas para o ano tudo vai melhorar. Por isso vou responder sua pergunta sobre o tamanduí. Ví através do Google, ele é um tamanduá pequeno, parece um bicho de pelúcia com uma garra imensa. Pois é caríssimo, sei da história do Machado do português que não tem nada com o português do Machado de Assis. Tem gente que acha que o Largo do Machado tem alguma coisa a ver com o bruxo do Cosme Velho, por ser pertinho, só subir a rua das Laranjeiras que é de duas mãos. A turistada se esbalda e quem mora nas imediações sempre pega engarrafamento por causa dos "baita ônibus" de Turismo que não por não terem lugar para estacionar, botam o ônibus colado na igreja de São Judas, que é santo milagreiro, mas não dá jeito no trânsito que deixou para São Cristovão resolver.
grande abraço
feliz tudo

ze disse...

s. Cristovão era um santo que não queria viver fazendo jejum e oração e então por ser grande passou a ajudar as pessoas a atravessar o rio do lugar - ele carregava os outros de uma margem para outra, como aparece na representação dele. O menino IHS aparece para que ele o atravesse : muito pesado o Menino, o santo afunda até o pescoço. Mas chega na outra margem. felicidades.