26.1.09
Homenagem do Gerdal a Gordurinha
No dia 16 de janeiro de 1969, morreu o cantor e compositor Waldeck Artur de Macedo, conhecido como Gordurinha. O autor de "Oito da Conceição" e "Chiclete com Banana" - muito bem gravado por Gilberto Gil e, bem antes, em 1959, pelo ás do ritmo Jackson do Pandeiro - também trabalhou em rádio, ingressando na Nacional em 1952, onde apresentou o programa "Varandão da Casa Grande", e fez fama como humorista. O sucesso nacional de "Chiclete com Banana" motivaria, em 1968, no Teatro de Arena de São Paulo, musical homônimo dirigido por Augusto Boal com ênfase no gérmen crítico do samba - o nosso desigual "toma-lá-dá-cá" nas relações de troca com os norte-americanos - e, mais tarde, a bem conhecida tira em quadrinhos de Angeli. Esse sucesso de Gordurinha ocorreu no mesmo ano de outro sucesso dele, "Baiano Burro Nasce Morto", que dá título a um dos elepês gravados por um, geograficamente, "quase-baiano": o alagoano Luiz Wanderley, que inicia a bolacha com esse baião e a termina com outra composição de Gordurinha, "Cadeia da Vila".
Apesar de gozador contumaz, Gordurinha, cujo apelido, irônico, veio do tempo de rapaz franzino trabalhando na Rádio Sociedade da Bahia, também soube exteriorizar a sério em sua obra o lamento contínuo do nordestino ante a inclemência solar, castigando a terra e subtraindo nela a expectativa de permanência do sertanejo, como no baião-toada "Súplica Cearense" e no coco "Fornalha". Este, aliás, abre "Gordurinha...Um Espetáculo!", elepê que gravou em 1964, no qual, mais uma vez, se vale do Ceará para expressar, no bem-humorado baião "Se Chovesse no Nordeste", um anseio de transformação climática e, em decorrência, socioeconômica nessa região do país. Verde-amarelo até a medula no universo da sua criação, Gordurinha ainda faz nesse disco, com a impagável pontuação de um "muito bom, muito bem" na letra, uma irreverência à prestigiada bossa nova de então em "Baião Bem", um baião "sabadá", "americanalhado", metido em "dissonante", para ter "muita gaita na sacola".
Asmático, vez por outra recorrendo ao socorro de uma "bombinha" contra a falta de ar, Gordurinha seria ainda conhecido pela gravação que fez do "Mambo da Cantareira" e pelo êxito de outras de suas composições, como "O Marido da Vedete", gravado por ele mesmo, "Caixa-Alta em Paris", por Jorge Veiga - em seguida ao sucesso de "Café-Society", de Miguel Gustavo, pelo mesmo Caricaturista do Samba -, "Festival de Bolachadas" (c/ Jorge Veiga), ainda por Jorge Veiga e regravado com muita graça por Mongol, na linha do humor, e "Paulo Afonso" e "Vendedor de Caranguejo" ("cada corda de dez, eu dou mais um"), na linha do instantâneo social, pelo paraense Ary Lobo, grande intérprete de ritmos nordestinos. Desse estudante de Medicina que largou a faculdade no segundo ano em favor da música popular, pode-se inferir, com base em toda a coerência temática de sua trajetória, que "não foi pau que nasceu torto", mas um "soteropolitano inteligente" e, mais que isso, um brasileiro toda hora: "meio-dia, duas horas, quatro e meia"...
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
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Um comentário:
OLA SOU NETO DE GORDURINHA E FICO FELIZ COM SUA HOMENAGEM A MEU QUERIDO VO ( ESTOU COM PROBLEMAS NO TECLADO POR ISSO SEM ACENTO).TENHO UM BLOG DE GORDURINHA WWWGORDURINHANETO.BLOGSPOT.COM
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