11.9.09

Dica do Gerdal: Clementina de Jesus por Ilessi e Beatriz Faria, na Tijuca- show-homenagem a uma deusa negra do canto popular (sexta e sábado


Emblema vocal das peripécias históricas da diáspora negra e "fenômeno telúrico exclusivamente brasileiro", na percepção do maestro Francisco Mignone, a valenciana Clementina de Jesus é a "deusa ebanácea" (ainda "d`après" Mignone) homenageada, nesta sexta e neste sábado, 11 e 12 de setembro, às 19h, por duas jovens e promissoras cantoras, Ilessi e Beatriz Faria, no Centro Municipal de Referência da Música Carioca, com o show "Tempo de Glória" ("flyer" abaixo), título extraído de bela composição homônima de Nei Lopes e Wilson Moreira. Ainda menina, no berço fluminense do Vale do Paraíba, Clementina era da mãe, Amália, rezadeira e parteira, receptora de todo um saber oral conectado com a ancestralidade africana, dela também haurindo expressões musicais de todo esse conhecimento, como lundus, corimas, chulas, jongos e incelenças, mais tarde, em parte, levados para registro em seus discos. Já no Rio de Janeiro, para onde veio com a família aos oito anos de idade, Clementina ralou como doméstica por mais de duas décadas até iniciar-se no mundo fonográfico, aos 64 anos, pela mão do poeta e produtor Hermínio Bello da Carvalho. Primeiramente, o famoso e abençoado encontro que tiveram, no dia 15 de agosto de 1963, na Taberna da Glória, com reencontro, semanas depois, no Zicartola; o show "Violão e Banzo" - ao lado do violonista Turíbio Santos -, no Teatro Jovem, em Botafogo, e o sucesso de público, em larga escala, ainda com produção de Hermínio, neste marco do nosso palco musical que é o espetáculo "Rosa de Ouro", em 1965. Um espetáculo que ainda promoveu o retorno às luzes da ribalta da então olvidada Araci Cortes, cantora de nome feito no teatro de revista, e revelou sambistas do melhor jaez, como Élton Medeiros, Paulinho da Viola, Nélson Sargento, Anescarzinho e Jair do Cavaquinho.
        Cintilando, na noite carioca, na realização de seguidos projetos ligados ao samba - ainda há pouco em bela função, no Trapiche Gamboa, com Adriana Moreira e Karla da Silva -, Ilessi conta com a meiga presença de Beatriz Faria (filha de Paulinho da Viola e intérprete de Elizeth Cardoso no teatro) nesses dois shows do CMRMC, na Tijuca. Certamente uma lembrança tocante de Quelé, essa personalidade "sui generis" da nossa seara cultural, de canto rouco e quase falado, cuja voz, na arguta consideração do professor Darcy Ribeiro, "era a voz de milhões de negros desfeitos no fazimento do Brasil". 
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

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