14.9.09

Dica do Gerdal: Sérgio Natureza lança "Minimal Necessário", nesta segunda, no Cosme Velho - poesia sem aparência (e essência) enganosa


Não havia nada além da réstia de sol/noite apagada e a madrugada ao redor/mas a luz que anunciava a manhã alaranjada/já bastava pra eu te enxergar melhor..." Muito antes de conhecê-lo "ao vivo" e ter nele um querido amigo, já ouvia, com frequência, de Sérgio Natureza, na saudosa JB-AM, essa linda balada, "Bastante", feita em parceria com Zé Luiz Mazziotti e por este muito bem gravada (nascido na paulista Rio Claro, Zé Luiz, conterrâneo de Dalva de Oliveira e do pianista Dom Salvador, é, a meu juízo, possuidor de uma das vozes mais sedutoras, de todos os tempos, do canto popular brasileiro). Eminentemente um poeta da canção, já que o seu verso, redondo e expressivo, quase sempre, corteja uma melodia, Sérgio tem ao seu lado gente talentosa nas parcerias, aproximações das quais resultam, é claro, belas músicas, como "Voltando pra Casa", com Tunai; "Brancas e Pretas", com Paulinho da Viola; "Luzes da Mesma Luz", com Eduardo Gudin; um delicioso xote, "Mil Velas", com o xará acreano Sérgio Souto; "Gesto", com a suingada baiana Rosa Passos; e "Virada pra Lua", com esta moça que considero uma assinatura especialíssima na nossa música popular, por sua centelha e sensibilidade, Simone Guimarães.        
      Tijucano de origem, também criado no Engenho Novo e em Vila Isabel - morando nesse bairro num prédio onde antes se edificara simplesmente a casa de Noel Rosa -, teve, a exemplo do colega de inspiração e transpiração Geraldinho Carneiro, iniciação no piano, até mesmo tocando em algumas audições, mas adotou como seu o destino criativo já seguido pelo pai, o literariamente Sergio Roberto, na vereda tropical do nosso fazer poético. Cedendo à insistência de Torquato Neto (amigo feito em Paris durante exílio voluntário da brabeza militar por aqui) para que compusesse com Paulinho da Viola, Sérgio Natureza, ainda um desconhecido desconhedor da pessoa desse outro príncipe do samba, deixou sob a porta da residência deste uma letra que, com o surpreendente telefonema de Paulinho para ele, tornar-se-ia o sucesso "Vela no Breu" - faixa do elepê "Memórias Cantando", de 1976. Outro dos seus cartões de visita, o clássico moderno "As Aparências Enganam", de 1979, inesquecível na interpretação de Elis Regina no elepê "Essa Mulher", contou com a providencial presença de João Bosco em duas ocasiões: na primeira, apresentando o mano Tunai a Sérgio; na segunda, apresentado ambos, já parceiros, à Pimentinha, de quem Sérgio foi assessor de imprensa por um ano. "As Aparências Enganam" é fruto da fase inicialmente "mineira" da parceria deles, feita em Beagá, onde o ponte-novense Tunai morava antes de se transferir para o Rio e para onde Sérgio costumava viajar para encontrá-lo.
      Nesta segunda, 14 de setembro, a partir das 19h, no Casarão de Austregésilo de Athayde, no Cosme Velho ("flyer"acima), dois livros de Sérgio Natureza estarão à venda para os seus numerosos admiradores e demais interessados numa boa palavra: "Minimal Necessário", lançado, e "O Surfista do Dilúvio", relançado, antes publicado em 1998. Como tudo que ele faz, extensivo à sua relevante atividade como realizador de projetos culturais e produtor de shows, tais livros são, de fato, o que já aparentam ser à primeira folheada: páginas exemplares de absorvente leitura. Poesia que não engana.        
      Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 

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