8.1.10

Dica do Gerdal: Sérgio Cabral dá continuidade a série de programas sobre Haroldo Lobo nesta sexta na Roquette-Pinto FM


"Chegou, chegou a nossa caravana/viemos do deserto sem pão e sem banana pra comer/o sol estava de amargar/queimava a nossa cara/fazia a gente suar." Assim começava, originalmente, a famosa "Alalaô", com versos do bamba Haroldo Lobo (foto acima), até o seu encontro, no Café Nice, com outro craque da nossa música popular, Antônio Nássara. Incumbido de dar prosseguimento à marcha, este cunhou a estrofe que se conhece ("Viemos do Egito e muitas vezes nós tivemos que rezar..."), e, ao avistar novamente Haroldo, com a missão já cumprida, Nássara observou que a sua parte terminava com um eufórico "Alá, meu bom Alá", contrastando com o "chegou" da primeira, em tom grave e lamentoso. Encantado com a colaboração do parceiro, Haroldo logo percebeu o descompasso existente e que, portanto, o início devia ser refeito. Valendo-se daquele dia de sol inclemente do reencontro, Haroldo, num lampejo de genialidade, como Nássara gostava de acentuar, ligou o "Alá, meu bom Alá" ao "Alalaôôõôôô^, mas que calor ôôôôôô", completando este que se tornou, mais que um petardo carnavalesco da safra de 1941, um verdadeiro hino não oficial do país, até hoje na memória das suas ruas e recintos de carnaval."
      Morando em Laranjeiras, vi muitas vezes flanando por suas calçadas, passo lento, de bengala, um velhinho bem arrumado, boa-praça, ícone do carnaval e portador de traço único na caricatura. Era o saudoso Nássara, e o excerto acima, da revista "Música Brasileira", é produto de uma visita que eu e meu pai, o sonoplasta Geraldo José, fizemos, numa tarde agradável, ao apartamento dele, na Rua Belisário Távora, no mesmo bairro. Admirador da obra de Haroldo Lobo e amigo de Nássara, meu pai pediu que eu o ajudasse numa entrevista gravada e previamente acertada, pois queria saber, especialmente, como compuseram "Alalaô". Como Nássara estava inteiramente surdo, levei comigo, por escrito, quatro perguntas a que ele, muito solícito e bem-humorado, respondeu com clareza e objetividade. Essa gravação, em audiocassete, virou uma relíquia entre os guardados de meu pai e, agora, lembro-a para ilustrar uma dica importante, especialmente destinada a quem curte o carnaval e a música que o turbina: hoje - e nas sextas seguintes de janeiro -, motivado pelo centenário de nascimento, este ano, de Haroldo Lobo, o jornalista Sérgio Cabral apresenta o segundo programa da série "Eles Têm Histórias para Contar", homenageando o compositor e revisitando o alegre legado de marchas e sambas desse carioca artilheiro na folia, que emplacou consecutivos sucessos dos anos 30 aos anos 60, culminando com "Tristeza", em parceria com Niltinho. Este um sucesso que Haroldo não pôde testemunhar, apenas antever - quando conheceu o samba, ainda um belo "lençol", na boca dos desfilantes dos Foliões de Botafogo, nesse bairro, e sugeriu a Niltinho que fosse encurtado para ser também cantado no salão. Niltinho concordou e Haroldo, com sua "expertise" no ramo, fez o "enxugamento" da letra, mas faleceu pouco depois, em julho de 1965 (um outro babado do carnaval que meu pai tem registrado em outro audiocassete, contado há anos pelo próprio Niltinho, na UBC). "Tristeza", de tantas gravações, até mesmo estrangeiras, estouraria no carnaval do ano seguinte.
       O referido programa da Rádio Roquette-Pinto FM (94.1 no dial), nesta sexta, 8 de janeiro, das 15h às 16h, é feito por quem conheceu Haroldo Lobo e conhece a fundo a história da MPB, até mesmo com vários livros publicados no gênero. Não dá pra perder.

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