8.1.10
Encontros com Os Sertões (1)
(Não consigo explicar as razões da atração que o tema da Guerra de Canudos exerce até hoje sobre a minha pessoa. Vou tentar saber no andar da carruagem. Tenho três coisas a dizer, antes de entrar nessa caatinga em progresso: 1º- li numa reportagem de um site da internet que uma pesquisa sobre literatura revelava um dado compreensível, mas assutador: Chico Buarque é mais lembrado do que Euclydes da Cunha como escritor. 2ºLogo em seguida, li no blogue de Luiz Carlos Amorim um texto intitulado "Euclides da Cunha, o Grande Escritor quase esquecido" (publicado em jornais e outos sítios) onde o blogueiro diz :"Acabo de ler uma carta de leitor do Estadão, comentando o centenário da morte de Euclides da Cunha, o genial autor de “Os Sertões”, constatando que o grande escritor ainda é, infelizmente, um ilustre desconhecido." 3º-Com essas duas leituras e mais o conhecimento que obtive acompanhando o ótimo blogue do meu companheiro do "portal" YouPode, Luiz A. Erthal - que reclamou a diminuta repercussão do centenário da morte de Euclides, que me motivei para escrever isso que segue. Não é um ensaio, tem um valor de confissão. Veio de um trabalho de leitura num momento muito difícil da minha vida, que atravessei junto com os jagunços numa guerra do fim no mundo dos Sertões. Quem sabe chego a algum lugar com esse texto).
1º Capítulo -
De como uma professora do primário resolveu botar uns pobres meninos pra suar
Soube da existência de Canudos na minha escola (hoje soterrada debaixo de um prédio moderno da zona norte de São Paulo que abriga uma funerária chic) onde cursei o primário. Foi quando tive que fazer um resumo de Os Sertões de Euclydes da Cunha
Peraí, a professora não era maluca não! Ela não era uma mulher tão bonita como foi uma dia uma de nossas professoras, pela qual muitos de nós caímos nas primeiras teias da paixão e amargamos o fel da decepção ao saber que ela era casada. Essa que nos meteu nas trilhas de Monte Santo tinha cara de coruja, aspecto que era acentuado por uns óculos de aro grosso e negro. Era morena de cabelos lisos e a princípio nos causou um certo receio pela forma severa como tratava aquela turma endiabrada, na qual tentou de alguma forma, fazer a experiência de botar algumas idéias nos mais cabeças duras da escola . De fato, ela era cheia de boas intenções - uma educadora que conhecia os limites de seu ofício naquele ano perdido dos anos 50, numa escola de meninos que se localizavam no estreita escala que ia da linha da pobreza remediada até uma certa classe média inilustrada. Decerto sabia que a leitura desse livro de Euclydes da Cunha era algo "impossível" para um pirralho de 9 anos, mas achou que deveríamos saber alguma coisa acerca desse acontecimento terrível que batizou de sangue nossa República. Por este motivo justo como beiço de bode, indicou uma resenha do livro que , se me lembro bem, estava no "Tesouro da Juventude", que se encontrava numa biblioteca pública de Sant'Ana. Lá fomos, em bando, todos de calça curta e suspensórios, a procura do tal livro. Foi quando soube da existência dessa coleção maravilhosa, que tratava de todos os "assuntos interessantes do mundo". Ia esquecendo de dizer que esta foi também a primeira vez que botei os pés e a cabeça numa biblioteca. Tenho na memória ainda algumas imagens desse dia de grande excitação, encantamento e medo. Eu, menino que tinha sido criado num bairro operário, metido no meio das matas, de estilingue em punho caçando passarinhos e catando frutas no pomar dos outros, não estava acostumado com lugares públicos. De repente adentrava um território cerimonioso, onde as pessoas tinham falavam baixinho, como se estivessem numa igreja. Ali era preciso se comportar - e fundamentalmente, aprender a esperar. Mas isso não impedia que a gente risse de besta de qualquer frase ou micagem de um colega engraçadinho - o que acarretava a reprimenda do "psiu" e o olhar sisudo da bibliotecária, que exigia silêncio e postura. Como só existia um tomo do tal "Tesouro" que tratava do assunto em questão, então tive que esperar o dia inteiro para conseguir saber alguma coisa sobre as prédicas do Conselheiro e os embates que se travaram nos sertões da Bahia entre 1897 e 1898. A fila era grande, e depois de algum tempo deliberamos fazer o "trabalho" em grupo, um aluno lendo em voz alta e todos anotando o que dava para pegar nessa circunstância. Em síntese - fiz o resumo do resumo do resumo. Nada aprendi sobre o fato, mas ele voltou várias vezes a se intrometer nas minhas viagens, algumas literárias...(Continua)
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