27.4.10

Dica do Gerdal: Áurea Martins no De Conversa em Conversa deste mês no Santo Scenarium - a prova do mingau artístico pela beirada da noite


Ex-inspetora de classe no Colégio Estadual André Maurois, no Leblon, Áldima Pereira dos Santos, carioca de Campo Grande, apareceu para o Brasil, em 1969, ao cantar "Pela Rua", de Dolores Duran e Ribamar, com arranjo de Anselmo Mazzoni, obtendo nota máxima de todos os jurados e alcançando o primeiro lugar no programa "A Grande Chance". Já era, então, conhecida pelo cognome artístico de Áurea Martins (Áurea" pelos dentes brancos de um sorriso largo e "Martins" por semelhança física detectada com o finado sambista Abílio Martins), recebido de Paulo Gracindo e Mário Lago em outro caça-talentos, o radiofônico "Tribunal de Melodias", pelas ondas da Nacional-RJ, por eles comandado. Como consequência da conquista obtida na atração televisual de Flávio Cavalcanti na Tupi, lançou em 1972 pela RCA o elepê "O Amor em Paz", com produção de Rildo Hora, arranjos de Luiz Eça e participação do poeta Paulo Mendes Campos, no qual interpretou clássicos românticos, como "Fim de Noite", de Chico Feitosa e Ronaldo Bôscoli, "Pra Você", de Sílvio César, e "Apelo", de Baden Powell e Vinicius de Morais (um samba-canção lançado em 1966 por outro cantor que a noite carioca abraçaria, Sílvio Aleixo, este uma atração, mais adiante no tempo, da cervejaria Bierklause). A voz rouca e aveludada da "crooner" Áurea Martins (foto acima) a levaria ao périplo profissional por diversos bares e boates de prestígio no sereno carioca, como a Number One, em 1972, revezando-se, ao som do piano de Édson Frederico, com os também novatos Alcione e Djavan; ao 706, no Leblon, em meados da mesma década, onde cantou acompanhada por Cristóvão Bastos e conheceu o amigo fraterno Emílio Santiago - outra revelação de "A Grande Chance" - ; e, no final dos 70, na Lagoa, ao Teclado, acompanhada ora por Zé Maria Rocha, ora por Johnny Alf, e ao Chiko`s Bar, onde mais um pianista lhe faria boa companhia na canção, o bossa-novista mangueirense Luiz Carlos Vinhas.              .
       Cantora que fazia Elizeth Cardoso sair de casa à noite para vê-la sob as luzes da ribalta - "coisa rara em Elizeth", segundo observação de um grande amigo de ambas, Hermínio Bello de Carvalho -, Áurea Martins, cujo recorte interpretativo remete ao figurino de célebres cantoras, como Zezé Gonzaga, Dalva de Oliveira e a própria Divina, ganhou no ano passado o Prêmio de Música Brasileira (antigo Prêmio TIM) como a melhor cantora da MPB. Flores tardias, mas ainda ofertadas em vida a uma personalidade que, nos últimos anos, soltando a voz ebanácea no sacudido Carioca da Gema, na Lapa, soube granjear a simpatia e a admiração de uma garotada classe-média não aparvalhada pelos "mass media" e antenada com a tradição do samba. Também entre jovens musicistas, entre as quais a covocalista gaúcha Vica Barcellos, Áurea avulta no "ensemble" feminino da Orquestra Lunar, de belo CD lançado em dezembro de 2007. O saudoso Mestre Marçal, sempre que visitado pela prudência, dizia "provar o mingau pela beirada do prato, enquanto ele esfria no meio". Áurea Martins jamais foi uma "cantora de multidões", mas, em contrapartida, ao reiterado som do aplauso noturno, soube fixar no seu microfone uma indiscutível referência de qualidade e pastorear ao longo da estrada artística um rebanho não tão numeroso de admiradores, porém fiéis e musicalmente informados, ou seja, a sua "multidinha", como, em tempo anterior ao seu, já o fazia outro cantor referência de valor e capacidade, o pré-bossa-novista Lúcio Alves.
       Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 
       Um abraço,
 
       Gerdal         

Pós-escrito: 1) Nesta terça, 27 de abril, às 19h30, no Santo Scenarium (Rua do Lavradio, 36 - Lapa - tel.: 3147-9007), Áurea Martins canta e bate um papo sobre a carreira com o jornalista Amaury Santos, em mais uma etapa do mensal De Conversa em Conversa, da Caravela Brasileira Produções
                  2) nos "links" abaixo, Áurea Martins canta "Escuta", do nosso "chansonnier" Ivon Curi; "Eu Sou a Outra", do jornalista Ricardo Galeno e sucesso da carreira de Carmen Costa; e, com o promissor Moyseis Marques, da geração Lapa, dois sambas de Billy Blanco: "Estatuto de Boate" e "Mocinho Bonito".
 
 
        
http://www.youtube.com/watch?v=o01d5_yXnY8&feature=related
 
        

http://www.youtube.com/watch?v=8-tib5Fxjiw#


         

http://www.youtube.com/watch?v=rpZRvxfxdQ0&NR=1

 
         

http://www.myspace.com/aureamartins

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