7.5.10

Homenagem do Gerdal: Manoel da Conceição ("in memoriam"): um violão de fundo sempre em primeiro plano na tevê



"Andam comentando por aí/coisas que eu não posso acreditar..."

 
     Prezados amigos,
 
     Só me lembro "meio" vagamente...e, no caso, de um programa diário da antiga TV Educativa a que só pude assistir poucas vezes - creio que já nos anos 90 -, apresentado com a irreverência e a inteligência saltitantes na personalidade do finado arquiteto, jornalista, escritor, boêmio e letrista Marcos Vasconcellos - coautor com o violonista, artista plástico e também arquiteto Carlos Alberto Pingarilho do emblemático "Samba da Pergunta", de 1966, em fase já politizada da bossa nova. Marcos comandava um círculo de bate-papo, com convidados diferentes cada noite e de setores variados da vida social, política e cultural do Rio, e também na memória, sem o esmaecimento trazido pelos anos, ficou-me clara, da imagem do estúdio da emissora, entre todos os participantes do programa, animando, como fundo, a conversação, a figura serena de um violonista de mãos cheias - e que mãos grandes e grandes mãos! -, sempre "na dele", quase só tocando: Manoel da Conceição. Conhecido como Mão de Vaca pela maneira de tocar - fazendo vibrar as cordas com o polegar, mas mantendo os demais dedos da mão direita fechados -, esse autodidata carioca, nascido em São Cristóvão, iniciou-se no palco, em 1953, na orquestra alatinada de Ruy Rey, e, no disco, em 1956, com o dez-polegadas "Eu Toco e Ela Dança". No ano seguinte, fazia sucesso com o samba "Dizem por Aí" (de versos iniciais acima destacados), composto com o ritmista Alberto Paz e gravado com sucesso por Lúcio Alves. De 1955 a 1959, acompanhou Angela Maria e, de 1959 a 1961, a divina Elizeth Cardoso, para a qual Mão de Vaca valia "por uma orquestra inteira" e do qual gravou, em 1960, no elepê "A Meiga Elizeth", um delicioso samba (na parceria com Augusto Mesquita), "Tentação do Inconveniente". Também Radamés Gnatalli se encantou pelo violão e pelo "ouvido extraordinário" do músico, que, de 1961 a 1969, acompanhou Chico Anísio em shows variados que mesclavam humor e música. Esteve várias vezes no Peru, na Colômbia e na Argentina, entre outros países, e realçou, nos anos 70, a gravação de elepês de Lecy Brandão, Martinho da Vila, Antônio Carlos e Jocafi e Maria Creusa, entre outros, sem deixar de gravar um ótimo seu, "Batucada do Mané" (capa reproduzida abaixo), de 1975, com produção de Rildo Hora. Nesse ano, já colaborava com a Rádio MEC, onde permaneceu até 1992 e pôde apresentar um programa próprio, "Manoel da Conceição sem Couvert", em que tocava violão e contava episódios marcantes da sua longa carreira de instrumentista. 
     Morto em 1996, Mão de Vaca, nascido em 1930, completaria  80 anos em 19 de dezembro deste 2010. Ainda me lembro de vê-lo em outras atrações da TV E, hoje TV Brasil, acompanhando vários artistas e também fazendo fundo com as suas cordas e os seus acordes para outros bate-papos musicais em imagens da emissora. Um fundo musical que, pela competência, pelo brilho e pelo magnetismo da figura do violonista, sempre roubava a atenção do espectador e se tornava igualmente atraente na atração veiculada. A ele, nestas linhas, a minha estima permanente e a minha grata recordação.

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