21.7.10

Dica do Gerdal: Chico Salles canta, nesta quarta, no Rio Scenarium, e divulga novo CD - o samba e o forró em fato bem consumado



"Por que você demorou a chegar/eu contei cada minuto/cada segundo é o fim do mundo/se você demora tanto/perco o encanto se você não vem/mas a solidão me inspira/eu canto quando não posso vê-la/como alcançar uma estrela..."
     
       
 
        Vencedor do Prêmio Sharp de Música, em 1998, na categoria Revelação Regional, com um excelente e hoje raro CD, "Viola Que Fala", o talentoso compositor e exímio violeiro Miltinho Edilberto ("fabuloso", segundo o saudoso mestre Paulo Moura) já seria, por si só, além do titular do CD, é claro, uma forte razão para sensibilizar o amante da boa MPB a comprar o "O Bicho Pega", do paraibano Chico Salles (foto acima), recém-lançado. Desse paulista de Mirandópolis, Chico, que cresce em relevância fonográfica a cada disco, fez, apoiado na sanfona e no arranjo delicadamente sedutor de Adelson Viana, uma regravação do belo xote "Como Alcançar uma Estrela" (dos versos acima) de prender a atenção e soltar a imaginação em rodopio romântico, numa empreitada também dançante à qual outras razões, personificadas por outros compositores, adicionam-se para uma audição muito prazerosa. Um grande CD, este do Chico, no qual a temperatura rítmica se eleva ao som de músicas de dois pernambucanos arretados, Maciel Melo ("Forró do Apagão", que Chico canta com Fagner) e Petrúcio Amorim ("Forró do Sapateiro"), e, em outras faixas, ainda de gente do Nordeste, destaca o curioso e cativante poeta e contador de "causos" Jessier Quirino (também paraibano e visto há pouco no programa de Rolando Boldrin, na TV Cultura) numa curiosa criação de título extenso e letra bem mais "expandida", "A Cumeeira de Aroeira Lá da Casa-Grande" (incrementada pelo duo com Alfredo Del-Penho), além do múltiplo barbudo Bule-Bule na esquentada - em melodia e verso - faixa-título ("bafo de boca não me intimida/cara feia não me assusta....se me faltar com respeito/o bicho pega"). Outro xote bem revisitado no CD, extraído do relicário vinílico de Jackson do Pandeiro, é "Nem Vem Que Não Tem", do veterano José Orlando e gravado em 1972, poucos anos após o sucesso de mesmo título de Wilson Simonal, este um hit da voga da pilantragem composto, aliás, pelo mentor dela, Carlos Imperial.
        Nascido em Sousa, hoje São Francisco do Chabocão, mas "carioca da clara" dentro do ovo do Rio de Janeiro há quarenta anos, está Chico Salles, como se dizia no tempo em aqui chegou, plenamente "inserido no contexto" da ambiência artístico-cultural da antiga capital do país. E, de tal forma, como observa Bráulio Tavares, outro paraibano de alto coturno e cordelista bem sextilhado como ele, no encarte de "O Bicho Pega", que "a temática e a gíria carioca se infiltram nos seus versos; que algo do jeito sincopado de cantar já está presente na sua performance como intérprete; e sambas autênticos já marcam presença no seu repertório". Cita Bráulio, como exemplo, o buliçoso "Não Vá Fazer", que ouvi imaginando - uma pena que não mais possível - um registro na velha bolacha por Jorge Veiga, que logo me pareceu, entre os intérpretes retrospectivos na história da MPB, o mais afinado com esse samba em estilo e divisão.. 
        Nesta quarta, 21 de julho, tendo como convidado Edu Krieger, o também engenheiro civil Chico Salles se apresenta no Rio Scenarium (Rua do Lavradio, 20 - Lapa - tel.: 3147-9005), a partir das 22h. Dele e do perspicaz Edu, ainda a propósito de "O Bicho Pega", é, cumulado de referências regionais, um baião primoroso, de ecos "gonzago-humbertianos", "Masculina": "Minha paixão verdadeira/meu xodó abençoado/que carrego pela vida/dentro do peito guardado/não é amor proibido/também não é escondido/é um fato consumado/ê masculina...ê masculina..." E que arranjo lindo do João Lyra!  
       

Nenhum comentário: