14.8.10

Micro Teatro : interpretação 1



Uma mulher e um homem no palco - luz sobre eles, o resto é penumbra

Mulher (no chão , caracterizada como mendiga, com um cobertor cinza sobre os ombros)
- Como chegamos até aqui?

Homem - Pagando impostos, ora! Pelo menos é o que me parece.

Mulher- Eu não paguei nada, não tenho um tostão furado. He He He...

Homem- A senhora é um exemplo de que a sociedade capitalista não deu certo.

Mulher- O senhor tem razão, me dá um dinheiro para eu comprar um pão?

Homem- Não, a senhora vai comprar bebida, solvente, crack, essas drogas de pobre!

Mulher- Não, meu senhor, eu falo sério, estou com fome, meu estômago ronca, parece uma cuíca, he he he...

Homem- Desculpe , mas é contra os meus princípios dar esmolas.

Mulher- Não é esmola, é um empréstimo...não é assim o ditado: - quem dá aos pobres, empresta a Deus?

Homem- Sou ateu!

Mulher- O que é ser ateu?

Homem- É não acreditar em Deus.

Mulher- Xi, é ruim, hein! Desse mato não sai cachorro. Mas pense uma coisa, o senhor não dá esmolas pois pensa que sou mendiga, porque pensa que sou marginal, que vou me drogar...mas se eu disser que sou ...bem, deixe para lá...

Homem- (mostrando algum interesse) - Agora fiquei curioso, conte sua história...

Mulher- Não, o senhor não compreenderia. Está frio, pelo menos conte o senhor, uma história para que eu possa dormir...faz muito tempo eu tive uma mãe que me contava histórias para dormir...

Homem- Era uma vez ...em algum rincão do universo cintilante que se derrama em um sem número de sistemas solares, havia um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi um minuto soberboe mais mentiroso da "história universal": mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer..."

Mulher- Mas isso é Nietzsche, "Sobre a verdade e a mentira no sentido extra-moral" de 1873!

Homem- Como ousa, a senhora, uma maltrapilha, uma pedinte entender de Nietzsche?

Mulher- A ficção me permite isso. Sou agora uma maltrapilha, ontem fui uma doutoranda, amanhã serei a morta que ressuscitou. Vivo como o "Vigarista" de Melville...(digo The confidence-man)...

Homem- Tome o dinheiro!

Mulher- O que? Está me dando uma esmola?

Homem- Não, estou pagando o ingresso.


( Fecha o pano - Na platéia ouvem-se aplausos e vaias!)

Ao abrir o pano para os agradecimentos, a mulher vem vestida de homem e o homem vestido de mulher- mendiga

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