5.1.11

Mil pessoas pessoas no Theatro Municipal para ver Guerra e Paz de Portinari



Confesso que tentei escrever um artigo sobre o fascínio que a arte pictórica ainda exerce sobre as pessoas. Fracassei depois de queimar a mufa. Portanto quero apenas registar aqui que fiquei comovido ao ver os murais Guerra e Paz (pertencentes ao acervo da ONU) de Portinari que estão em exposição no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Tive o privilégio de ver essa obra magnífica, junto com mais de mil pessoas. Valeu a pena esperar quase por uma hora numa imensa fila que dobrava o quarteirão. É preciso dizer que os murais foram expostos há 54 anos atrás no mesmo Theatro Municipal, onde foram "inauguradas" pelo então presidente JK. Cada um deles tem 14 metros de altura por 10 metros de largura. Essas pinturas comovem tanto pelas suas qualidades estéticas, pela sua potência expressiva, como por tudo que as cercaram: o sacrifício do artista,( que contrariou os médicos que o proibiram de pintar), suas estonteantes dimensões e o trabalho sobre-humano que elas exigiram -(esboços, estudos, cálculo, engenho e arte)
A mostra foi prorrogada até o dia 6 de janeiro, ainda dá tempo para se ter essa experiência estética que ficará decerto guardada para sempre na sua memória afetiva.
Pelo visto, o "povo" gosta de arte, o que é preciso, é permitir o acesso. A cultura de um povo se constrói também assim. Desculpe se caí no populismo desbragado, mas fiquei emocionado em ver a quantidade de gente que compareceu neste dia, para ver a obra eterna desse grande homem que foi Candido Portinari.

4 comentários:

Maysa disse...

Querido Lib

Podemos nos considerar irmanados, além, ainda,acima, pelo êxtase que os Painéis de Portinari nos traz!
Já havia publicado n'o Ninho e a Tempestade sobre essa sensação, tão complexa da nossa emoção, que é ativada em várias dimensões. Você e todos que os viram sabem! Fiquei duas horas na fila, pois sobrei no horário a que me propunha...mas valeu ora se!
Bj
Maysa

LIBERATI disse...

Querida Maysa, pois é, foi depois de ler no seu blog o texto sobre sua emoção em ver essa magnífica obra que é Guerra e Paz, que resolvi me arriscar, com minha filha e participar desta experiência estética única. Na realidade, Maysa, a gente fica sem palavras para contar o que acontece quando a luz enfim ilumina a obra e invade a retina daquela muldidão que fica , acho que pasmada, em etado de êxtase mesmo. Então fui tentar escrever sobre minha experiência lá no Theatro Municipal e fazer uma relação com a consideração da arte pictórica na atualidade das "artes" e me perdi na madrugada numa selva complexa, e o texto entrou por veredas que me levaram a reflexões que caberiam em outro lugar, numa outra discussão. Enfim, vencido pelo cansaço, no meio da madrugada calorenta desta cidade maravilhosa, optei por um texto curto, sem mais mais. Falando nisso, o seu texto sobre o tema está lindo, emocionante. Uma coisa que aprendi com isso tudo é que o "povo" quer arte, "não que só comida" (como bem disseram os Titãs do Iê Iê Iê), mas quer arte - é só dar acesso, abrir avenidas. Assim se cria uma cultura. Claro que não estamos reduzindo a Cultura ao que era considerado "alta cultura"(ópera, música clássica, pintura, escultura no sentido aristocrático), mas é preciso começar por algum lugar, e os museus, teatros e cinemas devem se tornar lugares de inclusão. Valorizar a cultura popular - a produção regional como uma corrente contrária à manipulação mediática que nos empurra essas tendências de moda que são criadas e se tornam quase que "naturais". Assim o brasileiro acaba virando "sertanejo pop", a Bahia só produz axé para sacudir as massas, o Rio é a terra do carnaval, e esse roquinho adolescente faz a cabeça da moçada e assim por diante. O mundo é imenso e contraditório, tudo deve ser visto - é preciso no entanto criar os acessos. Bela iniciativa esta de mostrar o Portinari.
bjs

Maysa disse...

Querido Lib
Volto para declarar que concordo com cada letra e cada vírgula em teu comentário assinaladas.
Também para destacar o valor do Projeto Portinari, desenvolvido a partir da vivência de seu criador,João Cândido Portinari, um professor e filho único do Artista.
São projetos como este que visam o compartilhamento e valorização da obra que se mistura à vida de seu criador e às nossas vidas e identidades. Beijão querido amigo!
Maysa

LIBERATI disse...

Claro querida Maysa, o trabalho do João Cândido Portinari ( o filho do homem) é, sem dúvida, uma dádiva para o Brasil, para nossa Cultura. O Projeto Portinari deveria servir de modelo para cuidar de outros acervos, de outros artistas - muito competente, ele e você destaca algo importantíssimo, a intenção de compartilhar esse "conhecimento", essa beleza de obra. A valorização da identidade "brasileira" - para acabar com esse complexo de vira-latas que o Nelson Rodrigues atacava.
bjs