18.4.11

Geraldo Flach: o silêncio definitivo das teclas de um perfeccionista logo após belo disco em companhia de Virgínia Rosa




 
Prezados amigos,
 
       Ouvi neste último domingo o recente CD sobre o qual escreve, linhas abaixo, em apreciação detalhada e de muita sensibilidade, Aquiles Rique Reis, colunista e cantor do MPB4. Uma maravilha reunindo o piano e os arranjos de Geraldo Flach e a voz linda e cristalina de Virgínia Rosa. Faço minhas as palavras de Aquiles e, com elas, presto a minha homenagem a esse músico porto-alegrense (foto acima), gremista apaixonado, por cuja obra sempre nutri especial apreço, infelizmente falecido, aos 65 anos, no início deste 2011, no dia 3 de janeiro, por causa de um câncer intestinal.
       Parceiro do carioca Arthur Verocai em "Um Novo Rumo" - que Elis Regina defendeu, em 1968, no Festival Universitário do Rio de Janeiro -, Geraldo, apesar da sólida formação erudita, começou na profissão já aos 14 anos animando bailes populares, acompanhou estrelas da MPB, como Nana Caymmi, e teve por muito tempo, na capital gaúcha, uma produtora de "jingles", a Plug, e, nos anos 60, programas na Rádio Difusora ("Um Piano em Destaque") e na TV Piratini ("Programa Geraldo Flach", com muita bossa nova), musicando ainda, além de filmes - como o premiado curta "Ilha das Flores", do conterrâneo Jorge Furtado -, festival (o tema-prefixo do de Gramado) e até casamento, como o do amigo e parceiro Ivan Lins (ambos em foto acima) com Lucinha Lins (uma canção feita por ele especialmente para a ocasião, à qual Ivan responderia com outra, sua, anos depois, quando do segundo casamento de Geraldo, em 1988). Em suma, também um excelente compositor, de inclinação jazzística (uma beleza, em intenção de Pixinguinha, a sua "Mestre Pizindim", com gravação feita em Nova York para o elepê "Piano", da RGE, de 1990), e um dos nomes exponenciais da seara instrumental no sul do país.    
       Nos "links" seguintes, 1) Geraldo Flach e Virgínia Rosa em "Dindi", de Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, faixa do CD infradestacado (capa abaixo) por Aquiles Rique Reis em texto publicado em vários jornais em fins de outubro de 2010; 2) um "slideshow" com imagens de Elis Regina, ela cantando "Um Novo Rumo"; 3) Geraldo Flach, ao piano, tocando o hino do Grêmio ("Até a pé nós iremos/para o que der e vier/mas o certo é que nós estaremos/com o Grêmio onde o Grêmio estiver..."), feito em 1953 por outro torcedor fervoroso do clube, Lupicínio Rodrigues, motivado inicialmente por uma greve de ônibus na capital gaúcha.
       Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
 
       Um abraço,
 
       Gerdal 
          
 
       http://www.youtube.com/watch?v=UGC36EgpdPM ("Dindi")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=yNWT6sM8y1M&feature=related ("Um Novo Rumo")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=Pm5yFG5vj60&feature=related (hino do Grêmio Futebol Porto-Alegrense)
 
      
Boa música embalada em elegância e refinamento
            Virginia Rosa & Geraldo Flach – Voz e Piano (Lua Music) traz a competência e a sensibilidade da cantora paulistana e do pianista, compositor e arranjador gaúcho. Assim nasceu um CD de alta qualidade.
            A voz de Virginia e o piano de Geraldo fluem por treze faixas selecionadas com o rigor que precede momentos de grande eloquência musical. Há ainda duas faixas bônus: “Ta-Hi – Pra Você Gostar de Mim” (Joubert de Carvalho), com participação especial do pianista Ogair Jr., e “Prenda Minha” (domínio público), com a também distinta presença de Lucinha Lins.
Virginia Rosa abre o álbum cantando à capella “O Meu Amor Chorou” (Luiz Marçal Neto), grande sucesso na voz de Paulo Diniz. E a sua voz firme, potente, afinada e sentida derrete-se, sorvendo cada nota, cada sílaba.
           Em “Amor de Índio” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos), a introdução tocada por Geraldo já dá pinta de que a levada será diferente da que todos já conhecemos pela gravação de Beto. E assim é em todos os arranjos de Flach: ele busca trilhar caminho próprio, buscar sutilezas que engrandeçam as obras interpretadas.
            Na obra-prima de Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, “Pressentimento”, a voz de Virginia ganha ainda mais força graças às modulações propostas pelo arranjo e conduzidas com vigor pelo piano. Os vocalises feitos ao final dão mostras de quanto o belo e o antológico podem ainda ser revigorados. Para encerrar, um pequeno trecho de “O Morro Não Tem Vez” (Tom e Vinícius), com direito a novos e agudos vocalises, feito os de uma lamentosa porém refinada cuíca.
            Dedilhado no piano, “Que Nem Jiló” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) deixa de lado na primeira parte a marcação do baião. Mas quando o piano balança, o suingue atiça nordestinidade ao arranjo. Com novos vocalises temperados com agudos, Virginia encerra.
            “A Flor”, bela canção de Fernando Figueiredo, é um dos mais belos momentos do CD. Líricos, os versos dão luz a uma melodia de impacto comovedor. “A Voz do Coração” (Celso Fonseca e Ronaldo Bastos) é outro instante emocionante.
            “Kalu” (Humberto Teixeira), “Dindi” (Tom e Aloysio de Oliveira) e “Cacilda” (José Miguel Wisnik) arrebatam pela forma como Virginia as canta. Que voz! O piano de Geraldo faz com que as gravações originais se reflitam em seu tocar suave, mas sem, entretanto, copiar-lhes as intenções harmônicas e melódicas. Sensibilidade!
            “Maria, Maria” (Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Upa, Neguinho” (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri) têm a força multiplicada pela capacidade de síntese de Virginia e Geraldo. E o chamamé (ritmo folclórico argentino, com grande força no Rio Grande do Sul) “Mercedita” (Ramón Sixto Rios) demonstra o quanto os dois têm visão musical aberta, sem parti pris.
            Para fechar, Geraldo Flach sola o seu “Choro Amoroso”. Momento musical de intensa brasilidade, a atestar que música sem fronteiras é a que tem o gosto da terra em que nasceu, mas todo o mundo ama saboreá-la.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4.

Nenhum comentário: