30.5.11

Chau do Pife: a força da tradição em um sopro popular brotado em milharal das Alagoas



Sentado numa pedra e espantando pássaros que vinham atacar pela manhã a plantação de milho aos cuidados do pai, agricultor, que um ainda pequenino José Prudente de Almeida, na sua Boca da Mata natal, descobriu o encanto da sonoridade do pife. Para aquela finalidade, exercitando-se em "apitaços", o pai, também um pifeiro amador, lhe dera o instrumento, e tal episódio da infância, de tão marcante, ensejou ao elogiado sopro desse autodidata alagoano não só a composição "Memória dos Pássaros", como também um CD assim intitulado em 2002. O apelido Chau, ainda em Boca da Mata, recebeu-o na adolescência, já desenvolto no pife como músico de feira, um sopro que há anos o torna uma referência de excelência em seu estado e, nele, um legítimo sucessor de João Bibi dos Santos, o João do Pife, morto no início de 2009, em Maceió, aos 79 anos, ainda analfabeto e considerado um gênio na execução do seu instrumento, especialmente conhecido por sua atuação pelo Brasil afora e adentro, entre 1968 e 1980, em shows do humorista caruaruense Luiz Jacinto, este famoso na pele do Coronel Ludugero. 
          Condigno representante, na rica diversidade da cultura popular do Nordeste, dessa forte tradição do pife - feito com o bambu taboca e também chamado de fife, pífano ou pífaro, remontando ao período colonial  -, Chau, no mês passado, gravou o seu primeiro DVD, "Cheiro do Mato", no reformado Teatro Deodoro, na capital alagoana, e, no final de 2010, participou com destaque da sexta edição do Maceió Jazz Festival. Dele tenho o segundo CD, "Ninguém Anda Sozinho", de 2006, em que, além de belas regravações de "Casinha Branca", de Gílson, Joran e Marcelo, e "Lamento Sertanejo", de Dominguinhos e Gilberto Gil, mostra um repertório autoral da melhor qualidade, com músicas que vêm, como já afirmou em entrevista, da simplicidade de observação de ocorrências próximas do seu cotidiano. Pude ouvir o disco, de férias, em março passado, enquanto caminhava e curtia o sossego vespertino de Paquetá numa quarta-feira de céu todo azul. Um cenário, alíás, apropriado e em plena sintonia com a fruição de um trabalho simplesmente precioso.
          Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.
        
          Um abraço,
 
          Gerdal 
 
Pós-escrito: nos "links" seguintes, o sopro de Chau do Pife (foto acima) em: 1) "Feira de Mangaio", de Sivuca e Glorinha Gadelha, e "Lamento Sertanejo"; 2) "Da Pitigoitana", de Eliezer Setton, acompanhado por esse grande conterrâneo forrozeiro; 3) número compartilhado com o Coletivo AfroCaeté; 4) aula-show ministrada no Teatro Arena, em Maceió; 5) "Vassourinhas", clássico do frevo, animando a vigésima quarta edição da Festa da Lavadeira, realizada anualmente no município praiano de Cabo de Santo Agostinho (PE)..
 
          http://www.youtube.com/watch?v=vhH5plRteQo&NR=1 ("Feira de Mangaio" e "Lamento Sertanejo")
 
          http://www.youtube.com/watch?v=1igkdwiFkUo&feature=related ("Da Pitigoitana")
                  
          http://www.youtube.com/watch?v=yasgIyKxUCg&feature=related  (Chau do Pife e o AfroCaeté)
            
         http://www.youtube.com/watch?v=lXe1seA6cis&NR=1 (aula-show de pife)
  
          http://www.youtube.com/watch?v=Mb3RA8texh8&NR=1 ("Vassourinhas")

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