29.5.11

Zé Menezes reaparece, neste domingo, no "MPBambas", e fala sobre sua música, feita e tocada com mestria: com ele é assim



César Ladeira não titubeou quando, em 1943, em Fortaleza, em visita à Ceará Rádio Clube, que então inaugurava o seu serviço de ondas curtas, viu um garoto muito bom de violão e fez-lhe um convite para que viesse para o Rio, com contrato assinado, e atuasse na extinta Rádio Mayrink Veiga. Nascido em Jardim, também no Ceará, e, na sua cidade, criança ainda, participando da banda municipal e animando sessões de cinema e festas, José Menezes França, o Zé Menezes (foto acima), já no Rio, daria ainda mais largas factuais ao vaticínio do controvertido Padre Cícero, que, ao vê-lo menino, diante dele, tocando ao cavaquinho um choro autoral, "Meus Oito Anos", disse-lhe, iluminado, mão posta sobre a cabeça do pequeno executante: "Você vai ser um grande músico." De fato, em 1947, saindo da Mayrink para a Nacional, onde ficaria por 25 anos, teve nesta emissora chance de aflorar com vivacidade ampliada o dom policromático das suas cordas - é versado em todos os instrumentos dessa família -, além da lida como compositor e arranjador, atuando ao lado de colegas exponenciais, como Garoto (o qual substituíra na Mayrink, em 1943, quando da saída deste de lá) e Radamés Gnattali Com o "moleque do banjo" Aníbal Augusto Sardinha - que, em 1998, homenageou no CD "Relendo Garoto" - faria dupla virtuosa, em programas como "Nada Além de Dois MInutos", e do pianista, maestro e arranjador gaúcho seria, em 1949, integrante, como guitarrista, do Quarteto Continental tocando ainda em companhia de cobras como o contrabaixista Vidal e o baterista Luciano Perrone, uma formação gradativamente dilatada, no ano seguinte, para quinteto - com o ingresso de mais gaúcho, Romeu Seibel, o Chiquinho do Acordeom - e, oito anos mais à frente, para sexteto, quando outro piano reforçou a formação, muito bem tratado por Aída Gnattali, irmã do "radamestre" ("apud" Fred Falcão, autor de choro assim intitulado). Tocavam na Nacional acompanhando os cantores de nomeada do "cast" e, na constituição final do conjunto, já excursionavam por cidades europeias, como Paris, Lisboa e Roma.
        "Não existe mulher feia, existe mulher mal arrumada. Com a música, é assim. Melodia sem harmonia bonita para alinhavar é uma coisa sem cintura." Chistoso na palavra, Zé Menezes, com esse lado descontraído da sua personalidade, liderou, com vários elepês gravados e muito bem autoadjetivados nas capas ("bárbaros", "sensacionais", "fabulosos" etc.), Os Velhinhos Transviados, um grupo de experientes e ótimos músicos que se apresentava de modo caricato em bailes, com peruca e maquiagem gritante, trazendo ainda para o seu repertório um quê galhofeiro aos arranjos - de alta qualidade, por sinal - para ritmos e canções em evidência no "hit parade" da época. Isso se ouve, por exemplo, em "O Passo do Elefantinho" ("Baby Elephant`s Walk", de Henry Mancini, presente na trilha do longa "Hatari"). Zé Menezes, que fará 90 anos no.próximo 6 de setembro, aposentou-se em 1992, mas, desde então, ainda faz os seus frilas, atuando em show ou gravação. Costuma ser lembrado pelo bem conhecido tema de abertura do humorístico "Os Trapalhões", da TV Globo, emissora na qual trabalhou por muitos anos, incialmente como primeiro guitarrista e, depois, como arranjador e diretor musical. Neste domingo, 29 de maio, às 12h, pelo Canal Brasil (66 na NET), conversa com o jornalista Tárik de Souza na reprise do "MPBambas", passando em revista, na meia hora desta atração, parte expressiva de toda uma vida dedicada à música, muito benfeita e muito bem tocada: com ele é assim.
        Um bom domingo a todos. Grato pela atenção à dica.
 
        Um abraço,
 
        Gerdal
 
Pós-escrito: a) nos "links" seguintes, 1) João Gilberto canta o clássico "Nova Ilusão", de Zé Menezes e Luiz Bittencourt; 2) Zé Menezes, bem acompanhado, toca, de sua autoria, o belo "Tema para Gabriela", ainda mais belo na sua execução; 3) com os mesmos músicos, entre os quais se destaca o magnífico Proveta, Zé Menezes toca o seu "Tudo Azul"; 4) Miúcha e Tom Jobim em gravação de 1977 de "Comigo É Assim", outra parceria Zé Menezes e Luiz Bittencourt, o samba inicialmente conhecido no início dos anos 50 pela gravação dos Cariocas; 5) com o Quarteto Jogral, formado em Turim e contando com o percussionista mineiro Gílson Silveira e o hondurenho criado em Natal (RN) Roberto Taufic, há anos radicados na Itália,  ouve-se o frevo "Aquecimento", de Zé Menezes.
                    b) na recomendação acima do "MPBambas" deste domingo, citei, "en passant", o amigo compositor Fred Falcão, sobre o qual preciso fazer duas retificações quanto à minha dica do disco dele, "Voando na Canção", lançado em grande show, com vários artistas, há dois domingos: ele se aposentou como assistende jurídico do munic[ipio do Rio de Janeiro, e não procurador de Justiça, como escrevi; 2) seu inspirado parceiro, Arnoldo Medeiros, morou, de fato, muitos anos nos EUA, mas há algum tempo voltou a residir aqui, em Brasília.

 
      http://www.youtube.com/watch?v=1ARz_yp4ib0&feature=related ("Nova Ilusão")

      http://www.youtube.com/watch?v=vJd98oEKshA ("Tema para Gabriela")
 
      http://www.youtube.com/watch?v=G4WEOINKo58&feature=related ("Tudo Azul")
 
        http://www.youtube.com/watch?v=l5oLzi1ysKo ("Comigo É Assim")
 
       http://www.youtube.com/watch?v=JQSseae8CY8 ("Aquecimento")

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