20.6.11

Cyro Pereira: uma lembrança do maestro da Jazz Sinfônica e de históricos festivais na tevê



   
"A música ilumina a alma e nos deixa sempre jovens." (Cyro Pereira)
 
      Prezados amigos,
 
      Dedico, inicialmente, estas linhas ao jovem amigo e excelente bandolinista Luís Barcelos, radicado no Rio de Janeiro há vários anos e já a caminho do primeiro CD solo. Ele é gaúcho de Rio Grande e, portanto, da cidade que também viu nascer o recém-falecido - no último dia 9, aos 81 anos - pianista, compositor e maestro Cyro Pereira (foto acima). Com percurso musical descrito em livro do jornalista Irineu Franco Perpétuo, "Cyro Pereira, Maestro", este trabalhou com colegas de batuta do porte de Gabriel Migliori, Lyrio Panicalli e Enrico Simonetti, destacando-se, nos anos 60, como o condutor da orquestra dos famosos festivais da TV Record, além de outras atrações de peso na mesma emissora, como "O Fino da Bossa", com Elis Regina e Jair Rodrigues. A convite de outro maestro renomado, Benito Juarez, lecionou orquestração, por dez anos (1989-1999), na Universidade de Campinas - Unicamp -, valendo-se da sua experiência na matéria nos âmbitos do rádio, do disco e do "jingle". Em 1990, colheu uma das mais caras satisfações na profissão ao abraçar a causa da orquestra Jazz Sinfônica, na qual pôde labutar à vontade como arranjador, dotando a nossa rica canção popular de cintilação sinfônica.
      Dedico ainda esta reminiscência póstuma ao também pianista e compositor Mário Albanese, parceiro de Cyro Pereira (ambos, juntos, em outra foto acima) e, com este, criador do jequibau, ritmo assentado em compasso quinário, que, conforme elucida no primeiro dos "links" abaixo, parece bossa nova, mas não é. São de Mário as palavras que destaco em seguida, um registro relevante da sua relação de amizade e de afinidade musical com o saudoso regente. Também abaixo, nos demais "links", 2) Cyro Pereira numa majestosa incursão jobiniana; 3) com o seu passamento anunciado na tevê, acompanhado de rápido retrospecto de carreira; 4) Mário Albanese ouvido em "No Balanço do Jequibau" (música sobre imagem de capa de um dos seus elepês, composta por ele e por Cyro); 5) outra gravação de Mário, também na parceria com Cyro, "Tarde Quente" (novamente com imagem ilustrativa).
     Um bom dia a todos. Grato pela atenção.
 
     Um abraço,
 
     Gerdal        
    
"Músico é aquele que consegue transformar em som tudo que acontece ao seu redor. A música nasce por um impulso inato, sendo óbvio que necessita de conhecimento técnico para ter molde artístico. O ensino musical no Brasil foi sempre entendido como um complemento da educação e, portanto, um privilégio dos mais abastados. Já, como fato social, sempre teve marcante importância, pois inexistem períodos sem música e as expressivas manifestações musicais no carnaval, nos chorões e nas serenatas assim o comprovam. Ainda, é de amplo conhecimento que a maioria dos grandes nomes da música popular do passado foi autodidata, instruiu-se por si, no convívio com outros músicos, ouvindo discos e também pela comunicação oral. Houve época em que o músico era tratado como um pária, um indivíduo sem casta na sociedade, por ser boêmio e sem profissão definida.  Cyro Marin Pereira, nascido na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, veio para São Paulo em 1950 com 20 anos e foi um dos que aprimorou seu conhecimento musical no dia-a-dia, trabalhando como pianista, arranjador e regente de orquestra na  Rádio Record de São Paulo, na Rua Quintino Bocaiúva,  onde me foi apresentado pelo inesquecível  Garoto, Aníbal Augusto Sardinha.  Àquela época e no campo da música popular, geralmente as músicas não eram escritas, sendo apresentadas pelo autor tocando, cantando ou numa gravação em minicassete caseiro.  Assim e nessas condições, a importância do arranjador se evidenciava na estrutura final da composição ao agregar introdução, harmonia e ritmo,  fatores decisivos para sua aceitação. Em um artigo sobre o Cyro, publicado no jornal Hora de São Paulo, em 1982, destaquei a importância do arranjador e a necessidade de reconhecer como legítimo o direito conexo a que faz jus. Nesse sentido e com essa ótica, o Cyro produzira um programa intitulado o Maestro Veste a Música, para explicar com detalhes a instrumentação utilizada e os efeitos produzidos. Lembro-me que Insônia, de minha autoria, com letra de Heitor Carillo, foi dissecada pelo Ciro nesse programa sem imaginar que, no futuro, seríamos parceiros. Dessa proximidade resultou a gravação de Sol, minha composição inserida no LP Música dos Astros, PPL 12014, da Continental, com Cyro e orquestra. O fato curioso foi o expediente utilizado pela gravadora de lançar esse mesmo disco mudando o título para Românticos Del Caribe, como contraponto ao sucesso obtido pelos Românticos de Cuba. Sem dúvida, o convívio diário com o Cyro nos anos sessenta foi produtivo. Eu o reencontrei na Rádio e TV  Record, instaladas na Av. Miruna, perto do aeroporto de Congonhas, num momento especial, pois os maestros Gabriel Migliori, Hervé Cordovil e Cyro Pereira estavam com folga no trabalho em razão das radicais  mudanças realizadas na grade de programação da emissora. Assim, tivemos horas produtivas para conciliar as pesquisas que resultaram no jequibau, uma inovação autêntica que conseguiu, tal qual rastilho de pólvora, enorme repercussão nos EUA, consubstanciada nas gravações de renomados artistas e na inserção em métodos de ensino. Vencedor de concursos internacionais, sua expansão mereceu registros em matérias publicadas por revistas e jornais especializados do mundo. No livro, Cyro Pereira, Maestro, escrito por Irineu Franco Perpétuo, por feliz coincidência, a história do Jequibau se inicia na página 5/4 e vai até a de número 58. As pessoas queridas não morrem porque ficam encantadas na nossa lembrança, para sempre. O pensamento cria, o desejo atrai e a fé no trabalho realiza. Seu irmão de alma e eterno parceiro,  Mário Jequibau Albanese."
   
    
Pós-escrito: ainda a propósito do jequibau, escreveu o cordelista Teo Macedo: "Jequibau é jequibau/diferente marcação/cinco tempos por inteiro/contrariando a tradição/um compasso brasileiro/nova forma de expressão/jequibau é jequibau/a palavra é singular/não existe em dicionário/não adianta procurar/e depois de tantos fatos/é preciso registrar."
 
 
 http://www.youtube.com/watch?v=Bww_pV1YnoU&NR=1
 (Mário Albanese fala sobre o jequibau, criado com Cyro Pereira)          
 
http://www.youtube.com/watch?v=fURiFNXzD2E
 (Cyro Pereira e seu tratamento orquestral para a canção de Antonio Carlos Jobim)
 
http://www.youtube.com/watch?v=YxOc5Np-f-k&feature=related
 (notícia de morte de Cyro Pereira em um telejornal)
 
http://www.youtube.com/watch?v=GBqDTdZwLzw&NR=1 ("No Balanço do Jequibau")
 
http://www.youtube.com/watch?v=WetJRRgdSwo&feature=related ("Tarde Quente")

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