31.1.12

Caricatura e colagem: Glauber Rocha



Olhei pra este blogue e fiquei na dúvida e me espantei: "parece um blogue de música!"
É que a preciosa colaboração do nosso amigo e vizinho Gerdal tomou conta do território (ele é uma máquina de produzir textos) e isso aqui, aparentemente virou um palco onde desfilam desde o fino da bossa, a turma da MPB, os alternativos e as realezas do samba.
Daí que de vez em quando, para voltar às raízes do traço tenho que "postar" um desenho, e aqui vai um deles - a caricatura de Glauber numa montagem feita lá pelos anos 80 do século passado.
Obs: Notem bem, senhores navegantes, tentamos aqui fazer um blogue multicultural. Nesse coração vagabundo cabe de tudo um pouco: a literatura, a arte gráfica, o desenho, a poesia, as instalações, a música, a caricatura, as obras dos meus amigos etc e tal... e vamos nessa!

Picolino da Portela: uma estrela que não se apaga no firmamento do samba feito em Madureira





"Quando no mar uma embarcação a navegar/deixa um coração a soluçar/por alguém que partiu pra não voltar..."

       

        Há alguns anos, na única vez em que estive em Madureira por causa da celebração do Dia Nacional do Samba, encontrei, por acaso, lá pelas tantas, em rua próxima a um dos lados da estação ferroviária, um dos responsáveis pela revivência dessa festa no bairro, Marquinhos de Oswaldo Cruz. Conversando com ele, destacamos a figura de um grande compositor portelense, que não é dos mais visados na animação das rodas ou em regravações: Claudemiro José Rodrigues, o Picolino (foto acima). Lembro-me até do Marquinhos indicando-me, não muito distante de onde estávamos, em gesto elevado e alongado de braço, a casa onde havia morado o compositor, que se aposentara do batente pelo Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis. Assim como "O Teu Passado Impede o Futuro", que gravou em elepê de capa acima reproduzida, outra pepita do samba em tom menor, "Lenços Brancos" (de versos iniciais em epígrafe), é obra maior da lavra de Picolino, muito bem cantada por sua grande intérprete, Eliana Pittman. Também na voz dessa cantora carioca faz a sua saudação a outros bambas em "Tô Chegando, Já Cheguei", ele que, em 1950, aos 20 anos, adentrou pela primeira vez, para ficar até a morte, o terreiro portelense, egresso, já compositor, do bloco Unidos da Tamarineira, de Oswaldo Cruz. Conhecendo na nova agremiação Candeia e Valdir 59, nela integraria com eles um setor famoso no desfile de carnaval, a Ala dos Impossíveis (a primeira a surgir com coreografia), que lhes possibilitou, em meados dos anos 50, no clube High Life, na Glória, apresentação com as orquestras de Severino Araújo e Cipó. Em 1957, saborearam, juntos, o prazer de ver a azul-e-branco atravessar a passarela levando no gogó o belo "lençol" (samba descritivo e longo) que fizeram para o enredo "Legados de D. João VI", gravado naquele mesmo ano pela Sinter em "A Vitoriosa Escola de Samba Portela", um pioneiro elepê da escola.
       Ainda com Candeia e mais Casquinha, Casemiro, Arlindo, Jorge do Violão e Davi do Pandeiro, formou, em princípios dos anos 60, o grupo Mensageiros do Samba, em momento político de revitalização do chamado samba de raiz, inspirado pelo Centro Popular de Cultura da UNE. Uma bolacha da Philips foi a única dessa experiência conjunta a girar no prato da vitrola de então, o que, infelizmente, não sucederia em outra formação, de 1966, o Trio ABC (foto acima), da mesma Portela, em que Picolino teve como parceiros de canto, composição e ritmo Noca (recém-chegado da Paraíso do Tuiuti e levado por Paulinho da Viola à nova escola) e Colombo (peixeiro, guarda portuário, cantor de gafieira, técnico em Comunicação - cursou o Centro Unificado Profissional, atual UniverCidade - e auditor fiscal do INSS). Se não chegou ao vinil, o trio teve acesso a programas de grande audiência da nossa tevê, como os de Chacrinha e Flávio Cavalcanti, além de ter realizado shows por todo o país. Em 1967, em festival de músicas de carnaval promovido pela Secretaria de Turismo da então Guanabara e pelo Museu da Imagem e do Som, presidido por Ricardo Cravo Albin, em associação com a TV Excelsior, Picolino, Noca e Colombo obtiveram, na final do Maracanãzinho, a quinta colocação com "Portela Querida" ("Minha Portela querida/és razão da minha própria vida..."). Um samba que ganharia projeção na mídia com a gravação, em compacto simples da Odeon, por sua intérprete no certame, Elza Soares, laureada com o troféu Carmen Miranda, entregue por Aurora Miranda. O coração da cidade, mais uma vez, deixava-se levar pelo rio de beleza musical da Portela, para o qual o afluente Picolino, com suas águas autorais, muito concorreu. Uma saudade que ficou a mais (como ele mesmo cantou em música de Erivaldo Santos e Valentim) e se fixou no firmamento do samba, tornando-se uma outra estrela de Madureira que não se apaga.        
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção.

        Um abraço,

        Gerdal

Pós-escrito: a) dedico estas linhas à memória de Picolino e a Eliana Pittman, pela brilhante gravação de "Lenços Brancos", infelizmente não disponível no YouTube;
                   b) nos "links" seguintes, com exceção do último, músicas de Picolino: 1) "Lenços Brancos", com coro de pastoras, em gravação antiga, de 1962, do elepê "Samba no Chão", reunindo compositores da Portela e do Império Serrano; 2) "Tô Chegando, Já Cheguei" (em parceria com Caipira), na voz de Eliana Pittman; 3) "Secretário da Escola" (primeira parte de Picolino e segunda de Monarco), em gravação recente do paulistano Tuco e seu Batalhão de Sambistas; 4) "Foi Ela", de Candeia, faixa do disco gravado pelos Mensageiros do Samba.        
                            
        http://www.youtube.com/watch?v=7vLApkNVb8E
("Lenços Brancos")
     
        http://www.youtube.com/watch?v=PHlR5KLBZxE
("Tô Chegando, Já Cheguei")

        http://www.youtube.com/watch?v=SzfRH-HaY1I
("Secretário da Escola")

        http://www.youtube.com/watch?v=ZDMydQ8R6Lc&feature=related ("Foi Ela")

30.1.12

Festival de MPB de Petrópolis - RJ









 (Obs : O arquivo da foto de Mako veio com problemas de formatação e não abriu)
Reencaminho a vocês toda a informação abaixo, recebida do amigo Edigar Silva, da Promove Arte & Eventos, organizadora e realizadora do I Festival de MPB em Petrópolis, cidade natal do letrista Mário Rossi e do maestro César Guerra-Peixe. Uma informação que já veio com as fotos dos artistas participantes e os "links" musicais a eles relativos. Espero que tudo corra bem e outras iniciativas como essa propaguem-se no estado do Rio de Janeiro em benefício da nossa boa música popular.
       Um bom domingo a todos. Muito grato pela atenção à dica.

       Um abraço,

       Gerdal


Festival MPB Petrópolis-RJ


.:APRESENTAÇÃO:.

Vem aí a 1ª edição do Festival MPB em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

Petrópolis será por quatro dias palco de grandes shows da Música Popular Brasileira.
O Festival vivenciará o valor de nossa música em todo o mundo por sua riqueza em ritmos, melodias e composições.

Este grande evento busca difundir a música popular brasileira apresentando importantes cantores e compositores brasileiros e terá também atração internacional demonstrando a força e a riqueza de nossa música pelo mundo.

O Festival MPB Petrópolis-RJ segue a iniciativa do Petrópolis Jazz & Blues Festival realizado em outubro no Palácio de Cristal pela Empresa Promove Arte & Eventos que atua nas aéreas de planejamento, elaboração, organização e realização de eventos culturais e artísticos. 

Com o mesmo objetivo, o Festival MPB Petrópolis-RJ será realizado do dia 02 a 05 de fevereiro de 2012 às 20hs, no dia 05/02 domingo às 18hs no no Theatro D Pedro.


Para o ano de 2012, a Empresa promete trazer uma série de eventos que irão fomentar a cultura na região serrana e especialmente em Petrópolis.


Sejam Bem Vindos!


.:PROGRAMAÇÃO:.


DIA 02/02 - Ney Conceição convida Danilo Caymmi - Homenagem a Dorival Caymmi 

Cantor, compositor e arranjador, Danilo Caymmi é um dos mais importantes nomes da MPB. Filho do excepcional Dorival Caymmi, interpretará grandes canções em uma especial apresentação em homenagem também ao pai. Danilo será convidado especial de Ney Conceição, um dos mais conceituados e renomados contrabaixistas do Brasil e do mundo. Já acompanhou artistas consagrados como João Bosco, Jane Duboc, Roberto Menescal entre outros. Além da presença dos grandes músicos Zé Canuto (sax, flauta), Hamleto Stamato (teclado) e Lúcio Vieira (bateria).


DIA 03/02 - Mako (Japão) 

A japonesa Mako é apaixonada pelos gêneros brasileiros e tem em seu repertório alguns dos melhores compositores brasileiros, como Cartola, Noel Rosa, Chico Buarque, entre outros. Dividiu palco com Roberto Menescal e Wanda Sá e com o PianOrquestra participou do “Tim Festival”, Festival Internacional de Jazz Vancouver e Calgary Jazz Festival no Canadá, entre tantos Festivais pelo mundo. Nesta apresentação fica marcada a importância da música brasileira para o mundo.

Dia 04/02 - Nuno Neto

Cantor de alma popular, timbre singular e de voz potente, Nuno Neto transita naturalmente entre os mais diversos gêneros da música brasileira. Em Hamburgo se apresentou durante 11 anos. Seu último e novo CD "Na hora certa”, contou com as participações especiais de Martnália e Roberto Frejat. 


DIA 04/02 - Leila Maria 

Dona de uma voz marcante, Leila Maria alia a sua capacidade de improvisação adquirida com Jazz ao senso rítmico e nato de que tem sua raiz brasileira. Dita por Ed Motta: “é uma das maiores cantoras vivas do mundo” no qual a convidou para participar de seu disco, e citada por Nelson Motta como uma promessa da MPB atual. A canção “Get Out Of Town” interpretada pela cantora foi recordista de execução em rádios especializadas. Divide palco com cantores como Luis Melodia e trabalhou como cantora ao lado de Paulo Moura.


DIA 05/02 - Thais Motta & Marcel Powell - Homenagem a Baden Powell 
A união de dois artistas, à serviço da obra do mestre "Baden Powell" é trazer aos admiradores a vivenciarem uma releitura de clássicos da nossa música. Canções como Berimbau entre outras serão exploradas ritmicamente na parte vocal e instrumental.
Thais Motta é destaque tanto em Festivais de Jazz e Bossa Nova, foi convidada e participou de um grande show em homenagem de aniversário de Tom Jobim ao lado de Marco Valle e o grupo Bossa Cuca Nova. Conhecida como “Miss Ritmo”, Thais é uma cantora cheia de ginga que se apresentou na França em homenagem aos 50 anos da Bossa Nova.
Marcel Powell, o filho do grande Baden Powell tem sotaque próprio, mas é impossível negar que emana de seus dedos a mesma força avassaladora com que seu pai timbrou no violão, uma personalidade ímpar que conquistou os ouvidos e espíritos mais sensíveis mundo afora. 
Dia 05/02 - Trio DuBrá
O Trio DuBrá tem um estilo inspirado em nomes que representam muito bem a música brasileira. Com criatividade, eles trazem arranjos que podem ser identificados com a genialidade de Cartola e outros grandes mestres, sempre misturando o antigo com o novo, ou, o tradicional com o moderno. Jovens artistas representando o valor cultural local da cidade!


Vídeos:

Ney Conceição: http://www.youtube.com/watch?v=aTPyvdL9HYY

Danilo Caymmi: http://www.youtube.com/watch?v=KJLjRAHWzzQ

Mako (Japão): http://www.youtube.com/watch?v=C54EjJqZ87A&feature=related

Nuno Neto: http://soundcloud.com/nuno-neto/novela-sem-atriz-1

Leila Maria: http://www.youtube.com/watch?v=OJ567h9RKms&feature=youtube_gdata_player

Thais Motta: http://www.youtube.com/watch?v=Yr8VlbTFGz0

Marcel Powell: http://www.youtube.com/watch?v=2uqkHsRYzmU


Mais informações: 
Curta a página do evento no Facebook: Festival MPB Petrópolis (http://www.facebook.com/pages/Festival-MPB-Petr%C3%B3polis-RJ/292776860765868)
Horário/ Quinta, Sexta e Sábado às 20hs.
Domingo às 18hs.

Ingressos
 
♪ R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia entrada)
 
*Classificação 12 anos
 
Pontos de Venda
 
Bilheteria Theatro D. Pedro

28.1.12

Duodeno: bossa-jazz sob prescrição de médicos que tocam, neste sábado, no Cariocando



Da iniciativa de dois gastroenterologistas do Hospital da Lagoa, Luiz Artur Juruena e Fernando Guigon, saxofonista e violonista, respectivamente, surgiu, em 1993, o apreciável Duodeno (foto acima), mais tarde transformado em quarteto pela presença de outros médicos: o epidemiologista Evandro Coutinho (contrabaixo), da FioCruz, e o clínico intensivista Ricardo Amorim (bateria), do Hospital Clementino Fraga, no Fundão. Sem nenhuma contraindicação musical, tais doutores, que já mostraram a sua arte no programa de Jô Soares, na TV Globo, animam, em única apresentação, neste sábado, 28 de janeiro, a partir das 20h30, a noite do Cariocando (Rua Silveira Martins, 139 - Catete - tel.: 2557-3646). Nos "links" seguintes, com eles, "Carica da Antiga", de Luiz Alves e Humberto Araújo, e "A Rita", de Chico Buarque.
         Um bom dia a todos. Grato pela atenção à dica.

         Um abraço,

         Gerdal   
        


       http://www.youtube.com/watch?v=INLeWbjP7q8&feature=related
("Carica da Antiga")

       http://www.youtube.com/watch?v=uhtHOBDC0nE&feature=related ("A Rita")

Amarildo Silva: a canção interiorana de sabor mineiro em destaque, neste sábado, no Parque das Ruínas - o Sertão no litoral



Integrante do conjunto Cambada Mineira, mas desenvolvendo, em paralelo, trajetória individual, o amigo cantor e compositor Amarildo Silva, um mineiro de Raul Soares há muito radicado no Rio de Janeiro (capital), é uma ótima atração deste sábado, 28 de janeiro, às 16h, no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, em Santa Teresa ("flyer" acima). Nesta oportunidade, ele relança o CD "Virgem Sertão Roseano", sobre o qual assim se pronuncia o parceiro Márcio Borges, irmão de Lô Borges e autor do livro "Os Sonhos Não Envelhecem - Histórias do Clube da Esquina": "Virgem Sertão Roseano é um dos títulos mais geniais que ouvi ultimamente. O disco segue a trilha. Amarildo Silva me lembra um poço de águas claras, onde os meninos mais espertos iam mergulhar. O resto da turma ficava a boiar em águas rasas, sem saber o que estava perdendo, só por não pesquisar um pouquinho mais adiante. Este aqui é dos bons. É virgem e é sertão. Proseado e roseano até a raiz da mandioca brava. E poço que tem árvore ao redor. Bom de mergulhar e de garimpar. Pode subir que o galho aguenta. Pode cair que a água é boa."
     Um bom sábado a todos. Grato pela atenção à dica.
 
     Um abraço,
 
     Gerdal  


         http://www.youtube.com/watch?v=S_3ROjYbb6s&feature=related ("Arvoredo")
              
         http://www.youtube.com/watch?v=xoK9wGluq7g&feature=related ("Urubuquaquá")
        
         http://www.youtube.com/watch?v=XwGqp8_JoHo&feature=related ("Cruz do Sertão")

         http://www.youtube.com/watch?v=rxLyXIlaLO4 ("Laranjeira")

         http://www.youtube.com/watch?v=9W5w1ag50K0&feature=related ("Saudade de Minas")  

Trancinha de Histórias - Hoje a partir das 17 horas no Centro Cultural Justiça Federal


(Recebi este simpático convite por e-mail)
É com imenso prazer que apresentamos a primeira edição da Trancinha de Histórias, um desdobramento para o público infanto-juvenil do bem-sucedido Projeto Tranças, da Plumagenz Criação Cultural & Design. Em sessões de contação de histórias que têm em comum temas que fazem parte do universo da garotada, mediadas pelas atrizes Maria Clara Hertz, Suzana Nascimento e Luciana Zule, as crianças são convidadas a interagir com os textos por meio de música, dança, adivinhas e muita brincadeira.
Nesse final de semana de estreia será realizada a Trancinha dos Bichos, com leitura de trechos de Artur e a tartaruga, de André Moura, Luciana Claro e Romulo Matteoni (editora Gryphus), Coração de bicho, de Angélica Lopes (Escrita Fina) e "Os bichos que tive", de Sylvia Orthof.
Um evento sob medida para a última semana de férias da criançada!
***
Trancinha de Histórias - Trancinha dos Bichos
28 e 29 de janeiro (sábado e domingo), às 17:00
Centro Cultural Justiça Federal - Av. Rio Branco, 241, Rio de Janeiro

27.1.12

Zé Renato faz show, nesta sexta, no Sesc Belenzinho, onde lança o seu primeiro CD inteiramente autoral



De um natural do Espírito Santo para um natural aqui do Rio de Janeiro, surgiu em 1996 uma bela homenagem em CD de Zé para Zé, ou seja, de Zé Renato para Zé Kéti. Aliás, desse rebento de Vitória, mas criado na capital fluminense, um outro CD-tributo - ao Caboclinho Querido, que foi amigo do seu pai - tinha sido feito e recebido com destaque, dois anos antes, pela imprensa especializada. Zé Renato, eleito em 2008 o melhor cantor do Brasil pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte -, sobressai ainda na MPB como violonista e compositor, criador, por exemplo, de uma joia intitulada "Delicada", em parceria com Teresa Cristina, a que essa diva de uma musicalmente reerguida Lapa conferiu marcante interpretação ("Espera, que o tempo trata da solidão/melancolia sem ilusão não é nada/aguarda, tira essa mágoa do coração/ensina o verso a virar canção delicada..."). Em paralelo com a carreira solo - e até mesmo antes dela -, ele revela contínuo apreço pela participação em conjuntos, como o inicial Cantares e a Banda Zil. Por meio do Boca Livre - com David Tygel, Cláudio Nucci e Maurício Maestro, na primeira formação, e, agora, com Lourenço Baeta em lugar de Cláudio Nucci - veio, em fins dos anos 70, a merecida projeção para o chamado grande público. Este 27 de janeiro, a partir das 21h, no Sesc Belenzinho ("flyer" acima), marca, após apresentação no Rio, o lançamento de "Breves Minutos" em Sampa, o primeiro disco inteiramente autoral de Zé Renato. Um feito que o deixa, mais uma vez, de boca livre para entoar boa música, desta vez apenas a sua boa música. 
          Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
 
          Um abraço,
 
          Gerdal   

Pós-escrito: nos "links" seguintes, composições de Zé Renato: 1) "Ponto de Encontro", da parceria com Milton Nascimento (em cena, além de Zé Renato, o pianista Marcos Nimrichter, o baixista Rômulo Gomes e o baterista Márcio Bahia) ; 2) a supralembrada "Delicada", cantada por Teresa Cristina, com acompanhamento do grupo Semente; 3) do novo disco, ouve-se "Tá Legal", um "samba torto" feito com Joyce; 4) "Quem Tem a Viola", de Zé Renato, Xico Chaves e Cláudio Nucci, mostrada com o Boca Livre no campo em imagens de 1980.
 
         http://www.youtube.com/watch?v=wIZb6Dbe45U
("Ponto de Encontro")

         http://www.youtube.com/watch?v=5D-pNNIAaiU ("Delicada")

         http://www.youtube.com/watch?v=MNi1S2KOI_g ("Tá Legal")

         http://www.youtube.com/watch?v=3Brq5uGL5AA ("Quem Tem a Viola")

25.1.12

Nei Lopes dirige sua palavra à posteridade, nesta quarta, em depoimento sobre vida e carreira no Museu da Imagem e do Som




Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil (hoje UFRJ), Nei Braz Lopes (foto acima) encontrou em si mesmo, sem narcisismo, no compositor, escritor e pesquisador Nei Lopes, a melhor causa que poderia abraçar. Uma causa nobre de cuja evolução bem encaminhada, com suas músicas de sucesso e seus textos de referência, beneficia-se a cultura nacional, de modo expressivo, sobretudo no combate à discriminação racial, entre outras iniquidades, trazendo luz forte de farol à questão da afroascendência e, a partir dela, contribuindo para a expansão de um entendimento renovado deste enigma continental sobejo em graças e contradições chamado Brasil. Caçula entre irmãos numerosos, Nei, ainda menino, colecionava recortes de personalidades negras, como Pixinguinha e Louis Armstrong, principiando, assim, uma consciência que o levou do Irajá, já ido em sua vida desde o berço, à estiva intelectual de agora, em Seropédica, no interior fluminense, com muita "malhação" mental e tantos livros publicados numa produção fantástica em extensão e merecimento. Homem de palavra e da palavra, dela ainda faz uso ao exercitar a sua inteligência e aquilino olhar crítico num blogue - Meu Lote - que vale a pena ser acessado, porque, mesmo que se discorde de uma ou outra opinião que emite - até por esta poder ser ou parecer radical -, é sempre fonte de reflexão procedente, muito bem embasada, de informação confiável, de valiosa ensinança e, ainda, em linhas divertidas, por exemplo, daquele trocadilho tão bem sacado quanto um chope bem tirado. 
      Da inspiração que visita o compositor, Nei Lopes tem feito outro percurso admirável e mais conhecido, desde o seu primeiro registro em disco, em 1972, como tal - então, ainda não "o tal" ou "o cara", como a ele já se referiu o cantor e colunista Aquiles Rique Reis, do MPB4 -, por meio de gravação de Alcione do samba "Figa de Guiné", feito em parceria com outro carioca, nascido em São Cristóvão, Reginaldo Bessa - numa fase de muitos "jingles" bolados por eles, que, dois anos depois, ganhariam um festival na UniRio com "sexto Andar". Entre outros grandes parceiros que viriam, Wilson Moreira, de Realengo, avulta, também pela constância na criação conjunta, como o mais lembrado. Por essas e outras, Nei Theodoro Lopes, o Neizinho, jovem componente do conjunto DNA do Samba, filho de Nei e da professora Helena Theodoro, tem muito do que se orgulhar do pai que tem (também da mãe, que, há muito, integra, no desfile principal das escolas de samba na Sapucaí, o júri do Estandarte de Ouro). É sempre notável o poliédrico Nei no que faz ou no quanto de afirmação, negro mesmo, que encarna. Chutando o balde ou sincopando o breque, de letra e música.         
      Um bom domingo a todos. Muito grato pela atenção.

      Um abraço,

      Gerdal

Pós-escrito: 1) nesta quarta-feira, 25 de janeiro, a partir das 13h30, com entrada franca, no auditório do MIS (Museu da Imagem e do Som), situado na Praça XV, Nei Lopes presta o seu depoimento à posteridade. A mesa terá coordenação da professora Rachel Valença, historiadora e vice-presidente da instituição, e a presença dos entrevistadores Joel Rufino dos Santos, também historiador, Cláudio Jorge, músico e compositor (parceiro do entrevistado em "Tia Eulália na Xiba", entre outras), Alberto Mussa, escritor, e Fernando Molica, jornalista (convite acima);
                   2) nos "links" seguintes, 1) Nei Lopes aparece, com o violonista e arranjador Ruy Quaresma e a cantora e cavaquinhista Nilze Carvalho, entre os músicos em cena, em imagens de divulgação de um DVD sobre a sua carreira; 2) canta um dos mais belos sambas feitos com Wilson Moreira, "Morrendo de Saudade", que foi muito bem gravado por Beth Carvalho; 3) canta "Sambista Perfeito", resultante da parceria com Arlindo Cruz; 4) de Nei Lopes e João Nogueira, "Baile no Elite", outra maravilha de samba, lembrado pelo conjunto do Samba do Baú, que rola em Sampa.


     http://www.youtube.com/watch?v=wjGpV1q3npM
(vídeo-release de DVD sobre Nei)

     http://www.youtube.com/watch?v=AQ87y8n_238&feature=related ("Morrendo de Saudade")

     http://www.youtube.com/watch?v=iIm2dU90OFQ&feature=related
("Sambista Perfeito")

     http://www.youtube.com/watch?v=OuxITGUV_Vs&feature=related
("Baile no Elite")

Ruy Castro autografa, nesta quarta, em noite musical no Leblon, a nova edição do "Rio Bossa Nova"




Lançado em 2006, "Rio Bossa Nova" é agora reapresentado aos leitores em nova edição revista e atualizada da Casa da Palavra ("flyer" acima). Um guia "in" de endereços e estabelecimentos que, cada qual a seu modo, atendem àqueles fissurados na "batida diferente". Mais uma declaração de amor ao Rio materializada, entre os seus livros já publicados, por Ruy Castro (foto acima), um "carioca" de Caratinga - como vários outros, aliás, que provêm de Minas ou de outros Estados. Ele até confere à Velhacap a curiosa distinção de "as duas cidades mais belas do mundo", colocando em segundo lugar "o Rio com chuva" - sentido, portanto, apreciável de uma "cidade partida". Do Rio, aliás, já partiu, por força do ofício jornalístico, para residir em Lisboa e em São Paulo, mas o Rio, na verdade, nunca partiu dele - estando sempre consigo, mesmo extramuros. E nele, ainda, apesar da curiosa observação acima, sem se partir, de fato, pois, em "Rio Bossa Nova", pelo contrário, alia ao prazer da fixação local - com esta maravilha de cenário - o prazer da fruição musical, para a qual o nosso balneário faz, com louvor, a sua parte, também com a bossa nova.
        Vêm, naturalmente, "no clima" da ocasião, sem desafinar, os "links" seguintes, a que João Gilberto não faz "forfait". É ouvido em 1) "Amor Certinho", de Roberto Guimarães; 2) "Se É Tarde, Me Perdoa", de Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli; 3 ) "Discussão", de Antonio Carlos Jobim (que faria 85 anos neste 25 de janeiro) e Newton Mendonça.
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

        Um abraço,

        Gerdal
 

           http://www.youtube.com/watch?v=6DV-xIhS9ow
("Amor Certinho")

           http://www.youtube.com/watch?v=ZiV7GWy154M&feature=related
("Se É Tarde, Me Perdoa")

           http://www.youtube.com/watch?v=H8TTIgWWo8E&feature=related ("Discussão")

24.1.12

Exposição : Com Tantos Fios



É com imensa alegria que a Plumagenz abre os trabalhos de 2012 e, dessa vez, em dose dupla, com a exposição de artes plásticas Com tantos fios e o ciclo de contação de histórias Trancinha, ambos voltados para o público infanto-juvenil.
Será um prazer brindar com você na abertura dessa, que será a primeira exposição da Plumagenz, na próxima quinta-feira, 26 de janeiro, às 16:00h, no Centro Cultural Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241, Rio de Janeiro).
E não esqueça de levar os filhos, os sobrinhos, os amigos e os filhos dos amigos!
(Clique no flyer para ampliar e LER melhor)

21.1.12

Osvaldo Maneschy lança novo livro com DVD sobre Brizola



O jornalista Osvaldo Maneschy lança nesta segunda-feira, 23 de de janeiro de 2012, a partir das 18 horas, o livro “Leonel Brizola – A Legalidade e Pensamentos Conclusivos”, na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), nono andar, no Rio de Janeiro, como parte das comemorações pelo do nonagésimo aniversário do líder trabalhista, falecido em junho de 2004.

Sinopse do livro
A Legalidade e outros pensamentos conclusivos de Leonel Brizola
No livro A Legalidade e outros pensamentos conclusivos de Leonel Brizola o herdeiro do Trabalhismo dá – na primeira pessoa – a sua opinião sobre diversos temas políticos atuais - através de transcrições de suas falas recolhidas ao longo dos anos pelos organizadores – Osvaldo Maneschy, Apio Gomes, Paulo Becker e Madalena Sapucaia - que somam mais de 300 horas de gravação de palestras, discursos e entrevistas, entre 1991 e 2004.
A primeira parte da obra, publicada pela Editora Nitpress, é totalmente dedicada ao movimento da Legalidade de 1961 liderado por Leonel Brizola a partir do Rio Grande do Sul, que uniu o Brasil e derrotou os golpistas que tentaram impedir a posse de João Goulart - episódio do qual Brizola tirou uma grande lição: os golpes só prevalecem na desinformação.
A Cadeia da Legalidade, a partir da encampação pelo governo gaúcho da Rádio Guaíba, reuniu espontaneamente mais de 100 emissoras de rádio, encurralando os militares golpistas na opinião pública nacional, majoritariamente contra o golpe. Mas do episódio Brizola cultivou grande frustração a ponto de dizer, em 2001, na fase conclusiva de sua vida: “Na Legalidade, perdemos uma chance que a História nos deu de bandeja”.
Brizola queria enfrentar os militares golpistas e fechar o Congresso Nacional convocando, logo em seguida, uma Constituinte.  Mas Jango conciliou e veio o golpe de 1964. Um CD acompanha o livro onde uma parte dos fatos relacionados à Legalidade é narrada pelo próprio Brizola.
Já a segunda parte é uma reedição do livro originalmente publicado em 1994 com o título Com a palavra, Leonel Brizola, onde o ex-governador, também na primeira pessoa, fala sobre processo social, Trabalhismo, economia, getulismo, problemas brasileiros, política, mídia, golpe de 64, violência e pobreza, entre outros temas.
O prefácio é assinado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. O livro estará disponível ao público a partir do dia 23 de janeiro nas melhores livrarias ou pela Internet, através da loja online da Editora Nitpress, no endereço www.nitpress.com.br.
A obra é parte de um projeto maior voltado à preservação das palavras e idéias de Brizola que desdobrará em novo livro, em futuro próximo, mais extenso e detalhado - cujo título ainda provisório é Leonel Brizola, outras reflexões.
Mais informações no link http://radiolegalidade.com.br/?p=2077

20.1.12

Walter Levita: um discreto campeão do carnaval, o cantor de "Índio Quer Apito"




O carnaval já se avizinha, e um de seus campeões nasceu, em 1920, na mesma Ilhéus do escritor Adonias Filho: o cantor e compositor Walter Levita (fotos acima). Lá mesmo, ainda diletante na canção popular e já conhecido como seresteiro, foi chamado, certa vez, para abrir um show de Sílvio Caldas, o que resultou em atuação desastrada: esquecendo-se da segunda parte da valsa "Balalaica", do repertório de Orlando Silva, "encheu linguiça", por cinco vezes, na primeira parte, sendo retirado de cena. No entanto, perseverante e, de fato, bem dotado de expressão vocal, faria, um pouco mais adiante, em 1948, a sua estreia profissional como cantor, em Recife, na Rádio Clube, e, ainda pouco depois, dirigindo-se a Salvador, trabalhou em rádio e na noite local de 1949 a 1955. De outra feita, numa boate soteropolitana, ao perceber a presença na pista do baixinho todo-poderoso Assis Chateaubriand dançando com uma loira francesa alta e formosa, mandou ao microfone o "vou chamar o Dr. Assis/meu patrão sabe o que diz.." (de "Vamos Xaxear", de Gonzagão e Geraldo Nascimento e que Gonzagão gravara) para mexer com o empresário, o qual, apreciando bastante o cantor, convidou-o para trabalhar na Tupi, emissora dos seus Diários Associados, e na Mayrink Veiga, com a qual a primeira tinha um convênio nesses antanhos da radiofonia carioca. Como o pagamento era minguado, Walter Levita, recém-chegado e ainda um "quem" sem a fama que a folia lhe traria alguns anos depois, passou a frequentar o ponto dos músicos, em frente ao Teatro Carlos Gomes. Nesse reduto do Centro da Velhacap, ao encontrar o amigo René Bittencourt, carioca de Paquetá, manifestou-lhe sua disposição para trabalho extra, participando, dias depois, de uma função musical que o compositor de "Sertaneja" e colunista da Feira de Amostras, na "Revista do Rádio", apresentava em circo armado nas imediações do Morro da Mangueira. Entretando, "mal posicionado" na sequência de atrações, foi saudado, ao mostrar no palco a cara para a plateia, com apupos estrepitosos, porque, pouco antes, para seu azar, uma rumbeira de encher os olhos elevara a temperatura do show, cativando, nos seus requebros e maneiras, os varões presentes. Mesmo assim, com habilidade, René conseguiu serenar os ânimos, contornar a situação e atrair aplausos para o baiano, dizendo ser uma revelação do canto popular que carecia de chances para mostrar a sua arte, prometendo a todos um "final feliz", com o retorno posterior da dançarina-sensação..
         Apesar da vendagem regular e significativa dos seus discos na Odeon, em fins dos anos 50, como cantor romântico, ele, como se dizia então, ainda não abrira uma flor na gravadora, ou seja, não fizera um grande sucesso pra chamar de seu. Sentindo que este já estava a caminho, por meio de marchas assinadas pelo craque Haroldo Lobo, que conhecera na Sbacem, conseguiu vencer, sem êxito, contudo, de divulgação e execução, a relutância do diretor artístico da Odeon, Aloysio de Oliveira, que, vendo muito siso e nenhum riso na figura de Levita, considerava-o inadequado como intérprete para a folia. Como as aparências enganam, o erro de avaliação do ex-integrante do Bando da Lua viria, com Levita na Continental, amplificado pelo grito retumbante do povo, embalado, no passo momesco, pela euforia trazida por "A Maria Tá" (Haroldo Lobo e Mílton de Oliveira), em 1960, e, no carnaval seguinte, "Índio Quer Apito" (Haroldo Lobo e Mílton de OIliveira). Da escadaria da Biblioteca Nacional, emocionado, o cantor pôde ver, por dois anos consecutivos, a multidão, na Cinelândia, mesmo na chuva, cantando, a plenos pulmões, essas marchas. A letra na epígrafe diz respeito a outra de Haroldo Lobo (novamente com o habitual parceiro e caititu Milton), "Metade Homem, Metade Mulher", de 1963, gravada pelo discreto Walter Levita, infelizmente falecido, em setembro de 2010, aos 90 anos, em casa, em consequência de uma queda. Morava em Brasília, onde foi enterrado, no Cemitério Campo da Esperança, após passar longos anos de conforto, já distante havia muito do meio artístico, domiciliado numa casa grande em Itapoã.
         Um bom feriado a todos. Muito grato pela atenção.

         Um abraço,

         Gerdal

Pós-escrito: nos "links" seguintes, 1) Walter Levita canta a marcha "Adão Ficou Tantã", de Antônio Almeida, feita para o carnaval de 1969; 2) canta o belo samba "Até Você Chorou", de 1957, composto por Haroldo Lobo e Raul Sampaio, em "slide-show" com várias imagens deste último, cantor e compositor capixaba, ex-Trio de Ouro e primo do finado Sérgio Sampaio; 3) "Índio Quer Apito", com o balanço alatinado da Orquestra Mocambo; 4) como curiosidade, pela citação feita acima, "Balalaica", de Georges Moran e Armando Fernandes, em gravação de Orlando Silva datada de 1938.
 

         http://www.youtube.com/watch?v=u8Rmf39GeVc
("Adão Ficou Tantã")

         http://www.youtube.com/watch?v=2FgbBhwZauU ("Até Você Chorou")

         http://www.youtube.com/watch?v=VKUinyUR_bQ ("Índio Quer Apito")

         http://www.youtube.com/watch?v=gzQ6UjMbkYE
("Balalaica")

16.1.12

Alfredo Del-Penho, Pedro Miranda, João Cavalcanti e Moyseis Marques levam a Lapa a Ipanema em roda de samba nesta segunda



Do caro amigo e vizinho de bairro Alfredo Del-Penho
, morador há pouco de Laranjeiras, recebi e repasso, com muito prazer, o comunicado, abaixo, do show "Segunda Lapa" ("flyer" acima), no Studio RJ, em Ipanema, neste 16 de janeiro. Outros caros amigos - Pedro Miranda, João Cavalcanti (filho de Lenine) e Moyseis Marques - juntam-se ao Alfredo para um "samba de branco" da melhor qualidade e uma "ação entre amigos" sem nenhuma contraindicação ou dano social. Pelo contrário: são todos rapazes talentosos, que só fazem bem ao samba da nossa terra e, com merecimento, porque são muito bons de fato, ampliam, cada vez mais, seus espaços de atuação na música popular. O próprio Alfredo, por exemplo, é figura destacada em "Sassaricando", um gostoso "revival" de marchinhas carnavalescas de volta ao cartaz no Teatro do Leblon, e, como arranjador e diretor musical, disse a que veio em belo e recente CD feito em intenção de Francisco Alves, com produção do jornalista e pesquisador Rodrigo Faour. Uma "bolacha" que evidencia outra voz jovem e marcante, a do carioca Márcio Gomes.  
         Nos "links" seguintes, um para cada um, vemos, primeiramente, Pedro Miranda cantando o sacudido "Meio Tom", de Rubinho Jacobina, faixa do CD "Pimenteira"; logo após, Alfredo Del-Penho, no programa "Samba na Gamboa", da TV Brasil, vai de "Samba com Dengo", de Angela Suarez e Paulo Cesar Pinheiro; em seguida, Moyses Marques dá o seu recado em "Nomes de Favela", uma inspiração pré-UPP de Paulo Cesar Pinheiro (letra e música); por fim, João Cavalcanti, na extinta Modern Sound, acompanhado pelo Alfredo e pelo Pedrinho, lambe uma de suas crias musicais, o samba "Inconstante".   
        Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

       Um abraço,

       Gerdal 


           http://www.youtube.com/watch?v=DcPqNB2A1cw ("Meio Tom")

           http://www.youtube.com/watch?v=M5nQPOLHK8Q ("Samba com Dengo")

           http://www.youtube.com/watch?v=VVTOQfgCGiA
("Nomes de Favela")

           http://www.youtube.com/watch?v=7r-cJSuGBXg ("Inconstante")

***

Uma segunda Lapa, agora, no Arpoador. Ou o Arpoador com ares de Lapa, às segundas. Quatro das principais figuras da cena atual da música carioca apresentam “Segunda Lapa”, no palco do Studio RJ, em duas datas de janeiro: 9 e 16.

“Somos assíduos frequentadores de Ipanema como pessoas físicas, mas não musicalmente”, brinca Pedro Miranda. É a primeira vez que os quatro amigos se reúnem coletivamente num projeto – o embrião começou em 2009, em shows na Modern Sound, com Alfredo, João e Pedro, mas ainda sem Moyseis.

Além da mudança de habitat, “Segunda Lapa” é a oportunidade de os quatro, fãs dos trabalhos uns dos outros, arejaram repertório e seus shows habituais. Um parque de diversões entre amigos, que, além de cantarem, se acompanham: Alfredo Del-Penho no violão de sete cordas, Moyseis Marques no violão, João Cavalcanti e Pedro Miranda nas percussões, acompanhados ainda de André Vercelino e Marcos Basilio (percussão) e João Callado (cavaquinho).

O repertório passeia por composições de cada um, que inclui inéditas, como “O Badábabá do Talarico”, de Moyseis, de seu novo CD, que sai em janeiro, pela Biscoito Fino. De João, estarão lá “Mulato”, de seu disco solo a ser lançado este ano, e “Inconstante”, gravada pelo seu grupo Casuarina. Já Pedro Miranda escolheu “Pimenteira”, faixa título de seu último álbum, e “O samba é meu dom”, entre outras. De Alfredo veio "Caso Encerrado". Há ainda um samba inédito de Joyce Moreno, feito, segundo ela, em homenagem à geração que os quatro representam. Parcerias têm seus lugares garantidos, já que o quarteto frequentemente se visita. É o caso de “Fulô de Caju”, de João com Alfredo, que compõe o recém-lançado quarto CD do Casuarina, “Nem misturado, nem junto”, parceria de Moyseis com João, ainda inédita, e "Pra Desengomar", de Alfredo e Moyseis, que dá título ao seu disco novo

MARIANA BALTAR NO TRAPICHE GAMBOA



Mariana Baltar  participa de uma nova roda de samba e choro, animando a noite com muita dança e ritmos como MPB, marchinhas, choro, sambas, baiões e forró. A cantora é acompanhada pelos músicos Jayme Vignoli (cavaquinho), Josimar Carneiro (violão 7 cordas), Marcílio Lopes (bandolim) e André Boxexa (bateria e percussão).
 
Data: 18 de janeiro e todas as quartas-feiras, a partir de 8 de fevereiro
Horário: 20 hs
Couvert: R$ 14,00 (véspera de feriado, R$ 18,00)
Local: Trapiche Gamboa
Endereço: Rua Sacadura Cabral, 155
Tel: 21 – 2516-0868
Censura: livre
Lotação: 250 lugares
Percurso da Zona Sul: Avenida Rodrigues Alves até o retorno para a outra pista, entrar na Avenida Venezuela e seguir até a rua Sacadura Cabral, virando à esquerda para chegar ao Trapiche Gamboa; da Zona Norte: entrar direto na pista da Avenida Rodrigues Alves e seguir o percurso acima.
 

14.1.12

Som Imaginário revive um tempo de experimentação estética em shows, hoje e amanhã, no Sesc Belenzinho



Experimentação era a "palavra de desordem", em anos de chumbo no país, na lida criativa e progressiva do Som Imaginário, surgido para acompanhar um artista que, então, principiava a sua travessia para o merecido sucesso, Milton Nascimento. Como observa a pianista Beatriz Cyrino em sua dissertação sobre as "fusões de gêneros e estilos de produção musical" do grupo, apresentada no Instituto de Artes da Unicamp, seus talentosos integrantes, nos dois primeiros elepês - de 1970 e 1971 -, identificados com a corrente contracultural que floresceu nos EUA nos anos 60, valiam-se, basicamente, da linguagem do pop/rock para "inovar" e "protestar". A ela, na alquimia sonora das gravações em estúdio, também davam, entre outros ingredientes das bem construídas composições, um sabor nosso de samba e ijexá, até alcançar, na mistura do terceiro e último disco, "Matança do Porco", de 1973, com arranjos mais bem elaborados, um resultado musicalmente mais coeso e consistente e de agrado mais amplo do público. Nele, pontificou o trabalho de arranjo e orquestração do três-pontano Wagner Tiso, já anteriormente exercitado, no Rio, na bossa nova, quando, em 1965, tocava na boate Drink (então não mais de propriedade de outro pianista, Djalma Ferreira, mas do cantor Cauby Peixoto). Lá, naquele ano, conheceu o baterista Robertinho Silva, com quem comporia, em companhia do guitarrista e artista plástico Fredera, do violonista Tavito, do baixista Luiz Alves e do cantor e organista Zé Rodrix, o "line-up" original do Som Imaginário, que, depois, acolheria instrumentistas do porte de Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Novelli, Jamil Joanes, Paulo Braga, Naná Vasconcelos e Laudir de Oliveira, por exemplo,além de acompanhar nomes de alto relevo da MPB, como Gal Costa, Sueli Costa e Marcos Valle.
       Após 37 anos de afastamento do palco, o Som Imaginário continua, neste sábado, 14 de janeiro, às 21h, a minissérie de apresentações no Sec Belenzinho, em Sampa, ontem iniciada e amanhã encerrada, às 18h ("flyer" acima). Nos "links" seguintes: 1) a execução de "Feira Moderna", pelo Som Imaginário, em imagens de arquivo da TV Cultura de São Paulo; 2) a mesma música, de Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant, em gravação do conjunto no disco; 3) o belo "Tema dos Deuses", de Milton Nascimento, utilizado em 1970 por Ruy Guerra em filme que dirigiu, "Os Deuses e os Mortos"; 4) "Armina", de Wagner Tiso; 5) "Mar Azul", de Luiz Alves e Wagner Tiso; 6) "Nepal", de Fredera.   
      Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.

      Um abraço,

      Gerdal   
                                 
       


        http://www.youtube.com/watch?v=2tL3PwxCsqI
("Feira Moderna")
       
        http://www.youtube.com/watch?v=vhvokwIeLjI
("Feira Moderna")

        http://www.youtube.com/watch?v=0quebgP1pNM&feature=related
("Tema dos Deuses")

        http://www.youtube.com/watch?v=r6POoRR-Pak&feature=related
("Armina") 

        http://www.youtube.com/watch?v=PB4cyVj6Ei4&feature=fvwrel
("Mar Azul")

        http://www.youtube.com/watch?v=IZ_JN3asINg&feature=fvwrel
("Nepal")

12.1.12

Poe no Castelinho do Flamengo


(Clique na imagem para ampliar e VER melhor)
(Pelo jeito não vou conseguir tirar férias nunca! Aqui vai uma dica que não poderia deixar de botar no ar - vai direto - sem edição)
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
Secretaria Municipal de Cultura
Companhia Nova de Teatro- 10 anos
Apresentam
A Cripta de Poe


A Cripta de Poe é um espetáculo “multimídia”, inspirado livremente no universo do poeta e escritor Edgar Allan Poe. Com uma estrutura fragmentada, a peça faz um mergulho no desconhecido da alma humana, apresentando histórias sobre personagens neuróticas e o duplo de cada homem.

A Cripta de Poe estreou em dezembro de 2011 na capital paulista, cumprindo curta temporada no Centro Cultural S.Paulo, onde obteve excelente retorno de público e da mídia e, para a temporada no Rio de Janeiro, a Companhia Nova de Teatro criou uma versão especial, em formato site specific, desenhada exclusivamente para o Castelinho do Flamengo. Toda a arquitetura do Castelinho - Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho será explorada de forma a construir o universo fantástico e fantasmagórico dos contos de Edgar Alan Poe. A fachada do prédio e o interior do espaço serão base para as projeções e “vídeos mapeados” criados para construção dessa atmosfera.


A Cripta de Poe
Baseado livremente na obra de Edgar Allan Poe
Participação especial da Cia. Teatro Del Contagio (Itália)
Direção, dramaturgia e iluminação: Lenerson Polonini
Elenco: Omero Affede, Carina Casuscelli, Carmen Chimienti, Matheus Prestes e Rosa Freitas.
Participação especial em vídeo: Paulo César Peréio
Direção de Arte, figurinos e maquiagem: Carina Casuscelli
Música: Wilson Sukorski
Videocenário: Acauã Fonseca e Alexandre Ferraz
Realização: Companhia Nova de Teatro- 10 anos

SERVIÇO
Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho – Castelinho do Flamengo
Praia do Flamengo, 158 - Flamengo – Rio de Janeiro - RJ
Tel:              (21) 2205-0655       .
E-mail: castelinho@pcrj.rj.gov.br
Temporada: de 13 de janeiro a 05 de fevereiro de 2012
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 20h
Classificação: 14 anos
Entrada: Gratuita

11.1.12

Lançamento de Disco Voador na Folha Seca


Não é nada disso, he he! É o livro do Lourenço Mutarelli "Quando meu pai se encontrou com um ET fazia um dia quente" .O evento vai rolar na segunda-feira, dia 16 de janeiro. A nave parte às 18.30 hs. Façam fila por favor!
Todos lá!

10.1.12

A reflexão de Daibert sobre as veredas do Grande Sertão




(Meu amigo Jorge Sanglard enviou este artigo para enriquecer nosso modesto blog)
A reflexão de Daibert sobre as veredas do Grande Sertão


O Brasil celebrou, em 2011, os 55 anos do lançamento da obra-prima de João Guimarães Rosa Grande Sertão: Veredas, terceiro livro do escritor mineiro que revolucionou a moderna literatura ficcional brasileira. Lançado em maio de 1956, GSV expressa toda a inventividade e a criatividade de Rosa ao reinventar uma linguagem literária peculiar e é considerado como um dos mais importantes livros do século XX no país. Ao criar um vocabulário entremeado de neologismos e de invenções, o escritor articulou a base para sua narrativa épica, abordando contradições vivenciadas por suas personagens sertanejas envolvidas entre Deus e o diabo, além da imprevisibilidade do amor.
A reflexão sobre Grande Sertão: Veredas que Arlindo Daibert criou, entre 1983 e 1984, interligando uma série de 20 xilogravuras (com apenas 30 cópias assinadas e numeradas) a desenhos e colagens, permanece desafiadora 18 anos após a morte do artista plástico mineiro, em 28 de agosto de 1993. E é o testemunho vivo da ousadia e da inventividade de quem sempre encarnou a criação como um estímulo, além de um compromisso com a produção do saber.
Na opinião do conceituado crítico literário Antonio Candido: “A experiência documentária de Guimarães Rosa, a observação da vida sertaneja, a paixão pela coisa e o nome da coisa, a capacidade de entrar na psicologia do rústico, — tudo se transformou em significado universal graças à invenção, que subtrai o livro da matriz regional, para fazê-lo exprimir os grandes lugares comuns, sem os quais a arte não sobrevive: dor, júbilo, ódio, amor, morte, — para cuja órbita nos arrasta a cada instante, mostrando que o pitoresco é acessório, e na verdade, o Sertão é o Mundo”.
Arlindo Daibert revelou uma arte inquietante ao se enveredar no universo mágico de Guimarães Rosa (que completaria 104 anos, em 27 de junho de 2012, se não tivesse se encantado em 19/11/1967). O artista plástico, já no início da elaboração da série de trabalhos, deixava antever que o conjunto de imagens criado seria pouco ortodoxo. Ao ser entrevistado por Walter Sebastião, em fevereiro de 1984, Daibert revelava, pela primeira vez, estar usando como guia de sua interpretação o máximo de declarações de Guimarães Rosa. Afinal, “ele fazia questão de frisar que seu projeto literário era um romance cosmológico, um romance filosófico ambientado no sertão, porque o sertão é um universo fechado”.
Algumas relações intertextuais abrem um espaço muito amplo e muito rico para a reflexão e para o conhecimento. Este é, com certeza, o caso da série de trabalhos gráficos que Arlindo Daibert, doublé de artista plástico e grande leitor (não necessariamente nessa ordem), fez da narrativa de Guimarães Rosa. O professor de literatura brasileira e de literatura comparada da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Gilvan P. Ribeiro, afirma que, à primeira vista, poderia parecer que o artista ilustrou a obra de Rosa. Mas a um olhar mais atento, percebe-se que, na verdade, Arlindo Daibert dialoga com múltiplas veredas do grande sertão. Seu “olho armado” percebe, na escritura de Rosa, uma miríade de possibilidades visuais que evolam do texto. A essas possibilidades se acrescentam outras, decorrentes da pesquisa que Daibert fez do escritor e que brotam, nos trabalhos do artista, como flores simbólicas das reflexões e querências de Rosa. Personagens e situações do livro aparecem, assim, ligadas a cartas de tarô, mandalas, oroboros e outras variadas simbologias. Desta forma, o mistério, que, de alguma forma, sempre ronda o livro de Rosa, se abre em cor, luz e sombra, reitera o professor.
Ao ler os trabalhos de Arlindo, tendo sempre a obra de Rosa como referencial primeiro, um ilumina o outro. A compreensão do universo roseano se amplia a partir da leitura que o artista faz do texto. Personagens se esgarçam ou se projetam com nitidez, situações de tensão ou de ternura se recortam numa moldura que as torna mais visíveis. Felizmente, argumenta Gilvan P. Ribeiro, a obra de Arlindo Daibert pode ser lida por muitos, desde que foram publicadas no livro Imagens do grande sertão (Editoras UFMG – UFJF).
Grande Sertão: Veredas, para o escritor também mineiro Luiz Ruffato, que é considerado um renovador da prosa contemporânea brasileira, sem dúvida alguma, é um dos maiores monumentos da literatura brasileira. Individualmente, talvez seja o maior romance da língua, embora Guimarães Rosa, na opinião de Ruffato, não seja o maior escritor (perde, por pontos, para Machado de Assis...). Trata-se de uma obra que funde, com extrema felicidade, o caráter conflituoso em vários aspectos: a língua popular e erudita, o Bem e o Mal, o masculino e o feminino, o amor e a violência, o local e o universal. Tão radical experiência ainda hoje motiva controvérsias, mas, parece, a cada dia mais se configura uma obviedade: é uma obra-prima barroca, talvez o mais barroco dos nossos romances, ressalta Ruffato. Segundo o escritor e crítico literário Fábio Lucas “Grande Sertão:Veredas introduziu no espírito investigativo dos intérpretes, críticos e analistas a sanha de desvelar o mundo real que o autor teria reproduzido artisticamente na obra. Um dos modos de perseguir essa possibilidade foi o de identificar o espaço geográfico da ação dramática (o exemplo de Alan Viggiano em Itinerário de Riobaldo Tatarana) ou de vasculhar a dimensão linguística da região em que se desenrolam os episódios narrados por Riobaldo (o exemplo da obra de Teresinha Souto Ward (O Discurso Oral em ‘Grande Sertão:Veredas’). Geografia física e Geografia Humana”.
A escritora mineira Rachel Jardim argumenta que, no Brasil, existe o time do Guimarães Rosa e o time do Machado de Assis. Sempre se considera Guimarães Rosa mais moderno, um reformador da linguagem, muito mais Joyce do que Proust. No entanto, o sentimento poético que possuem todos os personagens regionais de Guimarães Rosa é que os torna imortais e universais. Muito mais do que personagens regionais, eles são produto de uma visão poética abrangente e avassaladora.
Para Rachel Jardim, Machado lida com o cotidiano, com seres aparentemente triviais, nada exóticos, nada regionais, ambivalentes e, às vezes, metafóricos. Mas para quem gosta realmente de ler, para quem se deixa possuir pela literatura e a conhece verdadeiramente, há poucas diferenças. Sombra e luz possuem a alma dos personagens de Machado de Assis e de Guimarães Rosa. É nesse terreno que os leitores de Machado de Assis e de Guimarães Rosa mergulham. Isso é o suficiente para fazê-los testemunha e cúmplice da grandeza de ambos.


A vida e a linguagem são uma coisa só
Último trabalho de Arlindo Daibert, nascido em 12 de agosto de 1952, em Juiz de Fora, Minas Gerais, a série GSV foi exposta pela primeira vez, em Belo Horizonte , no final de setembro de 1993, um mês após a morte do artista. E, em abril de 1994, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo abriu suas portas para acolher a reflexão do desenhista mineiro sobre a obra de Guimarães Rosa.
A relação essencialmente mágica expressa pelo artista plástico, tanto na série de 20 xilogravuras, quanto nos desenhos e colagens, acaba por reafirmar toda a força criativa desta interpretação aberta do universo de Guimarães Rosa. E essa dimensão foi percebida, já no início da elaboração dos trabalhos, pelo jornalista e crítico de arte Walter Sebastião, um dos primeiros interlocutores a conversar com Arlindo Daibert, logo que o artista juizforano iniciou um estudo detalhado da obra de Rosa e passou a se enveredar no universo de GSV, entre o final de 1983 e o início de 1984. Walter Sebastião vê na incrível rede de significados elaborada por Arlindo a síntese de toda a sua inteligência no manuseio de signos/símbolos e destaca toda a sua habilidade artesanal.
Um artista capaz de deixar fluir uma forte crença na responsabilidade cultural de sua arte, Daibert sempre se recusou a ser um mero “produtor de imagens” e defendia como compromisso do artista a produção do saber. Assim, o desenhista não levou em conta o contexto pessoal do escritor mineiro e não fez uma releitura técnica de GSV. Na verdade, ousou criar sem limitações, tendo como ponto de partida o estímulo literário.
Ao vislumbrar no livro de Rosa uma síntese do Cosmos e não uma narrativa específica de uma região, o artista apontava para a grandeza do autor. E advertia: “Quem for ver procurando estereótipos regionalistas, não vai entender nada”. Afinal, o artista plástico conseguiu romper limites e conseguiu refletir sobre a linguagem do desenho. O desafio da criação nunca intimidou Arlindo Daibert, ao contrário, sempre serviu como estímulo.
O psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg vê nos nomes, a chave do enigma de GSV: “Guimarães Rosa era o enxadrista da erudição e, mais ainda, o mago que esconde–esconde pistas para aguçar a busca do leitor. Médico e curioso do alternativo, sabia que o rim e não o coração é o órgão da paixão no Oriente. Dia do rim, o personagem, ela no lusco–fusco do amor. Diadorim. Rio São Francisco, a imagem fálica do pau grosso em sua narrativa. Baldo, o personagem do másculo deslize. Riobaldo. O amor que não diz o nome”.
Segundo a professora, poeta e contista suíça, radicada no Brasil, Prisca Agustoni, a narrativa de GSV é de encaixes, não só em termos formais (linguísticos, sintáticos), mas também em termos da matéria narrativa, que é revelada ao destinatário aos poucos, através de remendos e fragmentos, de idas e voltas. O próprio narrador é duplo, sendo o Riobaldo-personagem das façanhas jagunças, de tom épico, e o Riobaldo do tom lírico, que fala e reflexiona sobre si mesmo. Apesar disso, os dois são “uma coisa só”, uma unidade que atravessa o romance como um todo encaixado, “tudo certinho”.


Caráter universal fascinante
A abrangência do romance é universal, as implicações filosóficas transcendem os limites geográficos e históricos da narrativa. Aí reside o permanente fascínio de GSV. O artista plástico apontava ainda o fato de Guimarães Rosa misturar, por exemplo, máximas e raciocínios do Zen-Budismo ou de Vedas, como referências que deram o caráter universal ao livro e acabaram despertando o interesse de estudiosos de outros países.
O que torna a obra de Guimarães Rosa tão fascinante, segundo Marília Librandi-Rocha, professora assistente de literatura brasileira e cultura naUniversidade de Stanford, nos Estados Unidos, é que a sua escrita é a reunião de muitas artes. Ao escrever, ele pinta, desenha e dança com as palavras que soam como música, o que faz com que o leitor se deleite com o fluxo poético de sua prosa, por isso mesmo intensamente erótica, pois afeta os sentidos do corpo e da mente ou, como ele preferiria dizer, do “coraçãomente”, como “belimbeleza” de muita arte. Além disso, é sempre um desafio para a leitura: sua plenitude de significados esvazia o sentido das muitas interpretações, escapando pelas vertentes, como a dizer que a ficção é sempre mais verdadeira que as muitas realidades a ela atribuídas: “Somente renovando a língua, pode-se renovar o mundo”.
Assim, ao iniciar o projeto de GSV, em 1983, Arlindo Daibert imaginava fazer 99 trabalhos, um número simbólico, ímpar, com 9, que é um número cabalístico. A intenção, revelada na época, era quase uma homenagem ao fascínio de Guimarães Rosa pelos raciocínios das filosofias ocultistas, pela alquimia, pelas filosofias orientais, que são aspectos que o escritor deixava vazar não só noGSV, mas em outras narrativas.
Despertava a atenção do desenhista a descrição de episódios e situações na obra de Guimarães Rosa que coincidiam com a descrição das cartas do Tarot. Todos estes dados serviram de referência para o artista na criação das imagens. Ao usar desde imagens populares até representações eruditas, Daibert driblou a tentação de uma simples tradução e ousou na interpretação e na criatividade.
Ao criar uma imagem ilustre com uma colcha de retalhos, ou outra com uma cara de Tarot, ou ainda um jagunço a cavalo com a representação de um centauro, Arlindo Daibert explorou a diversidade de situações sempre presente na obra de Rosa. E rompeu com todos os limites ao refletir sobre a linguagem do desenho e ampliar suas possibilidades. O artista sempre deixou muito claro que, ao vislumbrar seu trabalho — seja em desenho seja em pintura ou em colagem — como uma linguagem de encarar o mundo, aceitava o desafio da criação. Mas ressaltava que não se podia confundir um método de raciocínio com apenas uma produção de imagens.
A característica da linguagem gráfica de Daibert não poderia deixar de ser a criação da imagem, mas sempre como conseqüência e não como fim de seu projeto. E o artista plástico explicitava este ponto de vista: “O meu projeto não é criar imagens, o meu projeto é refletir sobre as coisas através das imagens”. Isso criava uma dinâmica capaz de não prender a sua criação a nenhuma fórmula gráfica, a nenhum estilo gráfico.
Arlindo Daibert ainda confidenciou: “Eu tenho um estilo de raciocínio e não um estilo gráfico. Os meus estilos gráficos se adaptam às problemáticas que eu estiver refletindo em cada momento”. Este era seu grande trunfo: um artista afiado e afinado com o seu tempo. Avesso a concessões e a limitações, sempre fazia da ousadia de dar um passo à frente o estímulo para continuar caminhando. Essa percepção mágica diferenciava Arlindo e está viva e presente em sua arte.


Um franco atirador que jamais erra o alvo
Na opinião do jornalista, crítico mineiro, e prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo: “Um franco atirador que jamais erra o alvo”. Essa definição sintetiza bem quem foi o artista Arlindo Daibert, lembrando que ele enfatizava a individualidade como condição imprescindível numa época de padronização e massificação da própria subjetividade. “Também foi um incentivador de projetos à sua volta, na qualidade de professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. E, como curador de exposições, alimentava o crescimento de valores novos, ao mesmo tempo em que reabastecia sua fonte para o desafio da criação”, assegura o jornalista.
Amigo particular e especial apreciador de sua obra, Ângelo Oswaldo sempre considerou Daibert um dos mais importantes artistas da contemporaneidade brasileira. “A morte dele interrompeu uma trajetória que nos levaria definitivamente a uma das obras mais significativas do século XX”. O crítico ressalta que o artista foi responsável por ter colocado Juiz de Fora como um centro de referência de vanguarda no cenário artístico nacional.
Ângelo Oswaldo aponta também a interação entre a literatura e a visualidade, ponto essencial da proposta artística de Arlindo. “Há um processo de integração entre a literatura e a visualidade - que ele soube resolver muito bem - em que a força da linguagem se transforma na grande energia autônoma da expressão visual. Ele conseguia extrair a poética da literatura e dar suporte à sua expressão visual, sem violentar a autonomia da imagem”.
A obra visual de Arlindo Daibert deve um tributo à literatura, mas é também autônoma, pois cria sua linguagem própria a partir de símbolos literários. “Dentro das artes plásticas brasileiras, talvez seja a obra mais intelectualizada, porque Arlindo trouxe para o campo da criação plástico-visual toda a sua rica cultura nas áreas de literatura, lingüística e filosofia”.
Daibert abordava de maneira singular, como desenhista, pintor, gravurista, criador de objetos e instalações, obras de autores como Mário de Andrade, Murilo Mendes, Guimarães Rosa e Lewis Carroll, entre outros. Além do legado artístico, em termos de acervo, Arlindo deixou um trabalho muito importante para a cultura de Minas e do Brasil, contribuindo, de modo especial, para a revalorização da obra literária de Murilo Mendes no país e para a vinda, de Portugal para o Brasil, de parte significante do acervo de desenhos e de pinturas da coleção do poeta, hoje abrigados no Museu de Arte Murilo Mendes, da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Ao celebrar o cinquentenário da edição de GSV, em 2006, a editora Nova Fronteira lançou três novas edições da obra: uma versão popular; uma edição tradicional, que abriu a coleção Biblioteca do Estudante, na Bienal de São Paulo, em março de 2006; e uma edição comemorativa com tiragem de 5 mil exemplares e projeto criado pela diretora teatral Bia Lessa. Este livro chegou ao mercado acompanhado de um catálogo da exposição sobre a obra, que Bia Lessa organizou também em março de 2006 no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo , além de trazer um CD multimídia, com imagens e sons do sertão descrito pelo escritor Guimarães Rosa.



* * *
Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e produtor cultural. Escreve em jornais de Portugal e do Brasil. E-mail: jorgesanglard@yahoo.com.br

6.1.12

MÚSICA DA ÍNDIA NO CCBB DE 11 A 14 DE JANEIRO



Antes de cair na folia do Carnaval, um bom programa é mergulhar na milenar música indiana para purificar o espírito. Uma ótima oportunidade se abre agora no CCBB que além da mostra da arte picrórica da Índia traz também sua música e dança em grande estilo. Os espetáculos serão oferecidos do dia 11 ao dia 14 de Janeiro. Leia o flyer acima.
(Clique na imagem para ampliar e VER melhor)

4.1.12

Desenho para Camiseta que fiz pro BLOCO BAFAFÁ - Carnaval 2012


(Clique na imagem para ampliar e VER melhor)

2.1.12

Chora Baião de Antônio Adolfo - melhor disco do ano pelo site/revista The Latin Jazz Corner


O disco "Chora Baião" de Antonio Adolfo é eleito melhor álbum do ano pelo site/revista The Latin Jazz Corner e é considerado o melhor em outras 4 categorias (uma já super- celebrada aqui) veja no blog http://www.chipboaz.com/blog/