18.10.13

Vinicius, 100 anos de amor à vida

Este texto de Jorge Sanglard foi publicado originalmente no jornal As Artes Entre as Letras, em Portugal. Se não tivesse se encantado há 33 anos, num 9 de julho de 1980, Vinícius de Moraes, nascido  em 1913 no Rio de Janeiro estaria celebrando um século em 19 de outubro de 2013. Como o poetinha, compositor, jornalista, diplomata e dramaturgo brasileiro não está presente fisicamente entre nós, a saída é reverenciar sua memória com o legado deixado por um dos intelectuais mais irreverentes que o Brasil já produziu. Se a criatividade de Vinicius não fosse tão ampla, apenas suas parcerias musicais com Tom Jobim já teriam valido a pena.    Ao lado do maestro, compositor, arranjador, pianista e cantor, Vinicius compôs preciosidades como “Garota de Ipanema”, “Chega de saudade”, “Insensatez”, “A felicidade”, “Eu sei que vou te amar”, “Se todos fossem iguais a você”, “Canção do amor demais”, “Ela é carioca”, “Água de beber”, “Amor em paz”, “É preciso dizer adeus”, “O morro não tem vez”, “Praia branca”, “Só danço samba” e muito mais. Enfim, Vinicius e Jobim criaram feixes de luz para além de seu tempo e encantaram gerações com o melhor da Música Popular Brasileira a partir da segunda metade do século XX.    Vinícius publicou a peça teatral "Orfeu da Conceição", em 1954. Em 1956, iniciou a parceria vitoriosa com Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, justamente nessa peça, quando Tom foi convidado para criar a música. Em 1957 e 1958, o diretor francês Marcel Camus filmou no Rio de Janeiro "Orfeu do Carnaval" como " Orfeu Negro" e o filme conquistou em 1959 a Palma de Ouro no Festival de Cinemas de Cannes e o Oscar de Melhor Filme estrangeiro.     
1958 ficaria marcado definitivamente na história da MPB com o surgimento da Bossa Nova. A base do movimento foi o LP "Canção do Amor Demais", gravado por Elizeth Cardoso, uma das mais importantes cantoras brasileiras. A dupla Tom e Vinicius assinou pérolas como a faixa título, além de "Chega de Saudade", "Luciana", "Estrada Branca" e "Outra Vez", e abriu alas para a Bossa Nova, projetando ainda o violonista João Gilberto e sua batida inovadora.    Uma década depois, no fatídico 1968, quando realizava apresentações musicais em Portugal, Vinicius foi atingido pela ditadura militar brasileira com o famigerado AI-5, que o afastou da carreira diplomática. Três décadas depois, Vinícius ganhou post mortem a anistia e, em 2010, ganhou a promoção póstuma ao cargo embaixador do Ministério das Relações Estrangeiras. Nada mais justo para quem, em vida, foi um autêntico embaixador das boas coisas do Brasil mundo afora. Vinicius semeou com sua obra bons ventos que continuam a soprar e a inspirar. Feliz é o povo e o país que conseguem produzir e se encantar com Vinicius de Moraes e Tom Jobim.       Jorge Sanglard é jornalista, pesquisador e produtor cultural. Escreve em jornais de Portugal e do Brasil. E-mail: jorgesanglard@yahoo.com.br

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