11.11.07

68 Criou uma Cultura? Ou Uma Cultura criou 68?

(Continuação da resenha sobre livro de Mark Kurlansky 1968- O Ano que Abalou o Mundo)O autor mostra que não foi um ano apenas conturbado e crítico em que foram assassinados Martin
Luther King e Robert Kennedy, mas que inventou uma nova cultura além das palavras de ordem. O que ele não cita é o seu lado negativo
ao importar um negócio da China que se chamava “autocrítica”, instrumento “dialético” usado para silenciar oposições internas em
movimentos subterrâneos. Micro-poderes, diria Foucault, um dos que marcharam com os jovens por Paris e que Kurlansky esqueceu. Uma
Paris onde o autor observa que nunca se praticou tanto o esporte da conversação.

Enquanto isso, na Califórnia, muitos procuravam as chaves das portas da percepção “viajando”, ouvindo música psicodélica ou de protesto
em alto volume: Joan Baez, Joni Mitchell, Cream, Jefferson Airplane, Gratefull Dead, Jim Morrison, Country Joe and the Fish, entre
outros. Jovens que no início criticaram o uso das guitarras elétricas por Bob Dylan, mas acabaram seduzidos pelas distorções desse
instrumento e beijaram os céus com Jimmi Hendrix, que já tinha incendiado sua Fender no festival de Monterrey em 67, deixando o
público de queixo caído. Essa talvez pode ser uma das mais graves omissões do livro.

Enquanto isso, atletas negros eram punidos por erguer o punho cerrado em homenagem aos Black Panthers, nas Olimpíadas do México,
pouco tempo depois do massacre de estudantes pelas forças policiais de Díaz Ordaz. No território das artes pictóricas, criou-se espaço
para o grafismo combatente dos affiches feitos com a técnica de silk screen que, com muita ironia, invadiram os muros das cidades junto
com frases antológicas dos chamados grafites, tais como “Decreto um permanente estado de felicidade”, “Seja realista, peça o
impossível”, “A imaginação no poder” ou “Virgindade dá câncer”. Foi a época do mimeógrafo, com seus estênceis complicados de
manusear, que produziam os panfletos que informavam o cardápio da desordem do dia. O mundo da literatura também produzia seus
frutos e engajamentos: de Norman Mailer, Arthur Miller, William Burroughs ao roteirista Terry Southern. Época da famosa revista
Ramparts, porta voz das interpretações da nova esquerda (New left). Peturbações também incomodaram a Feira do Livro de Frankfurt. A
salinha escura do cinema de repente se acendeu e assistiu ao fenômeno do cineclubismo, não citado por Kurlansky. Por outro lado, o
Festival de Cannes foi fechado pelos cineastas Godard e Truffaut, entre outros.

2 comentários:

Anônimo disse...

Liber, aqui vc fala da guitarra elétrica e da tv . talvez passa por aí mesmo. industrialização, as pessoas construindo a cidade e deixando o campo. reformas e revoluções. zé

LIBERATI disse...

A civilização e sua tendência para o litoral e para a construção de megalópoles. Modernidade destrutiva.
São milhões em movimento, sempre acontece um esbarrão.
Um abraço