27.11.07

Minha vizinha Chavista ataca a Portelinha


Confesso que tenho fugido da minha vizinha chavista. Tenho usado várias estratégias e táticas. Muitas vezes finjo que sou um velho surdo (o que não está muito longe da verdade). Quando é minha mulher que atende o interfone, ela diz que eu não estou, que fui comprar pão no açougue, coisas assim absurdas para ver se ela desiste. Outro dia , a patroa exagerou, disse que eu viajei para Miami, onde fui discutir com Silvio Santos a nova programação que acabou com aqueles seriados americanos sensacionais. Substituiu os videntes , médiuns e sobrenaturais por aquele monte de meninas sem roupa pedindo para o pobre insone ligar para um número de celular de Belo Horizonte e gastar suas parcas economias. Mas nesta manhã, não tive jeito de escapar, ela tocou a campainha do meu apartamento. Me pegou de sunga, pronto para dar um mergulho na piscina do condomínio.
-Não adianta o senhor tentar escapar do nosso movimento!
Que movimento? Perguntei , tentando achar um lugar para minha toalha e o bronzeador.
Ela sentou no sofá e me indicou uma cadeira, para que eu sentasse e ouvisse sua explanação. Para variar não respondeu minha pergunta e já foi detonando:
-Nosso movimento já conseguiu um grande avanço. Nossa parlamentar Chavista deu o primeiro sinal dos novos tempos lá na nossa pátria irmã, a querida Venezuela. Invadiu aquela emissora de TV l e deu uns catiripapos no apresentador que escreveu um livro esculachando a pessoa dela. É isso aí, direto ao assunto, sem processo, sem julgamento, limianares- microfone no cocuruto, tapa na cara, óculos no chão!
Ela me disse em seguida, que estava organizando o seu" Comando pela Libertação da Globo". (o CLG)
- Quero que bote isso no seu grogue. (Para quem não está acompanhando esta história desde o início, grogue significa blogue).
-Eu e os aposentados brizolistas da pracinha do dominó vamos invadir o Jornal Nacional, tirá-lo do ar e implantar uma grade de novelas em tempo integral. Novelas de época, novelas educativas, sobre o companheiro Prestes, o comandante Che, o iluminado Brizola...só histórias edificantes.
-Pelo amor de Roberto Marinho , digo Deus! Exclamei. Não façam uma coisa dessas, é uma loucura! Aqui não é a Venezuela, e o Lula não é o Chávez!
- Será? Ela me disse. Depois de aprovar a CPMF, ninguém segura o nosso Lulinha! Vão ter que engolir o terceiro mandato do "sapo barbudo" como dizem meus companheiros de bombacha lá da pracinha!
Tentei botar um pouco de teoria na conversa: - Temos que observar as circunstâncias históricas , culturais e ecômicas que vivem os dois países. Nosso petróleo , por exemplo é uma ficção, o deles é real. A Venezuela é um membro da OPEP de fato....
- Falando em ficção, e o afastamento do Agnaldo Silva? Ela me cortou, sem ligar para meus argumentos.
-Ele pensa que está enganando quem? Onde já se viu roteirista entrar em férias no começo da novela? Ele foi é para a geladeira. A novela está perdendo pontos no Ibope. Com esse negócio de ficar defendendo o ensino privado, atacando estudantes e professores como se fossem um bando de desocupados , fofoqueiros inescrupulosos. A tal da "Portelinha" virou um Partido. O Partido do Agnaldo. E história que é bom, nada, só críticas e ressentimentos que ele estava botando no ar. Nunca vi uma novela mais feia na minha vida! Tudo é feio lá! Os tipos humanos, as idéias, as caricaturas, a defesa da truculência, as farpas dirigidas ao nosso Presidente-Obrero....Não sobra nada. Nem aquela boba que o Ferraço deixou sem um tostão lá no sul e que se tornou classe média como caixa de supermercado de São Paulo. Nada contra as caixas de supermercado. Mas eu pergunto: - economicamente é possível ascenção social com o salário delas, com os horários delas? Só em Miami, onde se refugia esse noveleiro que perdeu a mão. Cadê o bom Agnaldo dos velhos tempos?
- E as mulheres, retruquei, as meninas da Portelinha são lindas, cheias de charme...
-Corta essa, seu machista! Ela me interrompeu com o dedo em riste.
Nessas alturas, eu já estava pensando em gritar por socorro, quando minha mulher chegou com as compras e o menino que veio empurrando o carrinho entrou na conversa.
- Tá ligada, ô mais velha?
Ele se dirigia à minha vizinha chavista.
- Eu bem que ouvi o lero de vocês.Não esculacha não, tem umas colega, lá do "super" tão se dando bem. Tem umas com estudo superior, tá ligada? Estudam no 12º andar, tá ligada? E as "mina" da Portelinha batem um bolão...
Concordei com ele,tá ligado? E até ofereci um café. Disse que tinha visto umas matérias do Jornal Nacional que mostravam que o pobre pode melhorar de vida se economizar. Falei das dicas do Fantástico para quem quer arrumar emprego, do ensaio sensual do Extra com uma das musas da Favela Global...
Foi aí que senti um sapato bater na minha testa, o menino do supermercado no chão.. Minha vizinha entrou em "plena atividade chavista". De repente a Portelinha e a Venezuela mudaram para a sala do meu apartamento.Minha mulher que tem curso de meditação, entrou em alfa e chamou o porteiro pelo interfone com um grande OM, interrompendo o saboroso papo que ele estava tecendo com aquela moreninha que enlouquece a rapaziada que cuida do edifício. Ele veio com o segurança e levaram a velha esperneante para a pracinha, onde fiquei sabendo que ela convocou uma assembléia extraordinária.O menino do supermercado, dizem sempre evita os caminhos que passam por aquele lugar altamente politizado e mais perigoso que a cracolândia, chamado agora de Praça Vermelha...Os tempos do dominó acabaram!

6 comentários:

Anônimo disse...

:)))

Esta sua vizinha do 'lencinho-borrrdado-verméio' é ótima.

LIBERATI disse...

Cara Tinê, ela esta exagerando, mas o Agnaldo também tem blogue e ao que parece também exagera, onde se viu tirar férias e ficar mandando ver no blogue?!
Descanse um pouco, rapaz!

Anônimo disse...

Liberati, está muito engraçado! Grogue. Dá idéia a ela, 'tá ligado, de erigir estátua de Marx. Qual seria a pose? Sentado ou em pé? Afinal filósofo de gabinete era Hegel. zé

LIBERATI disse...

Caro Zé, essa minha vizinha vai acabar tomando o JN da Rede Globo. Tenho de alertar o Bonner. Ela implicou com aquela mecha dele.

Anônimo disse...

as brancas mechas é sinal de 'contemptus mundi', de modo geral. zé (não sou contra a ppriedade privada mas contra a mudança contínua dos meios de produção ocasionada pelas máquinas p.ex. acabou a máquina fotográfica de papel)

LIBERATI disse...

Máquina fotográfica de papel era sensacional. Certas coisas não deviam mudar. Concordo plenamente com você. Agora a propriedade não é propriamente um roubo, mas um butim ou o fruto da astúcia de alguém que chegou antes e cercou a coisa em si.
grande abraço