25.12.07

Fragmento do dia

"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar meu nascimento ou minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco."
(Machado de Assis na abertura do primeiro capítulo - Óbito do Autor em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" )
Nota da Redação: Um dos maiores romances brasileiros, prá lá de moderno . E dizer que foi publicado em 1881!
Machado morreu em 1908, portanto em 2008 a gente comemora os 100 anos de sua morte. Comemorar morte é meio estranho, não é não? Melhor lembrar. Por isso "Mémórias Póstumas" é o Fragmento do dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

vulgarmente coloca-se o ano da morte na frente e a tampa do caixão é vulgarmente um novo nascimento : Machado está com a língua solta. Moisés escrevendo o Pentateuco é uma bela cena : escreve como viu no céu no monte Sinai. zé

LIBERATI disse...

Moisés é o Charlton Heston,nos "Dez Mandamentos", não é?
Preciso ler essa passagem na Bíblia, interessante ele ter escrito algo póstumo. Gosto dele abrindo o Mar de Gelatina na telona. Machado é 10.